Mesmo que os filmes de Sam Mendes até então, em maior ou menor grau, circulem um mesmo grande-tema, que seria a vida do homem comum na sociedade americana, cabendo nisso o modo de se virar diante de eventualidades do cotidiano, eles conseguiam, a seu modo, se distanciar um do outro em narrativa e esteticamente, embora com esse Foi Apenas um Sonho, o diretor não tenha conseguido apresentar muito mais que a reprodução de um discurso que já ouvimos antes e melhor.
Mais uma vez, Mendes volta sua atenção para a vida nos subúrbios americanos e leva consigo agora Kate Winslet e Leonardo DiCaprio, os intérpretes dos pombinhos que ganharam corações com Titanic, aqui como April e Frank, os Wheeler, um casal de jovens sonhadores nos anos 50, muito cheios de si, que, irônica e gradativamente, acabam sufocados pelo modo de vida tradicional que tanto parecem abominar. Mas essa nova crítica ao estilo de vida na América, porém, não tem o mesmo bom humor e sutileza de Beleza Americana, filme mais famoso dele e ainda seu melhor, com o qual as comparações seriam imediatas.
O que no filme de 1999, apesar da tragédia anunciada nos primeiros minutos, era um discurso que, através do personagem de Kevin Spacey, enaltecia o prazer de viver, se impondo diante de convenções sociais opressivas, aqui é um retrato cruel e pessimista de uma geração supostamente revolucionária (daí a ironia do título original), viu seus sonhos sendo pouco a pouco limitados por uma cerca branca, em volta de um quintal, numa casinha qualquer de subúrbio norte americano.
Mas essa mensagem de desesperança não chega a nós com qualquer sutileza; é mastigada pelos flashbacks que mostravam o que o casal era e o que se tornou, contra a vontade, hoje, sem falar nos incessantes embates entre eles, que jogam nas costas um do outro o fardo da responsabilidade, nas conversas com vizinhos malucos “algumas verdades” que sabem mas preferiam não ouvir e nas eventuais comparações que fazem com outros casais, outras famílias, etc. Ou seja, o filme dificilmente respira longe desse seu discurso fatalista.
Quando respira, porém, entrega algumas ótimas sequências, como a da última grande briga do casal (não é a toa que funciona melhor quando foca na intimidade do casamento em si do que na grande visão sobre a sociedade americana, a qual se propõe), a do café da manhã e a triste sequência após essa, quase sempre menos amparado pelo texto ou pela direção e mais pela força das atuações de Winslet e DiCaprio, ótimos como os coadjuvantes, e que praticamente sustentam nas costas esse filme de Sam Mendes, que deixa aqui um recado que já havia passado antes, de forma mais elaborada e eloquente.
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