De volta a Los Angeles para se reencontrar com a esposa Holly (Bonnie Bedelia) e os filhos, John McClane (Bruce Willis) se vê numa enroscada quando visita a empresa em que ela trabalha na mesma noite em que poderosos bandidos decidem assaltar o local, liderados pelo cruel Hans Gruber (Alan Rickman)...
Os heróis dos filmes de ação em geral são homens extremamente inteligentes, fortes e aparentemente infalíveis, capazes de enfrentar exércitos inteiros e tomar decisões em questão de segundos acertando em praticamente todas elas. Esse esteriótipo criado talvez com John Wayne e John Ford em "No Tempo das Diligências" e explorando ao máximo em produções dos anos 80 como "Comando para Matar" com Schwarzenegger aqui felizmente passa longe. John McClane que, além de ser uma pessoa comum que deseja apenas rever a família distante, toma decisões equivocadas e sofre bastante antes de conseguir salvar sua esposa e a própria pele. E ainda que, no fim das contas, tenha o mesmo sucesso em sua missão que os outros heróis do gênero, a forma como o faz é que torna o personagem mais humano e o aproxima do espectador...
Baseado no livro de Roderick Thorp, o roteiro de Jeb Stuart e Steven E. de Souza apresenta apenas as informações indispensáveis e cuidadosamente evitando a exposição prejudicial e levando-nos a crer que John McClane é um detetive inteligente e competente de interromper a ameaça terrorista. Dessa maneira, na apresentação casual de John a Takagi (Shigeta), o diretor da Nakatomi, é mencionado brevemente que "sete andares continuam em construção", informação imprescindível e usada por John logo após o começo dos ataques para se refugiar. Entretanto, a amizade desenvolvida com Al (Vel Johnson) revela a fragilidade do detetive na busca de um relacionamento concreto o que inevitavelmente, é o seu ponto fraco. Com um roteiro simples e eficiente, o diretor John McTiernan acerta ao manter um clima palpável de tensão, quebrado apenas pelas reclamações constantes do mal-humorado protagonista e pelas divertidas aparições do motorista da limusine Theo. (Clarence Gilyard Jr.) Este tipo de alivio cômico é sempre bem vindo em filmes de ação, servindo para quebrar um pouco a tensão que domina a platéia.
Auxiliado pela montagem de John F. Link e Frank J. Urioste, o diretor estabelece um ritmo dinâmico que torna a narrativa ainda mais empolgante, engrenando logo aos 23 minutos de filme, quando os bandidos invadem o local, prendendo de vez o espectador. McTiernan conta ainda com a agitada trilha sonora de Michael Kamen, que aumenta a adrenalina da platéia, e com o excelente design de som, que torna tudo mais real, além da fotografia sombria de Jan De Bont (que viria a dirigir “Velocidade Máxima”), que aproveita o ambiente fechado e a trama noturna para criar um visual sufocante, refletindo a angústia do protagonista.
E é claro também, em uma fita como essa não poderia faltar cenas de ação de altíssima qualidade. Um fator que pra mim é primordial e que me conquistou ainda mais, é o fato de todas as cenas serem criveis, orgânicas e verossímeis. Lógico que tem as clássicos tiros a queima roupa que os bandidos erram, mas com essas exceções o restante da maior parte do tempo as proezas de McClane são convincentes. Quando ele explode parte do prédio ou quando ele pula do alto do edifício e escapa por pouco da morte tiram o fôlego do mais cético dos telespectadores. Nem mesmo os excelentes efeitos visuais soam exagerados, surgindo sempre de maneira persuasiva e apenas quando realmente necessários. McTiernan soube criar momentos de pura tensão e adrenalina com elegantes movimentos de câmera destacando elementos e dando foco ao palco de toda a película o imponente Nakatomi Plaza.
A trama do filme não seria convincente se não houvesse um vilão assustador e impiedoso e Alan Rickman teve as manha. Criando um sotaque alemão irreparável, na pele de Han Gruber, Rickman desenvolve uma entonação pausada, fria e calculada para seu personagem. Frio e calculista, Hans previne a desnecessária vingança de um de seus asseclas sob a orientação de que os tiros disparados chamariam atenção desnecessária, prezando pelo bom andamento do plano e revelando-se prático e determinado, características que o tornam mais perigoso. Inevitavelmente, o primeiro encontro de John e Hans, ligeiramente deslocado na narrativa (alguém se perguntaria, por que Hans estava ali e não um de seus capangas?), apresenta o desconforto e atrito fundamentais, acentuados pelo excelente uso dos planos inclinados, na despretensiosa conversa travada por eles. Revelando-se atento a detalhes, na ordem de atirar nos vidros, e dissimulado ao se fazer passar por um dos funcionários do prédio, Hans é o inimigo a altura que faz "Duro de Matar" ser um filme tão bom.
Alan Rickman, que cria um vilão bastante respeitável com seu olhar direto e seu tom de voz sereno, que denota um autocontrole assustador. Cruel e inteligente, seu Hans Gruber mostra que fará o que for preciso para atingir seu objetivo quando mata a sangue frio o executivo Takagi (James Shigeta), presidente da empresa assaltada pelo grupo, numa cena impressionante e de forte impacto. Outra cena impactante é aquela em que um corpo cai no capô do carro do policial Powell. Interpretado por Reginald VelJohnson, Powell estabelece excelente química com McClane, o que só ressalta o aspecto humano do protagonista, especialmente quando este se comove com a triste história do sargento, que atirou por engano num menino de 13 anos.
E chegamos então ao ponto alto do filme: Bruce Willis. Vindo de seriados da TV e um ano antes tendo estrelado "Encontro às Escuras" com Kim Basinger, Willis foi perfeito para o papel. Ao contrário dos tradicionais heróis de Hollywood, McClane é uma pessoa comum, passível de erros, que reclama constantemente e não quer estar naquela situação. Apesar da irritante atitude da policial que atende o chamado de McClane, os empecilhos que surgem em seu caminho são críveis, o que colabora para que o espectador se envolva com a trama. Para John, mais importante do que impedir aquele assalto é conseguir sair vivo e salvar sua esposa. O policial simultaneamente durão e humano que é John McClane, se torna ainda mais carismático graças ao seu divertido mau humor.
O filme em 1989, angariou indicações nas mais variadas premiações mundiais e na mais famosa (O Oscar, é claro) teve quatro indicações nas categorias de Melhor Efeitos Visuais, Melhor Montagem/Edição, Melhor Som e Melhor Efeitos Sonoros. Não levou nenhuma estatueta, mas faço uma observação na minha modesta opinião o filme poderia ter sido indicado para mais dois Oscar: Melhor Diretor e Melhor Filme. Obviamente que com o sucesso de crítica e público o filme renderia uma continuação, e até a data desse texto já foram feitas 4! Todas boas películas, mas dispensáveis é claro...
Infelizmente, alguns tropeços pontuais são inevitáveis, e a presença de dois agentes do FBI que ao andar de helicóptero acham que estão no Vietnã é de uma infelicidade tremenda. Bem como o reaparecimento de um terrorista alemão nos segundos finais (ele estava pendurado, aparentemente morto e enforcado), apenas para justificar a superação de um medo de um policial. Mas, por tudo o que representa para o cinema de ação contemporâneo, felizmente esses erros passam em branco, permanecendo apenas a imagem da alva camiseta de John McClane acumulando sangue, suor e sujeira na criação de um rabugento, astuto e mítico herói. Ao lado de "O Profissional" os melhores filmes de ação da história na minha opinião, "Duro de Matar" é pedida certa para amantes da 7ª arte....
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