Grande drama, forte, bem dirigido, bem filmado, mas que não teria força alguma se não demonstrasse aquilo que mais acerta: que o passado não esta tão distante de nós, que certos cantos da sociedade se maqueiam aos novos tempos, não deixando, consorte, de manter o fio da meada que o mantêm atado aos costumes de um passado muito distante. O convento de The Magdalenes Sisters, nesse sentido, serve para mostrar que o enclausuramento que mantia o individuo preso a um vinculo "familiar"- vide a forte presença da palavra irmã, até hoje por sinal - na Idade Média é algo ainda praxe na realidade atual, apenas mascarado por novos objetivos.
Mantendo a película com tanta força e presença narrativa, está a mão firme e consisa de Peter Mullan, que transforma seu filme em uma crítica contudente ao gregarismo opressor dos conventos, em busca dessa tão almejada "liberdade plena" do indivíduo. Seu único deslize, foi ter estendido o final a uma costumeira narração da vida das personagens pós-convento, o que quebra a possivel profundidade psicológica que a obra poderia alcançar com um final sem explicações do tipo. Passaríamos assim, a imaginar, por conta própia, o provável destino de cada uma daquelas jovens, o impacto de tal esperência durante os 5 anos de enclauzuramento no covento.
O Roteiro do mesmo Mullan é baseado em fatos reais, consiso, bem escrito, é favorecido pela calma como foram filmadas algumas tomadas, o que ressalta o sentido de "falta de esperança", ou serve para mostrar o tempo no mosteiro, diferente do nosso tempo corrido, capitalista, aquele tempo também mantém um vínculo medieval. Outra proposta bem elaborada por Mullan, foi o fato de aquele mosteiro ser um mosteiro corretivo de jovens "desviadas", e nesse sentido, a grande habilidade do diretor é que a sociedade cria suas regras e fizeram daquelas mulheres as vítimas de sua crueldade. Muitas estão ali sem nada ter feito, outras, todas, porém, são acusadas de serem libertinosas, um perigo à sociedade. Relações que mantém uma jovem daquela atada ao vínculo familiar rompem-se mesmo quando uma dessas é estuprada por um primo, os pais, no intento de manter a integridade da familia perante a sociedade, mandam sua filha, desaflorada antes do casamento, para um convento, de onde talvaz nunca saia.
Diante de tão impactante, não menos real, história, Mullan opta por aproximar o enquadramento da câmera, exagerar nos closers, afim de trazer o espectador pra dentro do convento, entender os atos de "rebeldia" daquelas jovens, criar uma identificação entre personagens e espectadores, fazendo-se de mediador desse diálogo aberto, é como se cada situação de sofrimento passado na vida de tais garotas servisse de argumento ao seu favor. Esse excesso de realismo é tão forte que quase não vemos Trilha Sonora, algo fora daquele mundo, o Som representa a esperança de dias melhores.
As atrizes, de relativa experiência no Teatro em sua maioria tem grandes atuações, intensas e corajosas, ambas podiam ser um conjunto imenso de caricaturas, o uqe não acontece. São, cada uma delas, personagens bem criadas, bem desenvolvidas, de visão de mundo. O grande destaque fica por conta da lindíssima Nora-Jane Noone, como Margaret - que após impactante atuação nesse filme vêm fazendo filmes de terror-teen medíocres e de Eileen Walsh, como Crispina.
Enfim, o filme teve boa repercussão na crítica, ganhou o Leão de Ouro em Veneza. É um filme que tem que ser sentido, se sua história parece fácil, mas cria uma teia de possibilidades infindas sobre ela. Um belo trabalho de direção, uma pequena obra-prima criada por Peter Mullan. Indispensável.
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