Causas e consequências em um universo de puro lirismo
O universo de Anne Rice foi subaproveitado nos cinemas. Enquanto temos que aguentar coisas como o vampiro Edward e seu Crepúsculo, a grande autora de best-sellers e criadora de um intrincado universo literário, que expõe de maneira magistral a cidade de Nova Orleans, teve apenas dois filmes adaptados para as telonas.
Um deles é tido como clássico. Entrevista com o Vampiro é aquele filme que todo cinéfilo deve ter em sua videoteca. Atuações marcantes, ritmo frenético (graças ao diretor de videoclipes, Neil Jordan) e uma grande história quase que totalmente adaptada do livro da mesma.
No livro e no filme conta-se a história de Louis de Ponte Du Lac, um aristocrata que diz ser um vampiro, que se encontra em um hotel barato em Nova Orleans. O entrevistador (Christian Slater no melhor papel de sua vida) no início duvida mas quando Louis mostra um pouco de seu poder, consegue prender a atenção de seu redator.
Louis é uma criatura atormentada e sombria. Proprietário de uma fazenda nos arredores de Nova Orleans, é um homem sem apego pela vida, pragmático e um tanto perturbado. Após conhecer um estranho transeunte nas ruas sujas da cidade, que o ataca e depois o morde no pescoço, sua vida muda completamente.
A partir daí se coloca na tela dois pontos de vista conflitantes, um o do poderoso Lestat, vampiro de longa idade que não tem nada de escrúpulos e sobretudo de humanidade, Lestat é perverso, maligno ao extremo, narcisista e dominador.
Do outro lado temos Louis, que é humano, sonhador, preocupado, inseguro, responsável (embora se omita muito), perturbado, e depois ao longo do filme se mostra selvagem, agressivo e vingativo.
O choque entre essas duas personalidades conflitantes compõem o filme, e as atuações de Tom Cruise e Brad Pitt são muito convincentes (com êxito na excelente caracterização de Cruise).
O ponto crucial está no maior pecado de Lestat, a criação de uma menina-vampiro, que dá o clímax ao filme. Claudia (Kirsten Dunst) é uma mulher que nunca crescerá, nem nunca poderá mudar seu visual. Sua falsidade (chega a ser impressionante) e sua personalidade fria e vingativa fecham o triângulo explosivo desse filme.
A partir daí o roteiro (adaptado aos cinemas pela própria escritora) se resume em causas e consequências, das quais algumas serão terríveis, mas contadas com inacreditável lirismo.
Outros pontos fortes da película são o Teatro dos Vampiros em Paris, feitos de uma maneira crua que expõe a linha tênue entre humanos e monstros e a própria atuação pragmática mas apropriada de Antonio Banderas como Armand.
Pontos fracos? Realmente não existem. Estamos frente a uma obra de arte que só não leva um 10 redondo pois seu final é abrupto demais e apesar do cover do Guns de Sympathy for the Devil ser muito apropriado ao filme, não salva o final, que ficou muito em aberto.
Deixo aqui a última ressalva, que deveria ter sido feito um outro filme, pelo menos do segundo livro, "O Vampiro Lestat", que consegue ir muito além de Entrevista e elevá-lo a níveis de arte contemporânea. Anne Rice ainda tem muito a oferecer ao cinema, tomara que algum produtor ou diretor grande de Hollywood, veja isso.
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