A entrada na década de 70 não foi nada fácil para Hitchcock, e tal fato pode ser explicado através de suas obras lançadas no período, que há muito tempo não empolgavam e chamavam a atenção da crítica. Após uma sucessão de excelentes filmes na década de 50, o diretor parece ter diminuído seu implacável talento na composição e adaptação de suas obras, acabando por encontrar na década de 60, desafios que não conseguiria superar com facilidade. Mesmo sendo um gênio do suspense, das tramas policiais repletos de charme e momentos inesquecíveis, a realidade, técnicas inovadoras e o perfil de novos cineastas que surgiam neste período fazia que o inglês perdesse cada vez mais espaço, onde suas obras seguiam no mesmo rumo, desprestigiadas e sem o alcance costumeiro de outrora. A sensação é que suas obras ainda estavam envoltas a certa ingenuidade que ficou para trás, não acompanhando as novas tendências cinematográficas, dentro dos campos de roteiro e direção.
Desde seu ápice em 1960 com Psicose, Hitchcock não conseguiu convencer novamente e nos provarmos de que seu talento não tirou férias, isto até chegarmos em 72, com o lançamento de Frenesi, que marcaria seu retorno à Inglaterra. Muitos torcem o nariz quando se trata desta obra, e embora concorde com a maioria das críticas apontadas a este, é inegável que seu estilo evoque as mais belas e eficientes características que fizeram do diretor ser o que é. A trama não é sensacional, muito menos os personagens, mas o que se sobressai é o clima, aquela velha sensação de que a qualquer momento a cortina descerá e revelará os segredos mais macabros e interessantes. É esse suspense de roer unhas, de acompanharmos vidrados uma cena fantástica envolvendo o protagonista e um corpo dentro de um caminhão de frutas, que fazem de Frenesi não só um retorno triunfante às origens criativas de Hitchcock, mas um dos melhores exemplares de sua carreira brilhante.
Se Hitchcock parece ter ficado para trás e não acompanhado as mudanças no cinema com a chegada da década de 60 e principalmente a de 70, frenesi está aqui para provar isto. Até mesmo fãs do cineasta afirmam que as passagens que envolvem os estupros são enfadonhas e causam estranhamento para quem assiste nos dias de hoje. A cena do estupro de Brenda causa uma sensação oposta à premissa do diretor. Ao invés de ficarmos chocados com a situação cruel, risos involuntários são inevitáveis, acabando com o impacto da cena e suas consequências posteriores. Até mesmo filmes que não tratam do tema diretamente contém momentos mais eficientes que esta aqui filmada, de uma perspectiva totalmente conservadora e ultrapassada que não só prejudicaria o filme, como sentenciaria a carreira do diretor naquele período de mudanças e novas tendências e temáticas surgindo no cinema.
Mesmo tendo sua principal cena ladeada por uma fragilidade constrangedora, Frenesi é mais do que isto, e mesmo que os conflitos de cão e gato não sejam mais os mesmos, o clima de tensão e momentos icônicos voltam a aparecer na filmografia de Hitchcock, como a já citada cena do caminhão de frutas. Considerado dispensável para aqueles que desejam conhecer e apreciar a obra do diretor, Frenesisegue como um produto isolado que busca resgatar alguns dos melhores elementos que compõem seus filmes.
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