"Deus não está aqui hoje Padre..."
Quem não conhece a história de "O Exorcista"? Acho que até mesmo quem nunca leu o livro ou viu o filme já ouviu falar da menina que possuída por um demônio chamado Pazuzu se masturba com um crucifico, gira a cabeça em 360º e desce uma escada em forma de aranha... Com várias histórias macabras nos bastidores do filme, a película se tornou sucesso absoluto de público, bilheteria e crítica. "O Exorcista" entrou para a história do cinema como o único filme de terror até hoje a ter sido indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme... A história não precisava de continuações, mas como a ganância dos produtores de Hollywood sempre fala mais alto uma sequência foi programada e totalmente sem nexo e má produzida o filme se tornou um fracasso e esquecido. Com o relançamento nos cinemas no início da década de 2000 com a 'versão do diretor', um prequel foi encomendado pela Warner e novamente o "demônio" atrapalhou as filmagens. O diretor então em questão a dirigir a nova fita seria John Frankenheimer, que abandonou o projeto um mês antes de falecer, ainda antes do início das filmagens, cruzes! O diretor Paul Schrader foi demitido pela Morgan Creek Productions após a conclusão das filmagens, por ter entregue um filme que segundo ele, era um drama psicológico e não um filme de terror. Em seu lugar o estúdio contratou Renny Harlin, que rodou novamente cerca de 90% das cenas do filme, além de retirar dois personagens da versão que Schrader havia feito. As cenas extras rodadas por Harlin custaram mais US$ 8 milhões aos produtores, puta merda! O primeiro embate entre Padre Merrin contra Pazuzu poderia ter ficado somente no nosso imaginário...
A nova história mostra o arqueólogo afastado da batina, tentando esquecer os horrores da Segunda Guerra Mundial ao liderar a escavação de uma improvável igreja bizantina no Quênia, ai já começa errado pois no filme original as escavações eram no Iraque, mas tudo bem. Entretanto, com a descoberta de uma cripta ainda mais antiga que a edificação, uma força demoníaca, o demônio Pazuzu é liberado, aparentemente encarnando em um garoto nativo sob os cuidados da bela médica Sarah (Izabella Scorupco). Em pouco tempo a loucura começa a tomar conta do vilarejo, criando um horror ainda pior do que o presenciado pelo padre no passado...
Esse quarto filme da franquia tem um roteiro inconstante com alguns pontos positivos, onde destaco a memorável e chocante sequência de introdução, que nos remete àqueles campos de batalha do passado histórico da humanidade, com corpos destroçados pela afiada lâmina de aço das espadas, num mar de cadáveres espalhados para todos os lados, tendo apenas os corvos famintos e a morte como a única vencedora, soberana e insuperável. Mas isso é muito pouco. A escalação de Renny Harlin como diretor pela produtora Morgan Creek foi muito equivocada... Harlin tipo um operário de segundo escalão de filmes de ação tendo no seu currículo o filme mais conhecido "Risco Total" do Van Damme! Tomar no meu cú pra descansar o da equipe da Mogan Creek! Sem experiencia nenhuma com filmes de terror é óbvio que a chance de dar merda era grande... E deu...
Os defeitos da película não são poucos: pra começar, Renny Harlin acredita fielmente que o conceito do "terror" se resume a sustos previsíveis. De fato, tem muitos sustos. Sangue, então, nem se fala. É pra todo lado. Mas é só o que tem. Harlin trata "Exorcista: O Início" não como um exercício de medo (bem, medo você não sente em momento nenhum) mas sim como filme de ação talvez por só dirigir filmes de ação. Esta é a ideia de "filme de horror" do cara, que acaba esquecendo de um pequeno detalhe: o clima. Aquela ambientação fantástica de sugestão do primeiro filme foi jogado pra escanteio e o que se vê aqui é um festival de escatologia, com direito a muitos animais estripados, recém-nascidos cobertos de larvas e crianças partidas em vários pedaços por hienas raivosas - cenas, aliás, que incomodarão muita gente mas não chegam nem aos pés da histórica "virada de cabeça" da menina Regan. Fora que a platéia já sabe no começo o que acontecerá no final. Outro ponto negativo é que Renny Harlin não se decide em momento algum entre as saídas criativas e datadas do 'Exorcista' original e efeitos especiais moderninhos - a tão esperada aparição do Cabrunco incorporado no corpo de alguém, depois de quase duas horas de projeção, é risível...
E outra coisa o elenco de apoio é muito fraco, somente nomes desconhecidos e totalmente sem domínio dos personagens e total falta de expressão... Sem comparar com o filme original de 73, mas que saudades de Jason Miller, Lee J. Cobb e Ellen Burstyn! A exemplo do interprete do Padre Merrin original encarnado pelo fantástico Max von Sydow, o sueco Stellan Skarsgård não decepciona. Mas seu esforço é pouco. Outro problema grave é o excesso de clichês. Todos os chavões de filmes de terror estão lá, desde as tribos estranhas da África até os "figurantes caolhos e cheios de cicatrizes" que passeiam pelos cenários de qualquer filme cuja ação se passa em regiões pobres...
Mas o maior problema de Exorcista: O Início, além da história mal desenvolvida, é seu antecessor. Talvez este longa fosse apenas "regular" se não carregasse nas costas a enorme responsabilidade de honrar a qualidade e o prestígio do primeiro filme da série. Este fator não evita que o espectador compare esta fita com a original durante boa parte do tempo. E vamos concordar: é impossível superar o horror sentido com a primeira aparição de Regan (interpretada no original pela amaldiçoada Linda Blair que nunca mais conseguiu um papel de destaque na carreira) já convertida no Tinhoso. Os caras esperavam fazer isso com o Renny Harlin dirigindo? Pelo amor de Deus! Quer um bom conselho? Bom mesmo? Reveja "O Exorcista - A versão do diretor" e se cague de medo... Vade retro, filmes ruim!
Pois é caro Cristian, 'Exorcist: The Beginning' é uma das maiores decepções pra mim em se tratando de cinema, já que o primeiro filme é um dos meus preferidos de todos os tempos.
Skarsgard é um excelente ator e parece ser a unica pessoa a se esforçar no filme...
Já achei um erro transformar o título em franquia. Tudo bem que até deu certo na literatura, mas na mídia cinematográfica é sempre mais arriscado.
Também sou totalmente contra sequências desnecessárias (principalmente de clássicos de terror que se dizem inspirados em fatos reais). Porém, admito que a ideia de uma estória mostrando o primeiro encontro do Padre Merrin (narrado no original) me pareceu bastante interessante. Uma pena o resultado ter ficado tão abaixo do que prometia.
Luiz, o filme tinha potencial muito grande, mas eu sinceramente até hoje não sei como os produtores entregam a direção da fIta a um diretor bem mediano de filmes de ação B. O elenco também é fraco e o roteiro um lixo...