"A emoção da batalha costuma ser um vício forte e letal, pois a guerra é uma droga"
Muito mais interessante do que filmes recheados de explosões e tiros em cenas de campos de batalha, os longas que exploram os efeitos psicológicos da guerra em seus participantes normalmente rendem obras excelentes, da mudança de personalidade experimentada por Chris Taylor (interpretado por Charlie Sheen) em Platoon ao deslocamento ao retornar para casa de Michael (Robert De Niro, em uma das melhores atuações de sua carreira) em O Franco-Atirador, os personagens dificilmente começam e terminam o filme da mesma forma já que, como faz questão de ressaltar o letreiro que abre este longa de Kathryn Bigelow, “a guerra é uma droga”, e tal qual uma substancia química, vicia e provoca efeito na mente de seus “usuários”.
Escrito por Mark Boal e ambientado no Iraque ocupado por tropas norte-americanas, Guerra ao Terror narra o dia-a-dia de um grupo de soldados integrantes do esquadrão antibombas do exército americano. Localizados em um cenário onde o clima de tensão é crescente e cada canto pode esconder uma bomba pronta para explodir ou rebelde iraquiano armado, o sargento Sanborn (Anthony Mackie, exalando seriedade), o especialista Eldridge (Brian Geraghty) e o sargento William James (Jeremy Renner) precisam desativar esses artefatos enquanto aguardam o término do período de um ano de serviço para retornar para casa.
Já abrindo em uma cena que exala tensão, onde acompanhamos o então líder (Guy Pearce, em uma ponta de luxo) do esquadrão tentando desativar uma bomba que explode e o mata, Guerra ao Terror evidencia de imediato o perigo a que seus protagonistas são expostos, estabelecendo o clima de urgência e perigo que permeará toda a obra.
Utilizando-se de um belo trabalho sonoro para salientar o nervosismo e urgência da situação - a respiração pesada de um soldado se torna mais eficiente para compor o clima da cena do que qualquer trilha sonora - e de ocasionais planos em câmera lentíssima que retratam o impacto das explosões, Bigelow se mostra uma diretora que sabe como jogar o espectador na situação de seus personagens. Alternando a velocidade da ação de suas cenas conforme a situação, Bigelow vai do ritmo acelerado e urgente de um desarme à abordagem mais lenta – e nem por isso menos tensa – em um tiroteio no deserto, onde o desconhecimento dos locais de partida dos tiros adversários tanto para personagens quanto para o espectador, joga ambos em um jogo de gato e rato eficiente e que consegue fazer-nos suar, tamanha adrenalina emanada.
Protagonizado por um personagem fascinante, Guerra ao Terror deve muito de seu sucesso ao comportamento do sargento James e sua marcante personalidade: "viciado" na adrenalina provocada pela guerra, o James é um homem que não se preocupa com a segurança - própria e dos companheiros - ao desarmar uma bomba, frequentemente retirando o traje de proteção para se sentir mais "confortável" no ofício. Exibindo uma mistura de arrogância e segurança que por si só já estabelecem sua extrema capacidade de desempenhar sua função – ao ser perguntando sobre quantas bombas já desarmou, o personagem responde de imediato: “873” - o soldado ainda assim conserva a humanidade de alguém que enfrenta de perto o horror que representa uma guerra, com crianças assassinadas friamente e até mesmo homens-bombas involuntários.
Interpretado com segurança e carisma pelo até então desconhecido Jeremy Renner (em atuação indicada ao Oscar de Melhor Ator) o sargento James é um homem trágico, que tal qual o Nick (interpretado por Christopher Walken), de O Franco-Atirador não consegue mais pensar em si mesmo longe das trincheiras. Correr risco de morte ao desarmar um artefato que o esmigalharia em caso de erro é tarefa corriqueira para o protagonista, mas parar um carrinho de compras em frente ao corredor de cereais no mercado é algo que o deixa imóvel, sem reação – e a maneira como Bigelow o enquadra pequeno, no canto do quadro, quase engolido pelas “ameaçadoras” caixas de cereal, é brilhante. E é então que o vemos dizer para seu filho recém-nascido que só uma coisa importa para ele e em um corte o vemos novamente desembarcando no Iraque, para um novo ciclo em seu “verdadeiro lar”.
Aquele homem pode nem perceber, mas os efeitos da "droga" em seu organismo já atingiram uma escala tão elevada que somente sob seu efeito, inserido naquele meio de tensão e perigo, as coisas parecem fazer sentido.
Não seria de se estranhar se, ao término daquela guerra, sem rumos para tomar em sua vida, acuado em um meio ao qual não pertence, o sargento James desse um tiro na própria cabeça - tal qual o mencionado personagem de Christopher Walken. O que comporia uma rima triste, mas tematicamente espetacular e adequada com seu irmão de temática.
Na minha opinião o melhor filme de guerra do Iraque e conflitos psicológicos pós-guerra...
Só perde para Apocalypse Now...
Um filme muito bem produzido, com ótimas atuações e uma direção louvável de Bigelow. Só peca pela ideologia porca que defende.
Um filme muito bom, excelente direção de Bigelow, boas atuações e um bom ritmo com um ótimo estudo de personagem, mas ao mesmo tempo um filme maldosamente tendencioso e hipócrita, com uma ideologia porca que Hollywood adora sempre contar.
Ideologicamente falando "Nascido em 4 de julho" é bem melhor e muito mais honesto e corajoso.