Frozen - Uma Aventura Congelante é uma das melhores coisas que aconteceu ao cinema de animação da sua década.
O nosso Demetrius Caesar disse uma vez que o melhor de Tim Burton está nos detalhes. Bem, eu até diria isso mesmo de Frozen - Uma Aventura Congelante (que vou tratar por Frozen)...se isso não fosse um pouco uma injustiça. Afinal, o enredo de Frozen é dos bons, pelo que dizer que o melhor do filme é um detalhezinho aqui, um pormenorzinho naquela cena e etc seria um pouco como pretender que o todo fosse mais fraco que algumas das suas partes. Assim sendo, prefiro dizer o seguinte: o diferencial de Frozen está nos detalhes. Ou seja, é por causa de coisas menores que a animação da Disney é melhor do que muitos filmes de animação. Se não fosse por esses detalhes, é possível que o filme de Buck e Lee ficasse no limbo dos filmes nada-maus-mas-nada-de-memorável onde foram parar muitos filmes que a Disney fez desde 1995. Até porque, possivelmente, se esses detalhes fossem removidos, seriam substituídos por acções e/ou traços de personalidade clichés que levassem a público a pensar: "Bolas...é sempre a mesma coisa! Nada de novo!". Pois bem, Frozen evitou isto mesmo. Pelo menos, a maior parte do longa...
A que detalhes me refiro? Bem, são vários e não me consigo lembrar de todos sem rever. Mas vejamos...um dos que me lembro é o significado de Let It Go. Embora a canção não seja tão boa quanto nos fizeram crer (pelo menos, não tão boa quando comparada com as restantes canções do filme...o que acaba por ser um elogio à trilha sonora!), é muito bonito perceber, finalmente, o que Elsa queria dizer com "Let It Go". Essa expressão pode ter muitos significados e descobrir qual é o verdadeiro pode fazer-nos sentir enriquecidos. Algumas das famosas teorias internautas que dizem que Frozen e O Rei Leão são o mesmo filme fizeram algumas pessoas acreditar que Let it Go e Hakuna Matata são o mesmo tipo de canção. Ledo engano! A mentalidade por trás das duas canções é completamente diferente, a meu ver. E podemos perceber isso a partir do momento em que vemos a sequência em que Elsa cria o seu castelo. É verdade que ambas as canções apelam à felicidade...mas de maneiras distintas! A saber: Hakuna Matata incentiva o esquecimento dos problemas, certo? Ora, se a canção de Elsa fosse igual, "Let It Go" significaria "esquece isso" - um dos possíveis significados da expressão. Mas não significa! É, meus amigos; Let It Go significa antes "assume quem tu és!". Elsa não está a fingir que X coisa não existe. Pelo contrário, está justamente a mostrar que aquilo existe e já não é preciso ter medo daquilo! Com esta filosofia, Elsa não precisa de esquecer o passado para ser feliz; só tem de se aceitar como é. Em resumo: Hakuna Matata incentiva o esquecer, Let It Go incentiva o mostrar. Em circunstâncias muito diferentes, é verdade, mas...como já dei a entender, as duas canções têm filosofias bem diferentes. Ambas válidas, nenhuma é melhor que a outra. Pessoalmente, a de Let It Go funciona melhor para mim do que a de Hakuna Matata. Por agora, pelo menos...
Mas, maldição, acabei por me concentrar bastante num só detalhe...vamos em frente. Outro particularidade que é das melhores é a reacção de Olaf ao começar a derreter. O filme tinha-nos dado a entender que o boneco de neve não sabia que podia derreter. Quando nos revela subtilmente que, afinal ele sabia (ok, a cena não é clara em relação a isso, mas eu interpretei como ele sabendo, está bem?), um sorriso aparece. O filme jogou bem com as expectativas, fazendo pensar que Olaf não sabia que podia desaparecer ao realizar um desejo de longa data e, depois, surpreendeu muitos ao mostrar que Olaf não ficou nem um pouco surpreendido quando começou a derreter. A falta de medo é compreensível, mas a falta de surpresa, para mim, só tem uma explicação: Olaf já sabia! Seja como for...este detalhe enriquece o longa, até porque se Olaf se tivesse espantado e assustado e gritado, o público pensaria facilmente: "Claro, já sabia que isto ia acontecer!". Mas não; não sabia nada! Porque os roteiristas surpreenderam! E fugiram do banal, por assim dizer. Bom trabalho! É por causa de coisas assim que Frozen se diferencia dos restantes filmes.
