- "Eu tive anos para nos preparar. Nós nunca tivemos uma chance."
- "Também não tínhamos da última vez."
É difícil não sair do cinema se sentindo um idiota após uma sessão de Independence Day: O Ressurgimento. Com os preços dos ingressos cada vez mais caros, não é legal constatar que você pagou para assistir uma refilmagem de uma produção que assistiu a exaustão ao longo da infância, só que dessa vez com um tom mais sério, refletido nos efeitos especiais dos mais modernos, que nada lembram as maquetes destruídas com talento em outra época, e muito, mas muito menos carisma de um elenco que ainda que mantenha o sempre divertido Jeff Goldblum, se vê sem Will Smith e com um apático Liam Hemsworth tentando fazer seu papel sem nenhum sucesso, já que seu timing cômico não é dos melhores.
Timing... Não é difícil entender o lançamento dessa continuação 20 anos depois do original - passagem de tempo que é incorporada ao filme sem ficar muito claro do porquê do delay na resposta dos aliens ao pedido de ajuda dos mortos na grande batalha ao fim do longa de 1996, mas enfim -, a carreira de Roland Emmerich, que desde ID4 era nome certo do cinema catástrofe parece ter esfriado e ao mesmo tempo os anos são propícios para reeditar ou continuar histórias que nem ao menos possuíam um gancho para isso - e é engraçado como O Ressurgimento parece martelar o espectador com a ideia de que as dicas já tinham sido dadas duas décadas atrás -, assim essa segunda grande batalha de humanos versus et's deve marcar também o ressurgimento do alemão que adora destruir pontos turísticos.
Sendo assim decepciona como o cineasta perdeu o jeito para destruir as coisas. Se no ótimo Independence Day (que, sim, mesmo sem a nostalgia segue um filmaço), no divertido O Dia Depois de Amanhã e mesmo no horrível 2012, a destruição era sempre climática, preparada com cuidado e executada, mesmo quando ainda eram maquetes sendo destruídas lá em 1996, com mais cuidado ainda, nos fazendo ansiar por mais, aqui é tudo apressado, confuso e não conseguimos nem ao menos sentir o efeito da coisa já que, se vista avulsa do filme, a "grande cena" do filme não se permite nem ao menos identificar onde no planeta se passa. Sim, a ideia de uma cidade inteira subindo por conta do campo gravitacional da nave dos extraterrestres que pousa na Terra e depois descendo - "tudo que sobe, precisa descer", diz o personagem de Goldblum - é interessante, mas o excesso de efeitos mal conduzidos não nos permite "apreciar" aquilo. No entanto, a imagem de uma nave que faz a do filme anterior parecer um brinquedo, ocupando metade do planeta em seu pouso impressiona e Emmerich merece os parabéns pela maneira como não deixa essa imagem se tornar rídicula mesmo que a gente saiba que a simples aproximação de um objeto daquele tamanho iria extinguir a vida de nosso planeta E o planeta.
Claro que a nostalgia bate em diversos momentos e ver cenários conhecidos ou personagens com quem se criou um elo há vinte anos quase nos faz embarcar no filme, mas quando percebemos - de novo e de novo - que a estrutura narrativa de O Ressurgimento ao copiar o filme original apenas enfraquece a si mesmo pela comparação imediata que surge - e o discurso de Bill Pullman aqui já nasceu destinado ao fracasso, porque não existia como superar aquele "Hoje nós celebramos nosso Dia da Independência!" -, a coisa fica difícil e não tem alien rainha gigante correndo com uma arma para recuperar uma esfera extraterrestre com vida própria que decide convocar os humanos para uma aliança intergal... (???). Sim, Emmerich criou um desfecho onde isso acontece. E, se a produção acerta ao apostar em um mundo unificado depois do grande combate de 1996, falha ao concentrar tudo nos Estados Unidos ao final da produção, que ao menos merece elogios por apresentar uma certa diversidade em seus heróis.
Encerrando com - dessa vez, sim - um gancho óbvio para uma continuação já anunciada, O Ressurgimento ao menos deixa esperança para que voltemos a nos interessar pela quase destruição do planeta e para uma nova independência para a humanidade. Porque se depender apenas dessa continuação, fica fácil pensar que talvez não fosse tão ruim se os alienígenas tivessem vencido a batalha de 1996.
O Dia Depois do Amanhã é o que este Ressurgimento deveria ter sido.