Adaptação do conto escrito por Louis L´Amour chamado The Gift From Cochise, esta produção foi tomando forma ao ponto que a história fora sendo modelada pelo roteirista e amigo de John Wayne, James Edward Grant, que redirecionava os diálogos para deixá-los com a marca inconfundível do astro, sendo que tal parceria iria ganhar as telonas em inúmeros projetos, até a morte do escritor em 1966. A forma que Grant escrevia seus roteiros parecia ser realizada exclusivamente à Wayne, pois conseguia extrair o melhor do ator e suas qualidades, como sua franqueza e honestidade frente às câmeras, apoiado por diálogos simples, mas de grande efeito e força. O filme é marcado com ousadia e postura rígida do caráter de seus personagens seja o lado que estiver, vindo das mãos do experiente diretor John Farrow, tendo em vista que o cineasta não se acovarda ao apenas direcionar o foco de sua câmera aos oficiais do exército, mas confere aos índios a mesma dignidade e atenção que o roteiro lhe pede. O confronto entre os confederados e os apaches é ladeado por uma expectativa latente que é correspondida com firmeza e técnica, em um projeto grandioso envolvendo centenas de dublês em ação, efeitos especiais e atuações fascinantes que ganhavam total liberdade criativa por parte de seu comandante.
Hondo foi filmado no formato 3D, e apesar de que em 1953 o artifício já estaria saindo de moda, os produtores resolveram optar em ir adiante com o projeto visando aproveitar todas as belezas que o território mexicano oferecia às filmagens (palco das locações). Quando lançado, pouquíssimas pessoas puderam ter o deleite de ver o filme convertido em 3D, ficando apenas por 1 semana em cartaz na cidade de NY, para em seguida, ganhar cópias em 2D que seriam exibidas em todo o país, bem como distribuído para fora, o que não impediu este exemplar de ir muito bem nas bilheterias. Contrariando a lógica, Hondo não é daqueles projetos que se aproveitam do formato para esbanjar cenas sem sentido, como arremessar coisas em direção a tela ou assustar o público com truques baratos, muito pelo contrário, se utiliza das exuberâncias do local para iluminar sua trama, e mesmo que o filme se passe em um completo deserto, os ângulos das batalhas, as perseguições à cavalo, os céus azuis do México, todos estes elementos são captados com maestria pelas câmeras de Farrow e do responsável pela fotografia. Nos dias de hoje, se tivesse uma chance de acompanhar um filme como Hondo em 3D seria um acontecimento único, que marcaria profundamente quem o assistisse.
Para dar suporte à Wayne, seu velho amigo Ward Bond é chamado para viver Buffalo Baker, no qual traz toda sua rusticidade e força física ao filme. Sua presença intimista e durona sempre foi benéfica para contrabalancear a postura tranqüila dos personagens vividos por Wayne. Trazida diretamente dos palcos de teatro em Nova York, Geraldine Page faz sua estréia nos cinemas com a personagem Angie, uma delicada rancheira que se vê em perigo eminente com o avanço das tropas indígenas em sua propriedade ao ponto que os oficiais se preparam para lutar também. A atriz deu à sua personagem toda a força interna que as mulheres do oeste tinham de possuir, para suportar com firmeza os obstáculos que os homens colocavam à sua frente. Sua interpretação lhe rendeu a primeira indicação ao Oscar, pré que conquistaria na década de 80. Talvez o ponto fraco de Hondo seja a atuação do esposo de Angie, já que sua presença é desagradável e pouco influencia o desenvolvimento da trama, apenas serve para conferir um pequeno contexto emocional e dramático ao roteiro, fato este dispensável já que a própria trama central se mostra alto-suficiente para emocionar e surpreender o público. Já Michael Pate rouba as cenas como o líder dos apaches Vittorio, em uma das mais belas interpretações de indígena em um filme de faroeste que pude assistir. Seu comando, a postura, a apreensão que este transmite é sensacional, algo indescritível mesmo.
O bando apache liderado por Vittorio cerca um grupo de diligências, que por sua vez é protegida pelos oficiais e por Hondo, em um dos momentos mais espetaculares de um filme do gênero. Farrow não pôde dirigir as seqüências finais devido a compromissos em iniciar outra produção, mas em seu lugar ficou ninguém mais ninguém menos que John Ford. A lenda viva do western dirigiu com perfeição mais de 200 dublês em uma maravilhosa passagem, que impressiona até hoje pelo grau de detalhe imposto na cena. Em cima de uma grua, com um megafone na mão e a câmera em ação, Ford se comportaria como um verdadeiro maestro regendo sua obra célebre. Os atores e figurantes envolvidos neste complexo momento derradeiro deram sangue e suor para o que fora filmado ganhasse as salas de projeções com perfeição e eficiência. Ao final, pouco antes dos créditos, a sensação é de ter acompanhado um filme complexo, riquíssimo e que contribui de maneira significativa para a desconstrução deste gênero fabuloso, mesmo com sua curta duração de apenas 83 minutos.
Quando se assiste a um filme de John Wayne, qualquer faroeste se torna irresistível, pois seu talento para estas produções possibilitava romper barreiras temporais e culturais que transportavam o público para épocas gloriosas e sangrentas de um passado americano marcado por conflitos territoriais e outros interesses, que se baseavam na honra, justiça e coragem de seus participantes. Todas estas possibilidades que se abrem podem ser creditadas a um ator que sempre amou o que fez, respeitava as crenças e os simbolismos que envolviam as marcantes presenças do velho oeste. Os Apaches viviam na região americana que se localizava perto da fronteira com o México, e semelhante a esta produção, inúmeros projetos que Wayne trabalhou se utilizava de locações mexicanas, como também auxílio de equipes estrangeiras que davam lhe o suporte necessário para encarar os desafios nas telonas. Com o passar do tempo, uma admiração mutua fora desenvolvida pelo astro em relação a este universo mítico e fabuloso, também um enraizamento de suas virtudes que sempre se apresentavam nos cinemas refletidos por sua grandeza e franqueza ao viver personagens emocionantes e que sem dúvida, marcam profundamente quem assiste.
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