ESFORÇO DE TODA A EQUIPE PARA SALVAR O FILME. MENOS POR PARTE DA DIREÇÃO
Não assisti ao cultuado Brøthers, filme dinamarquês de 2004 que deu origem a este aqui. Portanto, não sei dizer o quão diferente ou melhor ele é deste filme de Jim Sheridan (Em Nome do Pai), diretor de boa visão, mas de certa preguiça em muitos de seus trabalhos. O que posso dizer sobre Entre Irmãos (além da obviedade de que realmente os estadunidenses não sabem ler legendas, pois só isso isso explica o fato de refilmarem tantos filmes bons feitos fora do seu país e cada vez em menos tempo - fico surpreso que ainda não tenham refilmado Tropa de Elite) é que o filme não é tão ruim como aparenta, apenas mal acabado e muito mal montado. É como um veículo que possui todas as qualidades mecânicas, econômicas e aerodinâmicas, mas peca no design.
O filme retrata um período da vida dos irmãos Sam (Tobey Maguire) e Thommy (Jake Gyllenhaal), que apesar de demonstrarem amor entre eles, fica claro que suas vidas tomaram rumos completamente opostos. Sam, sempre aplicado e perseverante, é capitão dos fuzileiros navais, para orgulho do pai veterano do Vietnã. Já Thommy nunca soube aproveitar seus talentos, sendo o típico delinqüente juvenil até ir parar na cadeia. O momento retratado no filme refere-se a partida de Sam para o Afeganistão e a saída de Thommy da cadeia sob condicional. Eis que o helicóptero de Sam é abatido e sua esposa Grace (Natalie Portman) encontra-se sozinha com suas duas filhas e a presença intragável do irresponsável Thommy em volta das meninas. Como era de se esperar, Thommy e Grace se aproximam afetivamente (embora em uma intensidade bem menor do que eu imaginava) e Sam acaba retornando, traumatizado pelas terríveis atrocidades sofridas nas mãos dos afegãos e repleto de dúvidas e ciúmes com relação à esposa e o irmão.
Apesar da repetitiva estória de irmãos de personalidades conflitantes, Entre Irmãos aposta na reavaliação dos conceitos previamente estabelecidos sobre os dois irmãos. Na ausência de Sam, Thommy acaba por assumir-se zeloso e responsável, principalmente em relação as sobrinhas que pouco conhecia. O jeito brincalhão, leve e descontraído, em relação ao perfil regrado e mais sério de Sam, faz com que Thommy conquiste as meninas e ganhe a simpatia de Grace. Agradável é ver como o roteiro deixa muito claro o quanto Grace ama seu marido e que sua proximidade com Thommy se dá em um momento de vulnerabilidade emocional da bela moça (Portman e seu rostinho de anjo desmontam qualquer bloqueio).
Diferentemente da maior parte das opiniões que li a respeito deste filme, não achei um filme de interpretações ruins, mas sim um filme de interpretações sub-desenvolvidas por parte da direção, que se vale demais em imagens e dá muito pouco espaço e suporte para os atores trabalharem. O que temos então é um Gyllenhaal superior aos demais, mas com dificuldades em acertar o tom do personagem, que indefine-se entre o rebelde e o paizão. Uma Portman em uma personagem com poucas ações, por isso apostando tudo em seu carisma e charme natural e um Maguire em um personagem tão complexo e com tão pouco tempo de para ser desenvolvido que se vê obrigado a extrapolar de uma hora para outra, quase que do nada.
Faltou a Sheridam um cuidado maior na manipulação do tempo e na distribuição das cenas. Por exemplo: na minha opinião, eu teria cortado todas as cenas no Afeganistão após a queda do helicóptero, deixando realmente no ar se Sam havia morrido - se não a certeza. Com isso, dedicaria todo esse tempo para trabalhar melhor as relações entre Thommy e seu pai e, principalmente com Grace, pois acho que umas duas ou três cenas à mais antes do beijo dariam maior sustentabilidade à situação. Bem como o final, que me desagradou. Desagradou-me pela maneira como foi arquitetado. Acredito que teria sido melhor ter deixado as cenas do Afeganistão para o diálogo final, como falashbacks no momento do desabafo, pois qual é a carga dramática que um final tem, quando já se conhece todas as revelações contidas nele? Praticamente nenhuma.
O roteiro possui uma fragilidade tremenda quando exigido. Por exemplo: como pode Sam ter sido dado como morto? Poxa, vemos situações semelhantes (infelizmente) com freqüência nos noticiários e não é assim que as coisas acontecem. E o vídeo gravado pelos seqüestradores? Foi usado só pra causar impacto. E o que foi aquele jantar em família, próximo do final, inserindo uma personagem apenas pra causar uma situação mais do que forçada? São estes detalhes e esta preguiça que diminuem consideravelmente o resultado final de Entre Irmãos, que parece o típico filme desnecessário para quem viu o original - o que não é o meu caso - e que deixa ao seu final a sensação de que uma boa trama fora desperdiçada ali. Não chega a ser um filme ruim, mas não deixa muitas saudades. Aliás, não deixa nenhuma.
Belo texto Cristian, mas eu gosto bastante do filme, só concordo que o filme possui muitas fraquezas, poderia ter sido muito melhor, ele me lembra o ótimo "First Blood" (1982).
Valeu Marcos! Sem querer ser metido, com as alterações que falei, o filme me agradaria muito mais.