E também fizeram um bom trabalho no último detalhe que vou citar. É um pormenor da cena em que Anna se arrisca a morrer para salvar Elsa. Toda a cena é de um impacto exemplar e, mais importante ainda, um total hino ao amor entre duas pessoas. Contudo, a Disney (e outros estúdios de filmes de animação) já fizeram coisas parecidas. Portanto, qual é o diferencial aqui? Simples: a subtileza. Mais concretamente, a ambiguidade do "remédio" para curar Anna. Ou seja...todos nós já vimos muitas vezes filmes a dizerem que a solução para os problemas é, por exemplo, um beijo. Sim, isso já foi feito. A ponto de muitos haters de Shrek Para Sempre usarem isso como argumento para criticar o quarto filme do ogre. E este filme podia ter seguido o mesmo caminho. Felizmente, não seguiu. Tudo graças à ambiguidade do remédio para Anna. Quando vemos que, de repente, Anna se salvou, há quem se pergunte porquê. É então que nos lembramos do que o troll de pedra (ideia interessante, por sinal) disse "Um acto de verdadeiro amor.". "Um acto", simplesmente. E não tem de ser um beijo. Nem tem de ser outra pessoa a fazê-lo! Pode até ser a própria Anna a fazê-lo! Tudo tem lógica quando vemos que a frase do troll não especificou quem tinha de praticar o tal acto. Muito bem! Subtil, mas enriquecedor!
E estes são só alguns dos tais detalhes. Claro que há muito mais para apreciar em Frozen. Nomeadamente a magnificência de algumas personagens. Curiosamente, o filme apresenta uma Anna absolutamente adorável, que se manteve feliz após anos de rejeição...para mais tarde deixar Anna na sombra de uma personagem muito maior: Olaf. Se Anna é uma maravilhosa personagem que se pode comparar à protagonista de Simplesmente Feliz, então Olaf está num nível acima disso. O boneco de neve é extraordinário. Uma pérola do cinema de animação. Se as personagens fossem representados por energia, Olaf seria uma supernova! É assim; uma das melhores personagens que já passou pelo cinema de animação. Olaf consegue ser ainda mais feliz e positivo que Anna (quem diria que isso era possível...), além de um alívio cómico como há poucos. Já há anos que não havia uma personagem que me deixasse tão alegre como Olaf. Ele é, em grande parte, responsável por o filme do gelo ser um dos melhores filmes de animação da década.
Agora, não quero colocar Frozen num pedestal muito alto. Ele também não é perfeito, como muitos não deixam de notar. Claro que o filme tem as suas fraquezas, como a conveniência de certos acontecimentos e o facto de não ter alongado mais algumas cenas que mereciam mais atenção. Nomeadamente a derrota de Hans. E, embora isto não seja bem uma falha, gostaria de saber de onde vieram os poderes de Elsa. Enrolados não fugiu a esta questão, trazendo uma explicação extremamente fantasiosa...mas deveras criativa! E Frozen podia ter feito algo parecido. Mas, independentemente disto, nenhum filme é perfeito. Este filme lá tem as suas fraquezas, como qualquer filme, mas nada que justifique o "ódio" que alguns lhe têm. Também não é para endeusar o filme, mas acho que é justo considerá-lo um dos melhores que a Disney fez nos últimos 20 anos.
Ó diacho...acabei por escrever muito mais do que pretendia! Queria reunir os detalhes enriquecedores num só parágrafo...mas, enfim, suponho que assim não teria espaço para explicar porque é que detalhes tão pequenos fazem tanta diferença. Ou talvez tivesse. Tanto faz; Frozen é um filme que vale a pena. Abram-se à experiência positiva que é vê-lo.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário