Quem não se lembra dos medos da infância? Daquelas histórias de terror que assustavam e que traziam um clima diferente à infância? Partindo disso, Stephen King cria uma obra que, antes de conferir o medo a qual seu subtítulo nacional sugere, nos traz um gosto pela nostalgia, pelas sensações que somente aquele período em particular nos trás. Acompanhamos a trajetória de um grupo de amigos que temiam um ser vestido de palhaço que fora responsável pela morte do irmão de um deles. E como pegamos ambas as fases de suas vidas – crianças e adultos –, King, que escrevera o romance original, retorna aquela máxima já trabalhada em Conta Comigo (Stand by Me, 1986), onde não adianta tentar esquecer o passado, ele sempre vai estar lá, de qualquer maneira.
E é nessa inicialmente saborosa time travel que o terror é trabalhado, mas, diferente do que se poderia imaginar, é uma construção semelhante a dos HQs de terror das décadas antigas, daquelas matinês enquanto a TV ainda transmitia filmes de horror, ou daquela época onde a coisa mais assustadora do mundo era uma casa abandonada em nossa rua (se fosse apenas um conto, It caberia perfeitamente como uma daquelas lendas de Creepyshow - Show de Horrores (Creepyshow, 1982)). Não é para menos que a criatura atemorizante aqui seja justamente um palhaço, uma figura emblemática que traz consigo quase que um histórico de fobias, especialmente nas crianças. Pennywise é, digamos assim, uma personificação dos pavores que fizeram parte da infância (a própria trilha sonora que prevê suas aparições ressalta isso), é uma espécie de bicho-papão – já que sua fantasia colorida é somente uma de suas inúmeras “camadas” – idealizado por King.
É até interessante acompanhar aquela batalha travada contra a “Coisa”, o pacto selado pelas crianças de derrotá-la caso retorne aquela cidade, tudo isso revestido pela capa da citada nostalgia, mas, a certa altura, vemos que o melhor que o filme tem a oferecer é justamente esse saudosismo, funcionando exclusivamente no aspecto subjetivo. Com outros olhos, o plot inicial que move It é completamente esvaziado ao passo que o horror vai ficando em segundo plano, em que os flashbacks começam – da maneira mais didática possível – a tentar se aprofundar dramaticamente na vida daquelas crianças, em seus temores reais que acabam sendo refletidos na assombrosa aparição do palhaço assassino (muito bem vivido por Tim Curry, aliás). E o pior é que, quanto mais tenta forçar a barra trabalhando naqueles conflitos superficiais, o sabor da nostalgia vai se desmanchando aos poucos.
Não é problema que os personagens sejam, em síntese, estereótipos. O problema real está na má construção de suas tramas, não somente por sua obviedade, mas também pela falta de gama dos atores – os adultos, particularmente, são muito ruins. Se valer de composições comuns aos nossos olhos (o menino traumatizado, a menina por quem é apaixonado, o nerd, ou quase isso, etc.) atesta a vontade de trazer de volta aquele espírito de matinê, só que tentar tecer eixos dramáticos pobres acaba trazendo o medo, sensação tal exaltada até por se tratar de uma obra de Stephen King – o que chamam de “mestre do horror moderno” –, para escanteio. E isso não é nada que senão jogar uma oportunidade no lixo, coisa que nem o saudosismo proposto é capaz de compensar.
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