"A melhor visão de Deus vem do inferno..."
O Exorcista (1973) permanece ainda hoje como a obra de terror mais aterrorizante de todos os tempos. A obra-prima de Willian Friedkin adaptada do best-seller de William Petter Blatty, indicada à 10 Oscar, incluindo Melhor Filme (feito inédito para o gênero), foi um verdadeiro fenômeno de crítica e público, que mudou o cinema para sempre. Com um sucesso desta escala, sequências eram inevitáveis, e elas vieram, com o fraco O Exorcista II: O Herege (1977) de John Boorman, o subestimado O Exorcista III (1990) dirigido pelo próprio Blatty e claro, o irregular Exorcista: O Início (2004) de Renny Harlim (além de Domínio, de Paul Schrader).
Demorou para os produtores perceberem a grande oportunidade deixada pelo filme original, sobre o relato na passagem no Vaticano ocorrido sobre o primeiro caso de exorcismo praticado pelo Padre Merrin no Quênia em 1949. Com o anúncio do projeto, uma grande expectativa foi gerada em torno da produção e John Frankenheimer (Operação França II) foi escolhido para levar a produção as telas, mas acabou abandonando o projeto um mês antes de falecer, cabendo a Paul Schrader (roteirista de Taxi Driver) o comando da produção, que após US$ 30 milhões consumidos e com as filmagens concluídas, acabou não agradando o estúdio, que considerou sua versão "amena" demais (um drama psicológico nas palavras do próprio diretor), além de muito distinta da obra original (esta versão foi lançada em poucas salas de cinema e em DVD apenas em 2005, sendo intitulada de "Domínio: Prólogo de O Exorcista", projeto com algumas qualidades artísticas, mas que devido ao péssimo acabamento, acabou comprometendo o resultado final). Insatisfeito com esta versão, o estúdio a arquivou e contratou Renny Harlim (A Hora do Pesadelo 4: O Mestre dos Sonhos) para uma nova versão do roteiro, incluindo novos personagens, locações e detalhes na estória. Harlim atendeu o pedido do estúdio e acrescentou um clima mais sombrio à estória, adicionando muito mais gore e jumps scares, além de muitas referências e homenagens ao filme original, que somente os fãs mais hardcore notarão.
O elenco da produção é bom e diversificado. O sueco Stellan Skarsgard constrói um Lankester Merrin (mais jovem), crível e complexo, um ex-padre arqueólogo que perdeu a fé após enfrentar uma terrível tragédia durante a 2ª Guerra Mundial, onde enfrentou o pior lado da natureza humana. A polonesa Izabella Scorupco teve um grande desafio ao interpretar a doutora Sarah, visto a transformação pela qual sua personagem sofre ao decorrer do filme (sendo peça essencial para o sucesso ou fracasso da produção). Sua atuação é precisa e honesta, com uma sutilidade exemplar. O elenco coadjuvante é interessante, embora irregular, com participações de James D' Arcy (sereno, porém inexpressivo), Ben Cross, David Bradley e Alan Ford (num personagem canastrão e repugnante).
A parte técnica é eficiente, com uma direção de arte precisa e imersiva, bela fotografia (do competente Vittorio Storaro), maquiagem e efeitos sonoros competentes e uma trilha sonora (de Trevor Rabin) que intensifica momentos de contemplação, horror ou tensão. Esta nova versão foi completamente refilmada, sendo aproveitado apenas alguns cenários, atores e situações do roteiro da versão anterior, custando aos cofres do estúdio a quantia expressiva de US$ 50 milhões. O estúdio apostou alto no projeto visto a grande popularidade da estória perante o grande público, comprovado pelo sucesso da "versão do diretor" do Exorcista original lançada nos cinemas em 2000. Porém o filme acabou desapontando nas bilheterias ao redor do mundo, faturando apenas US$ 78 milhões (muito aquém do esperado), além de críticas negativas da maior parte da crítica especializada e do público em geral.
A direção de Harlim é burocrática, com algumas tomadas quase amadoras, uso excessivo de jumps scares e sem o talento, a sensibilidade ou familiaridade exigidos para um material como este (que Friedkin e Blatty demonstraram em suas versões). A chocante cena do ataque das hienas à uma criança, mostra mais do que deveria e apresenta efeitos visuais artificiais que quase comprometem o momento, por exemplo. Mas no geral a atmosfera criada pelo cineasta e sua equipe é satisfatória, com muito mistério e um clima opressor, num constante tom de perigo. Outro acerto foi a decisão de deixar o exorcismo apenas para os 20 minutos finais, visto que se fosse feito antes, daria um tom de repetição muito grande a película. Como dito anteriormente, não são poucos os equívocos da produção (que poderia de fato ser muito melhor tendo em vista as possibilidades da premissa), porém serve como um interessante prólogo do clássico original, com alguns momentos de grande tensão e repulsa, além de expandir e respeitar (de uma forma geral) a saga ao qual pertence.
Subi a nota numa revisão, Lucas. Principalmente depois de assistir as outras sequências, que são mais fracas do que esta, na minha opinião.
O terceiro (com Brad Douriff) é melhor. Só o que salva este "início" é o Stellan Skarsgard, que é um ótimo ator.
O terceiro é muito bom, e na literatura seria uma continuação direta, fato que o próprio William Peter Blatty já afirmou e tanto no livro e no filme, se não me engano Regan e Chris são mencionadas apenas duas vezes, pois a história delas já havia se encerrado, Pazuzu havia sido derrotado e seu espectro ficado prezo com o Padre Karras. Mas não é só Douriff que brilha. C. Scott na pele do policial Kinderman dá um show e Miller repete o bom trabalho do primeiro filme na pele de Karras. A direção do próprio Blatty também é eficaz. O segundo filme é sem dúvidas um dos maiores caça niqueis da história do cinema, uma afronta aos fãs da mitologia da série e esse quarto episodio tinha um potencial gigantesco pelo que me lembro. Se você está afirmando que após uma revisão subiu sua nota caro Luiz, preciso fazer o mesmo então
Luiz, acho a comparacao mais do que valida. Eh questao de gosto mesmo. Desse O Inicio, gosto da cena das hienas, que eh uma das cenas mais fortes da serie.