“A vida nem sempre é como planejamos. Às vezes, mas só às vezes, ela é melhor."
Comédias com troca de corpos já foram tão exploradas ao longo dos anos pelo cinema mundial que ao assistir o trailer desse Eu Queria Ter a Sua Vida é difícil segurar um sonoro “de novo?!”. Seja protagonizada por mãe e filha (Sexta-Feira Muito Louca), marido e mulher (o nacional Se Eu Fosse Você) ou como aqui, melhores amigos, a história utilizada por esse tipo de filme já é manjada e sempre vai trazer os personagens insatisfeitos com suas vidas enquanto imaginam que a do outro é muito melhor e isenta das incomodações encontradas na sua, culminando com ambos tendo os corpos trocados enquanto mantém a consciência própria e logo iniciando uma vida de sonhos, aproveitando ao máximo tudo aquilo de que outro reclamava de inicio. Claro, precisa existir uma moral no conto, e nesses casos, os personagens sempre percebem que julgaram mal a situação e passam a desejar a própria vida de volta, correndo contra a duração do filme para atingir o happy ending que colocará todos em seus devidos lugares e agora contentes por lá estarem.
Fazendo as devidas apresentações, os protagonistas aqui são Dave (interpretado por Jason Bateman) e Mitch (Ryan Reynolds), amigos de infância que levam vidas diametralmente opostas: o primeiro é um sujeito sério, advogado bem sucedido e worcaholic, que casou cedo com o amor de juventude e agora lida com trabalho, casamento e mais três filhos – uma garotinha no auge da infância e um casal de gêmeos ainda nas fraldas); já o segundo é um homem que jamais abandonou o garotão adolescente dentro de si, dividindo seus dias entre caçar garotas dispostas a sexo casual, trabalhos como ator de soft porn e qualquer outra coisa que achar adequada para ocupar seus dias, como se masturbar, por exemplo. É quando se reencontram para botar os assuntos em dia após um tempo sem se ver que ambos irão desejar inconscientemente trocar de vidas e uma fonte mágica irá atende-los enquanto mijam nela (sério).
Feita a devida introdução acerca do filme, é surpreendente o que vou dizer, mas ele funciona. Seus personagens – muito em função dos atores por trás deles, claro – funcionam, as situações despertam o riso e mesmo a lição de moral no fim, apesar de custar o ritmo pretensamente cômico que ocupa noventa por cento da produção, ainda consegue ressoar, já que a produção conseguiu nos fazer ficar afeiçoados por aquelas figuras.
A aposta do diretor David Dobkin e dos roteiristas Jon Lucas e Scott Moore é pelo humor escatológico que pode ser despertado a partir das situações experimentadas pelos personagens após a troca de vidas. E sim, essa opção funciona em diversos momentos, por fugir de um humor leve que sabotaria o próprio conceito de grandes chapas que podem viver a vida um do outro por um tempo, rendendo boa cenas divertidas como a surpresa de Mitch ao ver o que o aguarda ao ficar sozinho com a esposa do amigo, ou a surpresa ainda maior de Dave ao descobrir que um affair do camarada é uma mulher no período final da gravidez – a cantada disparada por ela, aliás, é uma das melhores tiradas do filme: “vamos transar logo antes que vire uma suruba”. Por outro lado, percebe-se também que em diversos momentos faltou criatividade aos envolvidos, afinal, em pleno ano de 2011 é difícil admitir um filme que ainda aposta em um pai coberto pelo cocô do filho para fazer rir.
Dito isso, é sempre uma vantagem contar com dois atores como Bateman e Reynolds como protagonistas, já que, apesar de não serem dois dos maiores astros do cinema atual, ao menos são tipos carismáticos e que já provaram conseguir segurar bem produções despretensiosas como essa. E se Leslie Mann surge adorável como a esposa de Dave, Jamie, é interessante notar como Olivia Wilde, uma atriz de beleza arrasadora parece sempre desconfortável no papel mais fraco do filme, Sabrina, colega de trabalho por quem Dave sente atração e que acaba com Mitch em uma decisão final que não faz sentido algum, mas precisamos aceitar por que é parte do happy ending já esperado.
Um pouco mais longo do que o ideal, Eu Queria Ter a Sua Vida não é nenhuma obra-prima da comédia, mas também não passa vergonha a ponto de fazer Dobkin querer trocar de vida com Daniel Filho e seu Eu Fosse Você, ou Mark Waters e seu Sexta-Feira Muito Louca.
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