"Depois de tudo o que vimos, não há mais muitas coisas que nos amedrontem. Mas esta... Esta ainda me assombra."
Surpreende que esse Invocação do Mal 2, continuação do sucesso de 2013 que ainda deve render mais alguns filmes, leve a assinatura de James Wan na direção assim como seu antecessor. É uma obra que sob diversos aspectos se afasta do filme que o precede, sendo o principal deles a maneira como o cineasta conduz o terror: se antes a atmosfera valia mais, a sensação de incômodo, agora é susto mesmo, muitas vezes pouco sutil e surgindo de coisas saltando na tela em conjunto com alterações na trilha sonora. O lado bom é que Wan é mesmo um cara de talento e a mudança de tom não significa queda de qualidade - na verdade, ousaria dizer até que gosto mais dessa sequência do que do original.
Dessa vez Lorraine e Ed Warren (Vera Farmiga e Patrick Wilson) vão à Inglaterra ajudar uma família atormentada por um espírito que parece cada vez mais perto de possuir uma das garotas da casa, Janet (a impressionante Madison Wolfe). Ao mesmo tempo em que precisam lidar com esse caso que parece cada vez mais estranho e com possibilidades de ser até mesmo uma farsa, o casal lida com seus próprios medos, já que vem sendo atormentado pela visão de uma freira que parece cada vez mais prenunciar a morte de Ed.
Muitos dos acertos do primeiro filme são repetidos aqui, como os excelentes design de produção e figurinos, que contribuem não só com uma reconstituição de época bem feita, mas com cenários, roupas e acessórios que criam todo um ambiente opressivo ao longo do filme - a sala da família Hodgson, por exemplo, já parece anunciar algo ruim desde a primeira olhada naquela poltrona velha. Além disso, é interessante notar como esses elementos vão do sutil (a estrutura de uma janela que remete a uma cruz) ao exagerado (um quarto repleto de crucifixos) sem parecer oscilar a qualidade jamais. Algo não repetido pelos efeitos visuais, que criam um momento vergonhoso que nos "tira" do filme por alguns minutos e chegam a provocar até risos - não é difícil reconhecer esse momento quando estiver na tela -, algo que poderia ser evitado se a criatura que o protagoniza fosse vista apenas através de sombras, por exemplo.
E surpreende Wan não apostar nisso, já que domina o uso de sombras tão bem, criando aqui, no mínimo, duas cenas memoráveis e dignas de qualquer lista de grandes momentos do cinema de terror e que apostam nas sombras para mexer com o espectador. Na primeira delas, o cineasta e seu diretor de fotografia, Don Burgess, tiram a luz da até então iluminada residência dos Warren para criar tensão com uma pintura da freira que os assombra, brincando com os nervos do espectador que antecipa o momento que o objeto tomará vida e renderá um susto daqueles - algo que Wan adia até o limite e, quando chega o momento, é tudo feito às claras, mostrando o talento do diretor. Na segunda cena, o diretor utiliza um plano fixo que traz Ed (em primeiro plano, sob o foco da câmera) de costas para Janet (em segundo plano, desfocada e sob pesadas sombras), que é possuída aos poucos diante do espectador e muda completamente de forma apenas através da manipulação das sombras, em um momento brilhante de Wan e Burgess.
Pontuado por momentos de leveza e romance que ajudam a aliviar a tensão e a nos afeiçoarmos aos personagens da história - e Farmiga e Wilson tornam aqui o casal Warren ainda mais digno de nosso afeto -, Invocação do Mal 2 acerta até mesmo ao apostar no humor - "ele levou embora toda a música da casa.". Infelizmente, no entanto, o roteiro falha em alguns furos importantes que, ao serem analisados após a sessão, prejudicam o resultado final - por que Ed era o alvo da freira? Como ela sabia que os Warren iriam para a Inglaterra? Por que seu nome é sua fraqueza? São algumas das perguntas que ficam no ar. Mas isso é depois da sessão, porque durante ela Wan te segura bem na cadeira e te deixa com aquele arrepio na nuca até o fim, quando resolve "provar" durante os créditos finais que seu filme é baseado em fatos reais.
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o que aconteceu lais?