"Educação" recebeu forte atenção na sua época de lançamento, e isso ocorreu devido a um nome, Nick Hornby. Hornby, fenômeno editorial que teve dois romances transpostos para a tela, o sempre citado “Alta Fidelidade” e “Um Grande Garoto” é sinônimo de sofisticação. Além desses, o inglês teve outros três livros transpostos para a tela e recentemente escreveu o roteiro para o filme "Livre", estrelado por Reese Witherspoon. Para essa fita, Hornby parte da autobiografia da jornalista inglesa Lynn Barber e entrega até o momento seu melhor trabalho para o cinema, indicado a várias premiações, inclusive ao Oscar. O ano é 1961 e conta a história de Jenny, jovem que sofre com a repressão e a submissão que a sociedade imprime para as mulheres daquela época. Jenny é estudiosa e possui o objetivo de ingressar na renomada universidade de Oxford e possui um comportamento imposto pelos pais totalmente rígido e disciplinado, mas Jenny tem seu mundo totalmente alterado após conhecer o sedutor David, homem mais velho, que se mostra um perfeito cavalheiro e que, aparentemente, tem intenções honestas e honradas, mas não tão bem assim.
O conservadorismo na época era incessante e a moral da família precisava ser preservada a todo custo. Inicialmente, os pais de Jenny logo se mostram adversos ao envolvimento da filha com um homem mais velho, isso ia totalmente contra tudo o que era considerado certo para o período retratado, mas o charme, elegância e requinte do rapaz, faz com que Marjorie e Jack façam vista grossa para o relacionamento da filha com o homem misterioso que apresenta para ela um mundo glamoroso e cheio de magnetismo, onde é impossível não se apaixonar. O enredo retratado na tela é fantástico, graças a habilidade de Hornby em conseguir adequar sua configuração de escrita naquele ambiente. Sua pegada pop é retratada em meio a 'beatniks', casas de jazz, drogas, arte e expressões literárias. Hornby conjuntamente enfatiza isso na contemporaneidade de Jenny, sua linguagem própria seu sempre bom humor e sua espontaneidade em harmonia com esse conjunto de características. Podemos até comparar e fazer uma analogia de Jenny com a personagem "Juno", do filme de mesmo nome.
Ao lado de Lars von Trier, Susanne Bier e Thomas Vinterberg, Lone Scherfing fez parte do Dogma 95, movimento realizado na Dinamarca com o intuito de estabelecer regras de filmagem com maior realismo possível e menor teor comercial. Entre outras regras as filmagens deveriam ser feitas no local, sem separação de som, sem iluminação especial e com a câmera sempre na mão. Scherfing dirigiu dois filmes participantes desse biótipo que foram "Italiano para Principiantes" e "Meu Irmão Quer se Matar", porem ambos sem a qualidade de outras obras do gênero. E indo contra a maré do movimento, a cineasta optou por migrar para outros mares, se aventurando na Grã-Bretanha. Scherfing utiliza de um certo anarquismo estrutural nos seus trabalhos para conduzir certos padrões de fitas clássicas e consegue atingir certo êxito nesse quesito. Aqui, a diretora realiza o trabalho mais contido de sua carreira. Possui seu charme, mas nem é possível encontrar todo a veneração e qualidades alardeadas pela crítica em sua época de lançamento. O filme recebeu indicações nas maiores e mais importantes premiações ao redor do globo incluindo três no Oscar e oito no BAFTA.
O filme conta com uma reconstrução de época fantástico, com uma direção de arte impecável. As casas de show e residências são extremamente fieis a época retratada, note como os interiores das residências possui objetos de decorações veredictos e bem condizentes com os ambientes propostos. Os carros também são exemplares autênticos dos anos 60 e muito belos. Outro ponto positivo do longa são o figurino que nos remete ao ambiente com exatidão e bom gosto. Os conjuntos femininos com luvas, leques e vestidos são de um realismo incrível e ternos e suspensórios se misturam com a fumaça inebriante das cigarrilhas e charutos se perdendo nas galerias de arte e leilões. A trilha sonora do sempre competente Paul Englishby, responsável por trabalhos na TV, teatro e filmes como "If Only" e "Animal", aqui exerce um trabalho primoroso ao executar composições deslumbrantes e fascinantes e de uma leveza cativante. Beatles e o 'yeah-yeah-yeah' estão logo ali adiante. A esperança de uma sociedade mais aberta e menos machista pairava no ar, isso tudo junto com os lançamentos de 'nightclubs' e a explosão da minissaia.
Mas não tem jeito, o maior acerto do longa é o elenco. Carey Mulligan, que interpreta Jenny, está excepcional no papel principal. Muito inteligente e antenada no mundo artístico, a personagem se vê fascinada por um homem culto e cativante. Sua rebeldia, por assim dizer, parece totalmente acertada mediante as expressões tristes e vazias, com ares de inveja, das mulheres que a desaprovam, a grosso modo podemos dizer que Jenny poderia ser considerada até mesmo promiscua por alguns. Fato interessante que Mulligan, na época com 25 anos, consegue passar a impressão de realmente possuir 16 anos de idade. Fisicamente e com alguns traços de uma Katie Holmes mais aprimorada, menos dramática e fresca, ela oscila entre os tais dos bons costumes e uma indignação com a condição imposta para as mulheres na época. Vemos ainda uma até então desconhecida Sally Hawkins como amiga de Jenny e uma capacitada Cara Seymour como a matriarca da família principal. A sempre bela Rosamund Pike está hilária como Helen e Dominic Cooper exala carisma e é a personificação exata de um 'bon vivant'.
Para o arrebatador David, temos o excelente Peter Sarsgaard que hoje com mais de quarenta anos, permanece desconhecido pelo grande público. O ator exibi uma magica faceta de um personagem que instiga e graceja, um homem de boas maneiras e bem articulado, com linguajar sofisticado e culto e de inexequível envolvimento. David vai aos locais certos e conhece as pessoas certas, mas um deslize da fita é que fica claro que Jenny se apaixona mais pelo estilo de vida do pretendente do que pelo homem em si, o que brocha um pouco, inclusive a cena do que seria a primeira noite dos dois. Um convite de viagem para a França é a cereja do bolo, visto que a jovem admira tanto a cultura do País e ela enxerga nele não só seu passaporte para a terra da Torre Eiffel, mas também para sua independência. O desgosto fica a cargo do mal desenvolvimento para a personagem de Emma Thompson que vive a diretora da escola onde Jenny estuda. Thompson surge como um pé no saco ao invés de um expoente para a jovem e Olivia Williams, a professora Stubbs que poderia ser uma grande amiga acaba surgindo metódica e sem sal, uma pena visto a qualidade artística das duas atrizes.
O que da um banho de agua fria no espectador é o final abrupto, apressado, moralista e preguiçoso. Parece que Hornby e Scherfig ou bateram de frente suas ideias ou não souberam como encerrar a trama. As mesmice do enredo e um encerramento com diálogos esdrúxulos e repetitivos quase põe tudo a perder. Mas o saldo final é positivo, graças a um afiado elenco e boa parte técnica. A película possui fluidez e toques de humor elegante e genioso. O que embriaga Jenny não é o álcool ou o tabaco, mas sim conversas inteligentes em mesas de bares e pub's de jazz e blues. A fita brinca com o título "Uma Educação", que seria referente a educação acadêmica de Jenny e a educação da vida, que ela aprende em meio ao convívio com David. Não é obra-prima, mas merece ser conferido pelas suas particularidades. A atuação do sempre genial Alfred Molina já vale a sessão...
Ta com tudo, meu amigo!
O Lucas tá produzindo texto por aracado!