E NÃO QUE EU FUI ASSISTIR A SEQÜÊNCIA?
Hollywood é mesmo uma terra sem lei, sem lógica nem coerência. Mesmo após Fúria de Titãs (Clash of the Titans, 2010) ter sido avacalhado pela crítica e até mesmo pelo público, fomos "agraciados" com a seqüência quase inevitável nos dias de hoje. Fúria de Titãs 2 (Wrath of the Titans, 2012), ao menos, levanta um questionamento interessante: como pode um filme tão ruim como Fúria de Titãs receber uma continuação ainda pior?
De um cinema insípido e inodoro, o diretor Jonathan Liebesman (As Tartarugas Ninja 3D) consegue piorar o que já era ruim no primeiro filme e de quebra acrescenta mais e mais aberrações (e não estou falando de monstros, não) à lista da série, que já não era pequena. Liebesman conta com um elenco ainda mais qualificado, já que Bill Nighy (Piratas do Caribe - O Baú da Morte, Anjos da Noite, Operação Valquíria) se junta à Liam Neeson e Ralph Fiennes, que mais uma vez se submetem a essa humilhação em nome de mais alguns milhões (nem sei se dá pra condenar).
Nesta nova aventura, passados dez anos após o confronto com o Kraken, Perseu (Sam Worthington) vive uma vida tranquila e pacata em sua ilha junto de seu filho. Porém, essa paz acaba quando Zeus (Liam Neeson) aparece e pede ajuda à Perseu, pois as paredes do monte Tártaro, prisão gigantesca e mitológica, começam a ruir por causa da perda da fé nos Deuses por parte da humanidade e as criaturas mais medonhas da Grécia antiga espalham-se mundo à fora. Em meio à estes acontecimentos, Hades (Ralph Fiennes) planeja, com a ajuda de Ares (Edgar Ramirez), Deus da Guerra, libertar Khronos, senhor dos Titãs e pai dos Deuses Zeus, Hades e Poiseidon, traído por seus filhos e aprisionado eternamente. Para isso, ele rapta Zeus e o aprisiona para que Khronos drene sua energia vital para poder libertar-se.
Por mais incrível que possa parecer, Fúria de Titãs 2 é ainda mais atropelado, corrido e confuso do que seu antecessor, com uma preparação ainda mais nula do que a já quase inexistente do filme de 2010. Com menos de 10 minutos de filme, temos um resumo do filme anterior, uma explanação da situação atual, sabemos a quantas anda a vida de Perseu, vemos uma batalha entre Zeus, Hades, Poseidon e Ares e o ataque de uma Quimera à ilha onde vive o protagonista. Repito: em 10 minutos!!! E não é o filme não é só apressado, mas atrapalhado também. O filme abre com uma narração em off de Zeus, dizendo que há dez anos Perseu matou o Kraken e salvou a humanidade. Mas até onde me lembro, o monstro só iria destruir a cidade de Argos, como castigo por suas afrontas. Será que entendi mau? Acho que não. Ainda na abertura do filme, um detalhezinho: se bem me lembro, Io (Gemma Arterton) não envelhecia. Portanto, se não fosse assassinada, não morreria. Mas na primeira cena vemos Perseu em seu túmulo!!! Como isso é possível??? Se ela tivesse sido assassinada, teria sido mencionado. Se foi uma doença, qual era, sendo que ela já vivia por tantos séculos? Se foi uma praga, só ela morreu? Que diabos aconteceu com essa mulher???
Ainda nos minutos iniciais, como já foi dito, acompanhamos o ataque de uma Quimera à ilha de Perseu. Só que esta passagem é muito rápida e difícil de se acompanhar. Pra se ter uma idéia, a cena toda dura só 3 minutos! E mesmo assim, com duração de um trailler, furos podem ser notados. Para se proteger da chama lançada pela Quimera, Perseu se protege segurando uma porta de madeira....que não queima!!! E ele a segura pelas bordas sem queimar seus dedos!!!! Ahh, sr. Liebesman.....Sem falar que essa Quimera é um monstro muito idiota e é derrotada com uma certa facilidade. Mais uma vez: a cena toda dura apenas 3 minutos! Outro monstro desastroso presente no filme é o Minotauro, que com certeza, é o mais besta já visto até hoje. Sua cena é tão ruim, escura e mau dirigida, que chega a ser incompreensível. Não como saber o que está acontecendo na tela. A impressão que me passou é que ficaram com vergonha da merda que fizeram e tentaram mostrar o mínimo possível. Na verdade, não há nem uma criatura interessante no filme todo. Nem os Ciclopes gente boa, nem o tão temido Khronos, que parece o Motoqueiro Fantasma versão Super-Sayajin. Até os efeitos pioraram. Neste quesito, dá uma saudade do Kraken...
Os personagens também se mostram tão ruins ou até piores com relação ao filme anterior. Perseu, por exemplo, se mostra completamente atrapalhado com a espada e desconfortável e desequilibrado em cima do Pégasus, muito mais do que no primeiro filme. E, assim como no filme anterior, na cena seguinte já sai matando monstros e voando todo estiloso no cavalo alado. Andrômeda agora é uma comandante de guerra cheia de si e seu discurso para Hephaestus (Bill Nighy) é brochante demais. Por que não deixaram o Kraken devorar essa idiota? E a produção, hein? Nem pra escolher uma atriz parecida com Alexa Davalos. Pior, nem tentaram deixar Rosamund Pike o minimamente possível parecida com Davalos. E além de um Hefesto idiota e um Agenor irritante ao tentar ser o alívio cômico do filme, os Deuses também pagam seus pecados nesse filme. E não foi só o (outra vez) esquecido e abandonado Poseidon. Hades aparece com postura e voz "corrigidas" em relação ao primeiro filme. Ereto, e não corcunda, desta vez Fiennes abandona a rouquidão que havia elaborado. Mas o comportamento do Deus dos Mortos é risível. Parece que Hades está passando por uma crise de meia idade. Uma hora quer uma coisa, outra hora quer outra. Uma hora é mau e na outra é bonzinho. Há momentos em que ele parece dizer "você não me amou, por isso sou mau". Os diálogos entre ele e Zeus, assim como as ações de ambos, sejam em conjunto ou individuais, são ruins de dar pena. Chego a imaginar os dois sentados no sofá do programa Casos de Família, resolvendo seus enroscos familiares. Agora, não dá mesmo é pra engolir aquele Ares xoxo e com cara de boneco da TV Colosso. Um Deus da Guerra com ciuminho de Perseu?
E mais uma vez, esperamos uma hora e meia por uma grandiosa batalha que acaba não acontecendo, em uma falta de clímax mais gritante do que no filme anterior, causando um sentimento de frustração absurdo. Muito disso se dá também pelo fato de que, mais uma vez, o trailler é bem melhor do que o filme. Chego a concluir que Fúria de Titãs, tanto este quanto o primeiro, seria bem melhor se fosse um curta. O filme ainda tenta frustradamente fazer uma referência consigo mesmo, ou melhor, com o filme anterior, citando a frase "liberte o Kraken", numa total falta de pés no chão do roteiro.
Tentando e acreditando, mais uma vez, ser maior do que realmente é, Fúria de Titãs 2 se mostra um filho legítimo do péssimo momento que Hollywood vive com relação a suas super-produções de verão norte-americano. E o pior é que, depois de tanta coisa boa do passado, a gente ainda acredita nela.
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