Em 2002, Danny Boyle e Clillian Murphy brindaram o mundo do cinema e o 'subgênero' dos zumbis com uma obra satisfatória e com ótimas ideias acabando por conquistar crítica e bilheteria ao redor do mundo tanto que alavancou a carreira de Murphy ao estrelato. Em grande maioria dos sucessos cinematográficos o que acontece posteriormente? É isso mesmo meu caro amigo, continuações! E com '28 Days Later' não foi diferente, mesmo sendo um filme britânico. Se por um lado isso é bom ou ruim em uma pequena parcela acontece da continuação ser do mesmo nível da original e em outros poucos casos uma sequência é até justificável... '28 Weeks Later' é um pouco superior que seu precededor...
O filme começa com o estado de caos instaurado, assim como no primeiro, e é tão auto-contido que para se entender a trama não é necessário sequer assistir ao primeiro filme. As cenas de perseguição surgem um pouco mais fechadas, claustrofóbicas e amedrontadoras a velocidade dos ataques continua, mas aqui elas são melhor realizadas obviamente por um orçamento mais gordo em relação aos U$S 8.000.000,00 do primeiro filme, podendo assim trabalhar mais nos efeitos especiais e nas cenas de ação. Após o prólogo, é mostrada uma Inglaterra em reconstrução após inúmeras etapas de descontaminação. É feito um cerco onde os não infectados são postos separados dos doentes, numa espécie de área segura ainda que essa segurança seja muito discutível.
O diretor espanhol Juan Carlos Fresnadillo dono de uma empresa de curtas e comerciais, indicado ao Oscar na categoria de melhor curta-metragem em 1996, alem de comandar a bagaça também assina o roteiro ao lado de Enrique López Lavigne, Rowan Joffe e Jesús Olmo. Como reza a lenda, seis mãos escrevendo um roteiro geralmente não da nada que preste, aqui temos novamente uma exceção, apesar da fita possuir alguns deslizes. Vários clichês estão presentes como a força do núcleo doméstico, essa coisa cristã que nada abala, nada destrói, mas no resultado final não comprometem tanto assim. Muitos temeram pelo pior quando Danny Boyle abandonou o projeto, mas ainda que ele é um profissão bastante competente, aqui não faz tanta falta.
No filme os governos já não mandam mais nada, sequer existem, quando entra em campo o exército dos Estados Unidos, Bagdá, Londres, diferença não há. Extermínio 2 é um filme que a todo momento registra o esforço de manter o mundo em ordem. O caso é que essa ordem já não é fruto de uma estrutura política, de uma democracia propriamente dita, mas de uma imposição bélica. Chega um determinado momento que a etnia, religião, dogmas ou qualquer que seja o processo que acaba por hoje separar nações e pessoas ali nem é lembrado mais.
Talvez a maior escorregada da película seja é a relação familiar construída entre os protagonistas. Depois do breve início, que mostra como Don (Robert Carlyle) sobreviveu ao contágio nos arredores de Londres sem se exilar do país, a história se transfere para a Londres sitiada. Faz 28 semanas que ocorreu a infestação, e agora a situação na capital parece controlada. Don volta para lá e reencontra os filhos que haviam fugido da Inglaterra. Então aquele contexto melodramático familiar por vezes incomoda bastante chegando a atrapalhar o desenrolar da história.
Fresnadillo dedica atenção especial à cidade. Sua câmera passeia pelos terraços os grandes edifícios do centro financeiro da cidade, onde atiradores vigiam ruas e apartamentos. De lá de cima vemos o que é solidão. Se no primeiro filme as cenas de ruas vazias já impactavam, esse efeito é potencializado em Extermínio 2. Maior do que o terror de ver uma Trafalgar Square deserta é saber que esse terror pode mesmo acontecer um dia. E os Marines estarão lá para controlar o nada, sem dúvida... A direção de Fresnadillo é algo fantástico, a variação de estilos de filmagens com a câmera em primeira pessoa em determinado momento em outros se utilizando do steadicam se valendo de ambientes fechados e com pouca luz demostra ar de genialidade. Esses artifícios enriquecem demais a película, e proporciona a quem assiste um clima de pavor e suspense poucas vezes visto anteriormente nesse tipo de filme ou até mesmo em outros gêneros. Fresnadillo não liga a mínima se você se sentira desconfortável ou não. Mete filtro, efeito de luz, câmera na mão, corte clipado, tudo a que tem direito. O ataque no galpão de contenção só não é melhor que a visão noturna no metrô forrado de corpos. O único escape possível é se juntar à torcida dos canibais. Não temos um poder a quem recorrer. Só a autodestruição nos vinga e o pior é que o sentimento de esperança é quase nulo.
Robert Carlyle permanece naquele time de atores subestimados e que por algum motivo ou outro não teve tanta sorte assim na carreira, relegado a papeis coadjuvantes e muitas das vezes sem tanta importancia. Aqui protagoniza a fita e mostra que tem talento de sobra. Seu estado de desespero total, mas com um pingo de esperança e toques de segurança e amor com seus filhos é muito bem realizado e feito, transpondo isso de forma soberba pelo seu personagem na tela e ainda sobra química com sua esposa Alice interpretada por Catherine McCormack. mesmo com todos os desdobramentos e agruras pelas quais seus personagens passam. A dupla de crianças (Mackintosh Muggleton e Imogen Poots) também estão a vontade em seus papéis, emprestando ao drama familiar uma carga enorme de verossimilhança. Poots que hoje em dia está uma delicia gostosa já demonstrava toda sua competência frente as câmeras.
Apesar do seus deslizes, "Extermínio 2" um trabalho subestimado que merece um pouco mais de atenção. É ótimo ver um filme de zumbis cujo desfecho é imprevisível e que em meio a cenas cheias de sangue e morte tenha um tempinho para fazer críticas relevantes à certas atitudes do ser humano e também à política bélica de alguns países... Ótima pedida!
Não é tão bom quanto o primeiro, mas merece todos os créditos que não recebeu. Bom filme. Belo texto.
Pô Cristian eu gosto muito desse também... 😢
De toda forma obrigado...