"Esta noite, apontem suas armas para a Capital."
Por mais que se encerre ainda sendo visto por muitos como apenas mais uma adaptação de uma franquia de literatura infanto-juvenil com um triângulo amoroso em seu centro, a série Jogos Vorazes confirma em seu último capítulo que suas ambições são bem maiores e que, ainda que em diversos momentos possa não atingir todo seu potencial, por si só já colocaria Katniss e suas aventuras bastante acima de quase todos os concorrentes lançados ano após ano nos cinemas mundiais. Sim, a protagonista interpretada pela sempre ótima Jennifer Lawrence é uma jovem adulta que vê seu amor dividido entre dois pretendentes (o Peeta de Josh Hutcherson e o Gale de Liam Hemsworth) que ao longo dos filmes vimos serem dignos do interesse dela, mas o foco jamais foi esse, algo que os próprios personagens já reconheceram, afinal, se importar com aquela relação em meio a guerra cada vez mais devastadora que enfrentam seria algo que beira o egoísmo.
Assim, não deixa de ser admirável como ao longo de quatro filmes, a franquia conseguiu desenvolver seus personagens e suas relações sem jamais deixar de estabelecê-los como parte de algo maior, que precisaria seguir com ou sem eles, no caso, a revolução dos 13 Distritos contra a tirania da Capital comandada pelo Presidente Snow interpretado por Donald Sutherland (que possui um talento incrível para soar ameaçador sem precisar de muito mais que um sorriso para isso). Dito isso, a maneira como a série se estabeleceu desde o primeiro filme como uma alegoria bastante atual sobre as revoluções populares ocorridas ao redor do mundo e o poder da mídia na cobertura desses acontecimentos, se tornando peça fundamental para a vitória de um lado.
Dito isso, não deixa de ser uma pena constatar que apesar de ser um filme ainda bastante interessante, esse Jogos Vorazes: A Esperança - O Final talvez seja o mais irregular da série, precisando retratar uma sequencia de acontecimentos que o torna ligeiramente maior do que o necessário e ainda assim falhando ao desenvolver melhor alguns de seus momentos e personagens. Sim, é fascinante assistir Katniss como uma heroína cada vez mais forte e ciente dessa força ao mesmo passo em que se torna mais frágil e cansada emocionalmente, dando claros sinais de que mesmo seu idealismo já parece menor do que quando se tornou símbolo da revolução orquestrada (e essa palavra é a ideal aqui) pela Presidente do 13º Distrito, Alma (Julianne Moore, sempre uma presença de cena e tanto), e Plutarch (Philip Seymour Hoffman, em seu último filme). Porém, em diversos momentos a trajetória de Katniss e seu batalhão à caminho da mansão de Snow, onde a jovem pretende assassiná-lo para dar fim à guerra que tomou conta de Panem, parece esticado demais, como se fosse pré-requisito encaixar o maior número possível de obstáculos no caminho para poder reforçar a ideia de que aquela situação é uma nova edição dos Jogos Vorazes do título.
Aí o resultado é que temos cenas realmente primorosas, como aquela em que os personagens precisam lutar em um túnel praticamente sem iluminação, onde o diretor Francis Lawrence (que assumiu a série no segundo capítulo e veio até o fim) brincar com a tensão da platéia, mas também precisamos aceitar que personagens de extrema importância não sejam desenvolvidos de maneira correta, resultando em cenas que perdem seu impacto por não conhecermos bem aquelas figuras (como a Paylor de Patina Miller). Além disso, por mais que acompanhemos menos os bastidores do confronto dessa vez, em vários momentos se torna fácil antecipar as reviravoltas da trama, o que sempre depõe contra um filme que em maior ou menor escala busca o choque do espectador com elas.
Não que isso prejudique a urgência do que vemos em tela, já que o universo de Jogos Vorazes segue um lugar cinza e melancólico, onde cada momento de alívio chega acompanhado com a possibilidade de ser o último, como uma dança em um casamento, onde a câmera nervosa rodopia em torno de duas irmãs que se abraçam primeiro sorrindo mas logo reconhecendo que aquele momento de afeto pode ser uma despedida, numa das cenas de maior força da produção. A urgência do roteiro de Peter Craig e Danny Strong é tanta que quando a trágica e inevitável morte de alguns personagens importantes da trama chegam, não existe tempo para os personagens restante e o espectador lamentarem, já que a missão de Katniss e companhia precisa continuar. Assim, é natural que conforme a narrativa avança, a heroína pareça mais e mais uma casca vazia de quem já fora, algo que Lawrence, grande atriz que é, ilustra de maneira sensacional ao revelar olhos sem vida nos planos mais fechados. Mais natural ainda, é que quando finalmente pode extravasar sua dor, a protagonista se derrame em um choro convulsivo e gritos, afinal, após internalizar por tanto tempo aqueles sentimentos, eles só poderiam ser externalizados aos berros.
Levando até o fim seus questionamentos morais, Jogos Vorazes tematicamente se encerra da única maneira possível após tudo que vimos ao longo das quatro obras estreladas por Katniss e o peso da última flecha disparada ainda ecoa ao longo dos créditos finais.Por outro lado, o tal triângulo amoroso que faz parte da narrativa acaba se resolvendo de maneira abrupta e preguiçosa: por mais que já pudéssemos antecipar ao lado de quem Katniss encerraria a sua saga, a saída para essa escolha soa excessivamente fria e arbitrária, o que é uma pena por que aqui também pudemos ver Gale e Peeta (e, por consequência, Hutcherson e Hemsworth) atingindo o ápice na série, como figuras individuais e como parte da vida de Katniss, inclusive como contraponto a suas decisões no caso do primeiro e como ameaça no caso do segundo (que ainda está sob efeito da lavagem cerebral de Snow no último filme, vale lembrar).
Porém, o que talvez mais me desagrade no desfecho da série seja mesmo a última cena de Katniss. Tivesse acabado alguns minutos antes, com o fade out de duas mãos que evidenciavam, sim, amor, mas um amor amargo e que vinha muito de uma identificação mútua após os acontecimentos passados, Jogos Vorazes: A Esperança - O Final seria ainda maior. Acabando com o final feliz mais clássico possível, perde um pouco de sua força. Nada que tire o brilho de uma série que se consolidou como um entretenimento de primeira em vários sentidos a ponto de já deixar saudades enquanto ainda rolam os créditos finais.
Curto muito mesmo, Cris hahaha
A última cena foi de doer mesmo, Luiz, parecia saída de outro filme, me desagradou muito tbm e pena não conseguir pensar que foi só um sonho :(
ISSO É ALGUM TIPO DE BRINCADEIRA NÃO? NÃO PODE SER VERDADE
Lembrei que eu que fiz o Cris ver os primeiros filmes por causa dos meus textos e ele até escreveu sobre eles hahahaha, maníaco SSSSS2222