Imaginação.
Diz um provérbio que "a imaginação é a grande força a que geralmente a sociedade não atribui valor suficiente." Deve ser a resposta para aqueles que depois que crescem, usar a imaginação, sonhar ou ver as coisas com outros olhos, são ações envelhecidas e caretas. Há pessoas que não se afeiçoam às coisas ligadas à imaginação. Mas existe outro modo de ir à lugares que a realidade não pode nos levar? A imaginação não tem limites, e por vezes é mais confortante que a realidade. Imagine acordar de um sonho em que você fez tudo o que queria fazer, foi lugares inalcançáveis, casou com a Marilyn Monroe, criou o Facebook, ou assistiu de camarote um mega Show dos Beatles. Quase impossível de coisas como estas acontecer um dia, mas imagina se nem sonhar com isso fosse possível. E tem sonhos que parecem tão reais...
A infância é o período mais importante para estruturar tudo isso. Na verdade, a infância é a época mais preciosa da vida. A época em que a imaginação borbulha, e aquela vontade ou certeza de que tudo possa ser real é algo que nenhum dinheiro compra. Peter Pan é um dos responsáveis em extrair essa essência. Uma fábula com mais de um século de existência e até hoje é respeitada. E esta Obra-Prima que teve seu merecido reconhecimento da crítica, além de compor a construção da história de Peter Pan, aflora de maneira inocente, doce, simpática e como não poderia deixar de ser, emocionante, a importância de nunca deixarmos morrer aquela criança que existe dentro de nós. Aquela que batalhava com exércitos, que derrubava monstros, que pilotava o navio mais rápido do oceano, aquela que podia voar, etc.
James M. Barrie, interpretado por Johnny Depp, que desta vez apenas cumpre com seu papel nos entregando uma atuação convincente, mas nada de espetacular, sem inspiração para sua nova peça, conhece a família Davies, cujas crianças lhe concederam tal inspiração para escrever sua clássica história do menino que não envelhecia e podia voar. Os personagens são fortes, os diálogos inspiradíssimos, e as alternâncias de fábula e realidade dão todo um sentido para a mensagem da obra. Barrie se depara com crianças amarguradas, aprisionadas em mundos sobrecarregados que não deixavam suas mentes dispersarem. O menino Peter, o mais "problemático" e mais "crescido", (de onde surgiu o nome Peter Pan), via tudo com uma concepção mais amadurecida. Dizia que os adultos mentiam, e que de nada adianta escrever histórias que nunca se concretizariam. A direção de Marc Forster, que anos mais tarde viria a dirigir o subestimado O Caçador de Pipas, revela-se inspiradora, nos transportando para as fábulas que as crianças viviam. Barrie acreditava nas crianças, e sua vontade de vê-las progredindo, libertando suas imaginações tornavam o filme bonito e extremamente inspirador. Nessas convivências, a história se formava dentro da mente de Berrie, como quando eles brincam com a pipa e na ponta da rabiola a câmera focaliza o badalar de um pequeno sino (de onde surgiu a Sininho). Ou quando ele se depara com as crianças pulando em cima da cama, sua mente as vê voando pela janela.
Antes de tudo, preparem os lenços e os corações porque Em Busca da Terra do Nunca é talvez o maior arranca-lágrima do seu ano. Não há nada forçado. Os mais belos diálogos ou o mais simples sorriso de uma criança que nunca havia ido ao teatro foi capaz de me arrancar lágrimas e só terminar no fim da sessão. Uma senhora ao fim da peça diz que se o marido dela estivesse vivo teria adorado. Crocodilos, Capitão malvado, Tic-Tac, fadas, ilha, navios. Percebe-se que no início da peça as pessoas estavam achando uma palhaçada aquelas fábulas mirabolantes, mas quando viram as crianças se divertindo, e seus olhos brilhando, cederam e aplaudiram juntos. Repleto de momentos reflexivos, puros e encantadores, Em Busca da Terra do Nunca é daqueles feel good movies que faz pensar, que nos faz acreditar, e principalmente nos faz refletir sobre essa pureza e essa criança que está escondida lá no nosso íntimo e que não quer morrer. A Terra do Nunca existe se você quiser que ela exista.
Num filme o que importa não é a realidade, mas o que dela possa extrair a imaginação. (Charlie Chaplin)
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