Qualquer pessoa que conheça Gustavo Hackaq Guimarães um pouquinho, sabe que ele adora a saga Jogos Mortais – meu usuário original neste site era ‘gustavosaw’. Há pessoas que amam High School Musical, outros que idolatram Todo Mundo em Pânico, e há aqueles que morrem por Crepúsculo. Eu amo Jogos Mortais. E não interessa o quanto falem mal da saga, minha opinião não mudará.
Desde 2004, esperamos o que viria para finalizar a trilogia – depois, as duas trilogias -, pois os filmes voaram. Mas sempre nos perguntávamos: o que terá acontecido com Dr. Gordon (Cary Elwes), o corajoso médico do primeiro filme que cortou seu pé para salvar a família? Bem, esse foi um ponto que fez os fãs correrem para o cinema e aumentar sua bilheteria, consolidando então, a saga como a mais próspera saga de terror da história – nem Jason e Freddy, com poderes sobrenaturais, conseguiram derrotar um velho com câncer e que durou apenas três filmes. I’m so sorry. Outro ponto foi a inclusão do 3D, tendência desta década para o outono-inverno-primavera-verão, o que nos garantiu o que todo filme de terror quer com o recurso: inundar seu rosto com sangue, tripas, carne, e pedaços de ferro retorcidos vindos de alguma explosão hipotética. Com todos esses quesitos, mostram uma mudança gigantesca da estrutura do filme em comparação ao primeiro. Podemos dizer que o original era um filme e o último uma brincadeira. Isso é ruim? Não, claro que não. O cinema não só vive de filmes “sérios”, mas também de baboseiras. Não que Jogos Mortais – O Final seja uma baboseira; apenas é mais descompromissado do que o primeiro. Mas, se era para encerrar toda a saga e o mistério dela, não deveria ser o mais sério de todos?
Jogos Mortais – O Final gira em torno de Bobby (Sean Patrick Flanery), autor do best-seller “S.U.R.V.I.V.E.”, onde ele conta como foi sobreviver a Jigsaw, sua recuperação e “renascimento”. O autor ganhou fortuna e participa de milhares de programas de tevê recontando sua fatídica e emocionante história, e mostra como um troféu a mulher, Joyce (Gina Holden), que fora o principal motivo para essa superação toda. Banal tudo isso? Sim. Porém perguntem-se: se Jogos Mortais fosse verídico, e uma pessoa conseguisse sair vivo daquele horror, ela não seria explorada ao extremo pela mídia e faturar milhões? Do modo mais óbvio do mundo. E Bobby foi uma máquina de dinheiro e atenção, porque foi o primeiro a se expor. E, para aumentar ainda mais seu “prestígio”, criou um grupo de apoio às vítimas de Jogos Mortais, onde alguns sobreviventes dos filmes anteriores, como a mulher que cortou o próprio braço para salvar-se no sexto filme, fazem parte das reuniões. Enquanto Bobby eleva às alturas seu sofrimento e recuperação, essa mesma mulher afirma que sua vida mudou em apenas um ponto: ela agora pode ficar com a vaga de deficientes nos estacionamentos. Mas entre eles, há uma pessoa ilustre: Dr. Lawrence Gordon. Sentado no fundo e escondido entre as sombras – por quê? – ele aparece batendo palmas a Bobby. Muitíssimo suspeito, devemos dizer, para não contar o óbvio.
O filme em si começa no exato momento onde terminou o anterior: Mark Hoffman (Costas Mandylor), o mais que antipático, apático, podre, insuportável, chato e intolerável novo Jigsaw, consegue fugir da armadilha feita por Jill Tuck (Betsy Russell), ex de Jigsaw, como pedido do falecido. A partir daí, ele começa a caçar Jill desesperadamente, e ela conta à polícia que Hoffman é Jigsaw, pedindo proteção. O que pensamos então: pronto, a polícia sabe quem é o assassino; é só encontrá-lo e tudo está bem. Não, santa inocência. Hoffman é esperto demais – ou a polícia é burra demais, não importa – e consegue armar tooooooooodas aquelas armadilhas sozinho. Já que comentei, deixem-me relatar os pontos que me desagradam na saga: para uma pessoa apenas, seria impossível fazer todas aquelas engenhocas super pesadas, grandes e complicadas – Hoffman não era um engenheiro como Jigsaw. Depois, as luzes, câmeras, portas e qualquer coisa que guie o condenado entre as armadilhas, ligam no exato momento que devem ligar. Como?! Não há uma pessoa monitorando aquilo. Sensor de movimento? Pode até ser, mas visualmente é forçado demais.
O condenado citado no exemplo anterior é Bobby, que, expondo demais Jigsaw, acabou sendo pego novamente. E, assim como no filme anterior, todos os que estavam envolvidos com ele estão nas armadilhas que ele deve enfrentar. Entretanto, aqui há um ponto que diferencie Jigsaw de Hoffman: Jigsaw colocava apenas criminosos e pessoas desmerecedoras de suas vidas nas armadilhas; já Hoffman não, ele colocava quem estivesse pela frente, como Joyce, que fizera absolutamente nada para merecer estar ali.
