A exemplo do que fez com a sílfide Amélie Poulain, o diretor Jean-Pierre Jeunet produz mais uma obra calcada no otimismo e na temática fabulística para compor a busca incessante da bela Mathilde por seu amor, Manech, que desapareceu depois de virar bucha de canhão por ter se auto-mutilado, no front da Primeira Guerra Mundial.
Baseado no livro Un Long Dimanche de Fiançailles, de Sébastien Japrisot, o filme se passa durante a Primeira Guerra. Na linha de frente em que Alemanha e França combatem, estão cinco soldados, entre eles Manech, um jovem rapaz do interior francês. Os cinco se auto-mutilam para voltar para casa e sair do front. Todos são condenados à morte e acabam virando bucha de canhão, sendo largados no meio da linha de tiro. Manech, assim como os outros quatro desaparecem. A jovem Mathilde, noiva de Manech, é informada da morte do amado, mas não acredita nessa possibilidade e decide investigar as circunstâncias do ocorrido, procurando pessoas, contratando um detetive, tudo para reencontrar seu noivo, que ela tem certeza que está vivo.
O fio condutor da trama é o otimismo e a alegria de viver, que dá combustão aos sentimentos de Mathilde. Ela tem certeza de que seu noivo não morreu e acredita nisso com todas as suas forças. Mesmo que todas as provas dêem por contrário, ela segue sua própria investigação. O clima de fábula toma conta da tela. Ao invés de um filme emocional forte, vemos um trabalho que transpira alegria.
Isso é mais forte se levarmos em conta a condição de Mathilde, que teve os movimentos das pernas afetados pela poliomielite. Ela é uma moça frágil, delicada, mas nada disso a faz interromper sua luta obstinada pela verdade. Sua força é impressionante, qual seja a adversidade. Como diria Virgílio: omnia vincit amor (o amor vence tudo).
O roteiro é ousado, já que quanto mais Mathilde se aprofunda em sua batalha pessoal, mais conhecemos as histórias dos outros cinco soldados, suas vidas, seus amores, seus medos. Jeunet foi muito criticado por ter explorado tantos roteiros secundários ao longo da trama. Mas aí reside o melhor da história: quanto mais conhecemos cada personagem, mais podemos conhecer do próprio Manech e mais entendemos da personalidade de cada um. Jeunet não deixa o filme cair no clichê e conduz todas essas subtramas de maneira correta.
Voltando ao clima de fábula, Jeunet aproveita esse lirismo na composição não apenas dos personagens, mas de todo o clima da história. Logo, são notáveis os elementos técnicos do filme. A fotografia, por exemplo, aproveita todas as belas cores do interior da França, principalmente os tons pastéis. A direção de arte é linda, recriando a França da década de 1920 com perfeição. Mais perfeito ainda é a recriação do front, com todos os detalhes, principalmente nas sequências que se dão na trincheira. Há que se destacar também os belos figurinos e a emocionante trilha sonora, que já havia sido marcante também em O Fabuloso Destino de Amélie Poulain.
Mathilde é composta por uma inspirada Audrey Tautou, uma das mais belas atrizes que a França já revelou. A jovem obstinada transmite vigor e paixão como poucas vezes se viu na tela. Tautou dá toda a carga dramática que o papel exige. Na outra ponta, Manech é personificado com força por Gaspard Ulliel, em bela interpretação. A magnífica Marion Cotillard (Piaf) faz uma participação como a bela Tina Lombardi e Jodie Foster surpreende em uma ponta como a feirante Elodie. Foster mostra toda a sua versatilidade e fala francês com fluência.
Eterno Amor é um filme lindo de se ver, uma fábula do amor verdadeiro, da obstinação, um libelo anti-guerra. É um dos grandes trabalhos do talentoso diretor Jeunet. Em tempos de guerra, é uma prova de que o amor vence tudo.
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