“A liberdade está além do muro que nós mesmos construímos” -
Ethan Powell
Análise do Filme “Instinto”, 1999, direção de Jon Turteltaub, com Anthony Hopkins e Cuba Gooding Jr. Um psiquiatra, Dr Theo Caulder, faz análise de um preso acusado de homicídio. É um antropologista chamado Ethan Powell, um preso incomum: não se comunica com ninguém, age como um ser primitivo e vive acorrentado, como se fosse um selvagem. Dado esse comportamento, vira objeto de pesquisa de um determinado departamento de psiquiatria para descobrir o motivo que o levou a cometer o crime. Dr. Caulder aceita o desafio, estimulado pela perspectiva de que sua carreira chegue ao ambicionado topo.
Confiante de seus eficientes métodos utilizados com outros pacientes, dispensa o uso das algemas e correntes e da presença dos guardas durante as sessões de seu novo paciente. Ocorre um episódio que não esperava: ao impedir Powell de deixar a sessão, alegando ser uma ordem e que ele detinha o controle da situação, acaba sendo rendido pelo próprio Powell. Inicia-se uma violência psicológica, mostrando que tudo o que Caulder acreditava controlar era pura ilusão e que “a única liberdade que ele possuía era mexer no controle remoto e no ar condicionado”.
Caulder temeu pela vida, mas prosseguiu nas sessões seguintes. Ao mesmo tempo ateve-se no aprendizado que Powell proporcionava sessão após sessão: nos últimos anos, Powell conviveu com os gorilas, o que fez romper com sua família, com a sociedade, sua vida profissional, pois no meio desses animais é que pode concluir o quanto a sociedade é dominadora, sem amor, sem solidariedade. Até o dia em que um grupo de caçadores de gorilas chega abrindo fogo com os bichos e Powell, para defendê-los, acaba matando um dos caçadores. Portanto, mereceria uma chance de absolvição, conclui Caulder que busca, a partir de então, tentar provar a inocência de Powell. Desde sua prisão, Powell não mais se comunicaria com ninguém, até conhecer Caulder.
Caulder começa a enxergar o método com que os demais presos são tratados na prisão. Por iniciativa própria, institui uma forma democrática para que todos tivessem o direito ao banho de sol. Até então, somente o mais forte é que detinha o privilégio, que é uma forma hobbesiana de controle dos presos, em que o mais forte toma dos fracos tudo o que quer através da violência). Caulder provoca ira do diretor da penitenciária (uma figura do Leviatã) ao tentar mudar o sistema. Consegue que Powell reatasse seu relacionamento com sua filha que não se falavam há anos.
Tudo parecia ir bem até o dia em que numa luta entre um guarda e um dos presos. Powell tenta defendê-lo contra a ação violenta do guarda e acaba rendido novamente.
As sessões acabaram bem como a esperança de que Powell pudesse ter um julgamento justo.
Powell foge e deixa Caulder como último ensinamento: “a liberdade está além dos muros que nós mesmos construímos”. Um legado de vida e de aprendizado, que leva Caulder a uma transformação de vida e de princípios.
O filme leva ao espectador às seguintes reflexões: como a sociedade difere do grupo de animais? Ela é dominadora como afirmava o antropologista? Até que ponto temos o controle de tudo o que queremos? A sociedade, por sí só, é capaz de ser justa e humanitária? Que muro construímos ao nosso redor, tolhendo a nossa liberdade? E o que é a verdadeira liberdade? Será que precisamos passar por situações dramáticas como Caulder em nossa corrida frenética ao topo profissional, abalando a vaidade, orgulho (talvez porque acreditamos que assim eleva nossa auto-estima)?. Assim como o diretor da prisão ressentiu-se pela introdução do novo método na prisão, agimos dessa mesma forma quando alguém vem questionar nossos atos, nossas idéias? Deixamos a família em último plano porque colocamos o trabalho como prioridade máxima? O filme, se fosse mais bem explorado esses questionamentos, teria chamado mais atenção e infelizmente ficou aquém, devido à mediocridade de seu roteiro e algumas cenas clichês.
Enfim, o filme é um convite para auto-análise. Além da analogia presente com a Filosofia política, começamos a aprender (ou pelo menos tentar) o verdadeiro sentido do “instinto” do ser humano.
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