O que provavelmente chamou atenção de todos, mesmo àqueles que assistiram apenas ao trailer, foi a armadilha em praça pública. O que foi aquilo? Inovação da parte dos produtores. As pessoas que passavam na rua éramos nós: espectadores que não conseguiam conter sua curiosidade, mas estavam ali, firmes e fortes, vendo uma pessoa sendo serrada ao meio. O ponto que desmorona toda essa criatividade é: como Hoffman conseguiu armar essa armadilha no meio de uma praça sem que ninguém visse? E mais: o que raios aquela história teve a ver com o resto do filme? Acrescentou em algo? Em nada. Apenas mais uma morte gratuita. Mas o que teve de bom aqui foi a iluminação – as armadilhas dentro de estúdios são escuras demais, como a do quarto, e pior, filme –, onde pudemos ver com detalhes tudo que acontecia.
O desfecho do filme, e da saga, pelo menos para mim, estava óbvio desde o segundo filme, onde mostra, na fita do cara que deveria tirar seu olho para pegar a chave, sua cirurgia. Spoiler à frente, mas, para quem é atento, não será tão surpresa assim. Vamos fazer um retrospecto: como Jigsaw, engenheiro e amante de metal, ferro e parafusos, fazer uma cirurgia complicadíssima e colocar uma chave atrás do olho, e a vítima ainda continuar viva? Como?! Jigsaw não era médico! Ops, mas quem era o médico de plantão no momento? Dr. Lawrence Gordon. Olhe a fita com mais atenção: quem quer que esteja fazendo a cirurgia, estava mancando. Mancando por quê? Por cortar seu pé com uma serra. Simples. O que deveria ser o maior e mais eletrizante mistério, que deveria causar espasmos nos espectadores, já estava resolvido no segundo filme. Cary Elwes, com divergências no contrato, optou não participar de Jogos Mortais 2, o que quebrou as pernas dos produtores. Por que apenas agora, exatamente no último filme, ele concorda voltar? Obviedade demais para um filme só.
Há uma coisa que, impressionantemente, ficou abaixo do nível dos anteriores: a maquiagem. Sim, conseguimos ver que tudo aquilo é cenográfico e de borracha, mas neste exemplar, é acentuadíssima essa impressão. A utilização do 3D fez com que os corpos, que deveriam ser jogados na tela, perdessem a qualidade – felizmente, o ganhador do Pior Uso do 3D no Framboesa de Ouro foi para o grotesco O Último Mestre do Ar. Olhem para a cena que Suzanne morre: os ferros que entram em seus olhos se mexem! Um efeito-especial terrível. Em uma cena, ao mostrar Bobby perfurando seu peitoral com um gancho, não sai uma gota de sangue. E mais: o sangue de algumas cenas, como essa de Bobby e de Jill, eram completamente artificiais, alaranjados e aguados... Ainda há uma cena que mostra Hoffman arrastando um corpo sem braços nem mandíbula. Como a polícia não viu? Ah, o corpo não deixou rastro de sangue. Um corpo com cortes gigantescos não deixou uma gotinha pelo caminho? Uma pena...
Ao olharmos a coisa desse ponto, podemos, sem cometer um pecado, analisar o rumo que a saga tomou: ganhar dinheiro. Este último exemplar foi campeão de bilheteria, seja com a ajuda do 3D, ou do ex-subtítulo “O Final” – retirado do título original devido... a sabe deus o quê. O roteiro, notem, parece ser mais pobre e desleixado, bem diferente do impecável filme original. Todavia, é indispensável comentar o legado de Jogos Mortais para o cinema. Procurem em qualquer site de busca, filmes com a palavra “mortais” ou “mortal”, ou até mesmo “jogo” ou “jogos”. Desde Jogos Mortais, esses termos se propagaram como um vírus, onde até filmes com um título nada a ver, fora acrescentada alguma palavra (Gritos Mortais é um deles, ou o mais-que-plágio Jogo Mortal). O próprio gênero deu uma renovada, e filmes com brutalidade ao máximo também tentam buscar seu espaço nas prateleiras, como o malfadado O Albergue, Retorno dos Malditos e outros. Sangue é definitivamente um ímã para bilheterias, e Jogos Mortais ajudou a concretizá-lo.
Enfim... O final da saga fora realmente muito óbvio para mim, mas seu desenvolvimento, apaixonante. Aqui, como em nenhum filme, vemos o quão Tobin Bell faz falta - um dos melhores psicopatas da história do cinema. Ele, como Jigsaw, aparece em apenas um flashback e em uns vídeos, e temos que nos contentar com Mandylor (argh). Mesmo assim, eu amo Jogos Mortais. Sou mentalmente perigoso? Só um filme, gente... Mas uma coisa que eu, Gustavo Hackaq Guimarães, amante fervoroso da saga, rezo todos os dias para que esteja errado: Game Over??? Isso mesmo, eu quero que seja o último.
😁
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