É muito difícil assistir ao filme em questão sem desapontamentos, até porque visa somente à possibilidade de emplacar mais uma franquia de filmes juvenis para grandes arrecadações e sequências mirabolantes, sem muitas preocupações com a consistência/originalidade da trama ou a categoria do elenco, porém não é simplesmente como mero entretenimento barato e boas cenas de ação que se constrói um filme superior.
Para que o sucesso comercial de um filme e sua aclamação pública seja alcançada, necessita-se de duas premissas básicas, para dizer o mínimo, as quais são: concretização da empatia do público com as personagens, algo que sempre houve de sobra com elementos de sucesso tipo Harry Potter, Super Homem, Frodo Balseiro, entre outros, além de certo clima de tensão e suspense gerados no público ao longo da história.
Acerca da primeira premissa tem-se a noção temporal do devido amadurecimento do público com os personagens literários, pois o lançamento prematuro nos cinemas pode ocasionar a falta adequada desta importante conexão, uma vez que a maioria dos espectadores ainda está digerindo o contexto da obra literária no que diz respeito à transposição para a telona. Quando identificamos adaptações de sucesso como as já citadas supra, houve um período de popularidade dos personagens com o público através dos livros ou HQs, alguns mais longos, outros curtos, mas todos devidamente consistentes antes do lançamento em cinema. No momento que esta etapa não é cumprida, faz-se necessária uma produção impecável e com atores realmente premiados, para o alcance da aclamação, algo que está longe de ocorrer neste "Eu Sou o Número Quatro".
O outro aspecto é um tanto subjetivo, mas não menos importante, pois certa tensão gerada na plateia é fundamental para não cair na mesmice e no lugar comum de que tudo vai dar certo no final. Infelizmente, "Eu Sou o Número Quatro" está longe de gerar tensão no espectador, aliás, nas primeiras sequencias isto até ocorre, justamente na caça ao Número Três e no encontro sinistro do banho de mar, ocasião em que o Número Quatro é ferroado na perna, depois de ambas as sequências o restante vira uma pasmaceira.
Ao analisarmos outros filmes nessa linha, tais como "Harry Potter", "Super Homem", "O Senhor dos Anéis", "Matrix", "O Exterminador do Futuro", etc., o herói está sempre no fio da navalha e o suspense permanece até o embate derradeiro, enquanto aqui isto é extremamente superficial. No momento do enfrentamento final ainda surge outro elemento que suplanta, completamente, em poderes e carisma, o Número Quatro.
Confesso que não li o livro "Os Legados de Lorien", o qual deu origem ao filme, portanto não tive tempo de adentrar ao universo da obra, e como o filme foi produzido de forma tão rápida com relação ao lançamento do livro, acabei por assisti-lo primeiro e foi tão decepcionante que nem nutro interesse em ler o livro, até ausência de originalidade, pois é quase um “Exterminador do Futuro” para adolescentes, com pequenas diferenças, pois o Número Quatro, o salvador, veio de outro planeta e não do futuro, trata-se de um adolescente e não de um líder de fato e possui super poderes, ao contrário de John Connor que é de carne e osso e perde sangue de verdade, o restante segue firme em muitos aspectos semelhantes. Portanto, não há atrativos em termos de novas ideias na película, porém acredito que no livro não deva ter tantas piadinhas infames como há no filme, pois é até aceitável uma condução bem humorada, mas aquelas tiradas em excesso, tipo - "aprendi a atirar jogando x-box" - depois de matar um mogadorian, num momento de grande dificuldade, de certa forma ridicularizam o bom senso.
As cenas de ação são boas, mas nada que o Senhor dos Anéis e Matrix não tenham feito mil vezes melhor e que saudade do Arnold Schwarzenegger como vilão, porque os Mogadorians são caricatos ao pastiche e não assustam nem uma mosca. Ainda fica pior quando surge a Número Seis em cena, pois os mesmos ficam ridicularmente fragilizados.
O produtor do filme é o controverso Michael Bay, o qual me agradou apenas em a "A Rocha" e no primeiro "Transformers", enquanto D.J. Caruso, o diretor, nunca desenvolveu nada que me encantasse, salvo algumas cenas de ação, e bem sabemos que um filme não se sustenta apenas com efeitos especiais, muito ao contrário.
Fica a impressão que “Eu Sou o Número Quatro” exigiu rios de dinheiro em efeitos especiais numa trama e interpretações inócuas, não passando de uma ovelha tresmalhada que terá muita dificuldade para emplacar novos filhos, apesar de toda a encenação final deixar de forma óbvia uma eventual continuação.
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