Os EUA precisam tirar o olho do próprio umbigo e prestarem atenção na cultura dos outros países do mundo. Não só no quesito politica, mas especialmente no âmbito cultura da bagaça. As várias mitologias, comportamentos. etnias e competências das várias civilizações ao redor do globo, volta e meia são retratados nas diversas mídias existentes atualmente, mas quase sempre de forma não tão satisfatória. Enfim, os mexicanos tem em agregada a essa animação, uma das maiores comemorações de sua vasta cultura: O Dia dos Mortos. Ou dia dos Finados se você preferir, como é dito aqui no Brasil, uma celebração em que os descendentes ou parentes das pessoas falecidas, festejam aa celebração de uma vida que se foi com alimentos e quitutes que o ente gostava, regrados com muita música e bebidas. Na verdade, para os mexicanos a morte é apenas uma passagem, e os mortos podem ir pra dois mundos, ou para o reino dos 'lembrados', regido pela dona Morte, ou para o mundo dos 'esquecidos', comandado pela entidade Xibalba...
Por trás dessa ideia do Dia dos Mortos, temos um triângulo amoroso, com toques de Romeu e Julieta, vivido por Maria, Manolo(que nome bom cara!) e Joaquin, que são amigos de infância. Desde crianças, Manolo e Joaquin disputam o coração da garota. Após algumas peripécias de Maria, a menina é enviada para Europa para completar seus predicados, mas como forma também de castigo. Já na fase adulta, a jovem volta como uma das mais belas mexicanas do país (em determinado momento uma garota cochicha com sua amiga que nem maquiagem ela usa) e ela encontra o pomposo Joaquin (que esconde um grande segredo de sua força) já chefe da precária guarda da cidade de San Angel e o único capaz de liderar a resistência contra uma iminente ameaça de um cruel vilão. Conhecemos também o já adulto e sonhador Manolo, que se encontra em uma ardilosa crise existencial entre seguir seu desejo de ser músico ou a tradição familiar de ser toureiro.
Com vários clichês, porem contornados por excelentes piadas e quadros cômicos, personagens embriagantemente cativantes, trilha sonora mágica e uma animação com qualidade peculiar e muito interessante, o filme se mostra uma animação com qualidades que contornam com sobra seus pequenos deslizes. Para contar essa história com tradições e folclores milenares mexicanos, nada melhor do que um mexicano, então a direção fica a cargo de Jorge R. Gutierrez, entretanto como Gutierrez é conhecido somente no seu país natal, um nome de peso precisava ser agregado a produção e nada melhor do que um camarada que tem uma relação bastante especial com a morte; Guilermo del Toro. Gutierrez trás a seu primeiro longa características bem marcantes de seus outros trabalhos, como cores muito vibrantes e design de personagens bastante exagerados.
Talvez a naturalidade que Gutierrez e del Toro tratem com o tema da morte explique o fato deles terem exposto o termo abertamente para as crianças sem medo de assusta-las (o que acontece frequente) já que eles fazem questão de frisar que a morte não é o fim e sim o começo. Isso é bem enfatizado em alguns momentos do longa, como por exemplo quando um personagem morre, uma nova etapa da história se desenrola. Quando o filme se assume de vez como uma fabula sobre a Morte tudo fica mais interessante, pois o romance entre os protagonistas se mostra muito meloso e batido, mesmo que muito divertido e já da segunda metade pra frente se torna uma aventura totalmente empolgante. De toda forma, o mais envolvente do filme é a forma dele ter sido mostrado por seus realizadores, as histórias dentro das histórias, visto que somos apresentados a essa grande narrativa por intermédio de uma instrutora de museu, resolvendo fazer um tour diferente do habitual, composta por alunos bem 'bonzinhos'...
Como disse anteriormente, a animação efetuada por Gutierrez é fantástica, tudo é bastante chamativo, caricato e exagerado. Bastante corajoso, Gutierrez compõe seus personagens por bonequinhos de madeiras, com até alguns se desmontando ao longo da trama, só isso já serviria para se destacar das principais e demais produções do gênero. O diretor acerta a mão também do contraste feito entre o "vivo" e brilhante reino dos lembrados e o depressivo e acinzentado reino dos esquecidos. A trilha sonora também é um deleite a parte e tem destaque fundamental durante a narrativa, afirmo isso devido o fato de ter assistido o filme legendado e os 'concertos' e versões de músicas famosas terem ficado muito bem interpretadas no original.
O filme além de relatar o romance entre os protagonistas e apresentar a tradição indígena mexicana, se mostra uma história sobre escolhas da vida, sobre a capacidade de traçarmos nosso próprio caminho e lutarmos ou não até o fim pelos nossos sonhos, como a dura decisão que Manolo precisa realizar ao romper ou não uma tradição de família. Gutierrez ainda nos mostra a importância da valorização da família e como precisamos ama-los independentemente de seus defeitos. A película possui sim alguns defeitos, como a imersão de muitos personagens e algumas quebras de sequencias em montagens de cenas que acabou por romper o clima de sequencias anteriores, algumas piadas também surgem forçadas e eu particularmente não gostei muito do personagem do Homem de Cera, mas de toda forma esses pequenos deslizes não comprometem o excelente resultado final, pois o filme é bastante divertido, com uma direção de arte e animação fenomenais, personagens cativantes e boa musica! Eu só não sei se os pequeninos, após o encerramento do filme, aceitaram que a morte não é uma coisa ruim...
Realmente uma animação impecável visualmente manolo! Também fiquei impressionado como Gutierrez e del Toro trataram com tamanha naturalidade sobre o tema de mortos num filme feito principalmente para crianças.
Acredito também que elas passem a conviver melhor com isso depois de assistí-lo. O filme pode ser o clichê que for, mas é muito bem construído, te prende do início ao fim. Nessa temporada em que o foco todo está com "Uma Aventura LEGO" e "Operação Big Hero", esse daqui também merece o seu espaço, aliás, ótima temporada para animações que fazem Frozen nem ser lembrado mais, pelo menos por mim...
Boa crítica, continue assim!
Poxa Raphael muito obrigado! Infelizmente esse exemplar aqui passou meio batido, mas com certeza é uma ótima pedida!