HUSTON, TEMOS UMA OBRA-PRIMA!
Como definir o clímax de um filme? Em que ponto da obra ele tem início e até quando ele dura? Geralmente, este trecho crucial do filme se define pelos momentos de maior ação e tensão do mesmo e quase sempre se dá nos 30 minutos finais de uma produção. Pelo menos, naquelas embrulhadas em uma estruturação cinematográfica mais convencional. Na obra-prima contemporânea Gravidade, do talentoso diretor Alfonso Cuarón, é praticamente impossível desassociar o clímax do restante do filme, fazendo da obra um grandioso acontecimento que, por voláteis 90 minutos, nos coloca em estado de ebulição sensorial sem precedentes até então.
Sendo mais criterioso, pode-se dizer que os primeiros 20 minutos de filme servem como uma meticulosa preparação de andamento lento e preciso, onde Cuarón esbanja categoria e elegância na condução do longa e traz o público para dentro de um universo onde o tempo e a atmosfera se moldam à sua vontade, pois nada parece acontecer, mas a sensação de perigo é constante e quase palpável de tão perceptível. A partir daí, os próximos 70 minutos podem ser classificados como o clímax de Gravidade e as poucas vezes que o filme pára, é para desenvolver um pouco melhor a trama e seus personagens - na verdade, são apenas dois: a Dr. Ryan Stone (Sandra Bullock) e o Capitão Matthew Kowalski (George Clooney).
A trama de Gravidade é muito simples: os dois personagens já citados estão em missão com outros astronautas para consertar uma estação espacial quando detritos de um satélite entram na sua órbita e causam a destruição de sua nave, deixando apenas os dois como sobreviventes, que agora precisam chegar a uma antiga estação chinesa para tentar retornar à Terra. E esta simplicidade do roteiro - que pode desagradar alguns, mas não a mim - joga muito a favor do filme, pois permite a Cuarón dedicar-se totalmente ao desenrolar do background dos personagens (mesmo que optando por alguns diálogos expositivos demais) e brincar de maneira saudável com o material que tem, sem nunca brincar com nossa inteligência. Cuarón se permite, por exemplo, inserir um falso final barra-forçada, em um dos momentos mais originais do cinema atual.
Essa leveza e descontração da direção de Cuarón faz de Gravidade uma experiência cativante e inesquecível, fazendo deste um dos filmes mais lindos que já vi. Usando de sua câmera para conceber imagens e tomadas espetaculares, abusando da perspectiva em primeira pessoa (lembrando muito o game Dead Space), o diretor consegue nos aproximar intimamente da personagem principal (há aqui uma inversão de protagonismo muito bem realizada e até inesperada) de modo que fica quase impossível não emocionar-se com sua jornada.
Contendo ainda uma boa dose de simbolismo em algumas cenas (a mais escancarada delas é a cena da posição fetal), Gravidade é muito mais do que um simples sopro de ar fresco no cinema atual, mas sim uma obra marcante que veio pra ficar e ser apreciada por todos os amantes do cinema. Indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Filme, Melhor Atriz (Sandra Bullock), Design de Produção e vencedor nas categorias de Mixagem de Som, Fotografia, Trilha Sonora, Edição de Som, Efeitos Visuais, Montagem e Direção, Gravidade é o mais perto que um filme já chegou de 2001 - pelo menos esteticamente. Por isso pode ser considerado uma obra-prima atual e, provavelmente, atemporal
Boa crítica! O momento em que cita a preparação de terreno para o grande clímax é pontual, é aí mesmo que o espectador sente o que virá pela frente. Acho um filme um tanto superestimado, mas isso não me cega às qualidades do filme, da simbologia, também ressaltada por você, que é um dos melhores elementos do filme e que contribuiu para que ele não fosse "apenas'' um filme de ficção qualquer, mas sim uma obra vertiginosa e com certa profundidade. Captou bem o que estava escondido no filme, parabéns!
Puxa, fico enrubrecido com tantos elogios, Marcelo. O maior impacto que sofri foi pir ter visto este filme planejadamente. Cheguei em casa um dia e luguei a TV num canal de filmes e estava iniciando os letreiros imiciais. Sentei-me pra acompanhar e não consegui mais sair da frente da TV. Um espetáculo! Posso ter exagerado em alguns pintos, mas a experiência foi marcante. Muito obrigado pela leitura!