Lá por meados de 2008 os filmes de super-heróis ainda não eram esta garantia de sucesso que vemos hoje, mesmo sendo um sub-gênero rentável junto ao público. E embora bons títulos como X-Men e X-Men 2 (de Bryan Singer), Homem-Aranha e sua seqüência (Sam Raimi) e Batman Begins (Christopher Nolan) tenham despertado o interesse de uma fatia cada vez maior dos cinéfilos e de astros e diretores consagrados - e principalmente dos estúdios -, filmes como o bombardeado Hulk de Ang Lee e a fraquíssima seqüência de Louis Leterrier, os terrível Quarteto Fantástico e a continuação com o Surfista Prateado, o problemático e desinteressante Demolidor - O Homem Sem Medo, o surpreendentemente decepcionante Superman - O Retorno (ainda mais depois dos dois ótimos filmes de Singer sobre os X-Men), o desnecessário Elektra e o frustrante Motoqueiro Fantasma abalaram a confiança no seguimento, que parecia apontar para uma descendente sem freio nem fim. Isso sem falar nos fracassos de X-Men 3 e Homem-Aranha 3. A lista de insucessos (artísticos, não comerciais) era consideravelmente maior que a de sucessos. E isso pesa.
A virada veio mesmo no verão de 2008 com aquele que é apontado até hoje como um dos melhores filmes baseados em super-heróis já feitos. Homem de Ferro, de Jon Favreau, reúne o que há de melhor no universo das HQ's com aquilo que o cinema comercial ainda pode oferecer de qualidade. Ágil, dinâmico, divertido e com uma boa dose de moral em sua trama, Iron Man resgatou a carreira de Robert Downey Jr. e restabeleceu a confiança nos filmes de super-heróis. Pode-se dizer que o filme é como o título de expressão que faltava para a afirmação de um promissor time de futebol.
Trazendo um dos mais interessantes personagens desse meio, Homem de Ferro aposta acertadamente no estupendo carisma de Robert Downey Jr. para tornar um personagem possivelmente detestável em alguém tão próximo de um homem comum como nós, que fica quase impossível não identificar-se com ele e torcer pelo mesmo.Carregado de defeitos e desvios de caráter, Tony Stark talvez seja o personagem que tenha a mais real motivação para suas ações e sua transformação e super-herói.Ele não foi vítima de nenhum experimento científico, não sofreu nenhuma tragédia familiar, nem era perseguido pelos valentões da escolha nem indigna-se com a injustiça do mundo. Maior magnata do mundo no ramo do desenvolvimento e comercialização de equipamento bélico, o gênio e bilionário Tony Stark possui uma visão fútil, surreal e distorcida do mundo, onde tudo se curva à sua vontade e ao seu tempo e disponibilidade. Quando se vê vítima de seus próprios produtos, Stark entende percebe a verdadeira natureza e finalidade de seu trabalho: destruição, terror e morte. Stark compreende que nada produziu na sua vida toda e vê em homens como Yansin – que lhe salvou a vida em um atentado – uma segunda chance de fazer algo de produtivo para o mundo que tanto ajudou a destruir.
Com uma boa explicação para o desenvolvimento do traje e uma boa preparação para a confecção do próprio – que consome bons minutos do filme – Homem de Ferro utiliza muito bem o tempo que tem e não desperdiça cenas com passagens bobas ou desnecessárias (coisa mais do que comuns em filmes desse tipo). O reduzido número de personagens também ajuda. São apenas cinco personagens, sendo que Jarvis (Paul Bettany) não passa de uma voz de computador. E a interação entre Downey Jr. e Gwyneth Paltrow é excelente, favorecendo bastante o andamento do filme.
E se a escolha de Robert Downey Jr. se mostrou mais do que acertada, colocar Jeff Bridges no papel do vilão Obadiah Stane não fica por menos. Além da leve semelhança do ator com o personagem, sua imposição em cena é sempre marcante. Aliás, optar por Stane e seu Monge de Ferro como vilões centrais agradou-me consideravelmente, pois sempre fui a favor dos vilões mais conhecidos dos fãs nas adaptações. Outro ponto de destaque de Homem de ferro é sua excelente trilha sonora. Iniciar o filme com “Back in Black” do AC/DC e encerrá-lo com a inevitável “Iron Man” do Black Sabbath já põe o filme em um degrau BEM acima dos outros. Demais. Uma das melhores trilhas dos últimos anos (posteriormente o AC/DC ficaria encarregado da trilha completa de Homem de ferro 2).
Com uma bela estória de redenção e redescobrimento, belos efeitos especiais, uma ótima trilha sonora, bons atores e um ritmo excelente, Homem de Ferro tem seu lugar garantido no topo dos filmes deste subgênero cada vez mais rentável e atrativo que se tornaram os filmes de super-heróis.
Gosto muito deste.. Na minha lista de preferências dos filmes da Casa das Ideias só perde para Os Vingadores e Guardiões da Galáxia, mas Downey é fera 😁
Valeu, Marcelo. É um dos meu favoritos também, ao lado de Vingadores, Guardiões da Galáxia e Capitão América 2.