Em um período incerto de tempo, algumas surpresas aparecem no cinema sem prévio aviso, e trazem consigo um novo combustível ao seu gênero, um presente bem vindo a todo o público e, por fim, uma assinatura de sua importância. Seja em maior ou em menor grau, alguns filmes surgem no mercado com um propósito a mais que o de proporcionar entretenimento planificado, mas sim mostrar algo de maior ao público, não necessariamente algo totalmente inédito, mas diferente, algo, por assim dizer, especial.
Embarcando em uma climatização claustrofóbica onde reinam o pavor e o pânico intensos, Jogos Mortais torna-se umas das maiores e melhores surpresas do ano de 2004, calibrando ainda mais seu gênero, e registrando sua fama perante a crítica e os espectadores. Um fator decisivo a culminar no sucesso de Jogos Mortais é o deste não ater sua trama aos padrões convencionais, desde perseguições frustradas ao “misterioso” homicida a um roteiro de investigação sem qualquer esmero. O filme ultrapassa essas proporções pedestres e alça seu poder mais além, apresentando-nos a uma proposta ousada, eficiente, original, em meio à baixa média atual.
De início, somos apresentados a uma estranha cena, onde dois homens aparentemente desconhecidos acordam num lugar sujo e deplorável, cada qual preso em uma extremidade do lugar. Entre eles dois encontra-se um homem morto e a seu lado um revólver. Tudo parece não possuir qualquer nexo, mas então, dão-se conta que estão sendo testados por um lunático assassino, pouco a pouco pistas vão sendo descarregadas para que consigam se safar do jogo, e à medida que isso ocorre vão se dando conta do porquê daquilo tudo estar acontecendo.
Propositalmente foi preferido ambientar a maior parte da trama em um banheiro. Aquele local úmido e fétido proporciona à Jogos Mortais uma tensão particular, muito superior ao clima provindo dos filmes de terror atuais. A atmosfera relembra os clássicos thrillers, onde o assassino sempre possuía suas vítimas na palma da mão, não se fincando em planos e armadilhas estapafúrdias, mas sim criando um cenário de horror e sangue original e completamente impactante.
O fator “X” que distingue Jogos Mortais (1) da média dos suspenses policiais contemporâneos é justamente os elementos que o mesmo emprega para criar em seu espectador um clima inquietante de tensão, e ao mesmo tempo, conseguir ser engenhoso e singular, marchando bem até culminar em seu implacável e surpreendente desfecho, onde damo-nos conta que presenciamos não apenas um mero suspense corriqueiro, mas sim um grande filme, que mesmo longe de ser uma obra-prima, consegue acertar em quase todos os alvos que direcionou.
Pecando por algumas explicações excessivas e outras, mais importantes, deixadas no anonimato, Jogos Mortais se sobressai especialmente devido à sua criatividade, elementos estes que lhe renderam uma imagem forte e bem vista. Entre todos os problemas causados por suas seqüências mal realizadas, a qualidade do primeiro capítulo de Jogos mortais permanece ilesa aos subsequentes, não só pela sua superioridade em termos cinematográficos, mas por sua inventividade e astúcia, que resultaram em algo não muito corriqueiro para o cinema dos últimos anos: um suspense de grande qualidade.
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