"John Wick. O cara. O mito. A lenda."
Primeiro momento: John Wick, com a cabeça valendo 7 milhões de dólares, enfrenta uma mulher, um cara de tamanho bem avantajado é uma dupla. Todos assassinos profissionais como ele. Nenhum igual ele. São três lugares distintos. Três tempos distintos. Três lutas distintas. A montagem intercala cenas das três até todas estarem resolvidas (com o protagonista como vencedor, óbvio), criando a ilusão de que ocorrem simultaneamente, com o personagem de Keanu Reeves onipresente no tempo e espaço. No universo dirigido por Chad Stahelski isso não parece impossível para John Wick, afinal, como bem diz um personagem em dado momento, ele é "o cara. O mito. A lenda."
Segundo momento: em uma ala cheia de espelhos em um museu, Wick enfrenta o exército particular do seu antagonista. Os reflexos não parecem surtir efeito nenhum nos bandidos, cópias mal feitas uns dos outros, o protagonista nem ao menos erra um tiro vitimado pela ilusão. Sobre o personagem de Reeves, no entanto, os espelhos exercem dois efeitos bastante simbólicos dentro do universo fílmico de Stahelski: 1) a ideia do "exército de um homem só" é levada ao extremo e podemos ver a representação da visão que os rivais de Wick possuem dele. Além disso, os tiros que acertam reflexos, mas que pela ilusão dos espelhos parecem acertar o verdadeiro alvo, nos dão a ilusão de que o protagonista é invencível, sobrevivendo a tiros certeiros (assim como sobrevive a outros não tão certeiros ao longo do filme, que resultam em um figura toda ferida ao fim, ainda que pronta pra mais ação); e 2) pela primeira e única vez, temos a sensação de ver Wick, o lobo solitário que em dado momento percebe estar lutando contra o mundo todo, que lhe olha querendo o prêmio por sua cabeça, lutando ao lado de alguém - que por serem seus duplos, só acentua ainda mais a imagem solitária que temos do protagonista.
Acho interessante como essa solidão do personagem - mesmo seu novo cachorro não pode participar de boa parte do filme, já que seria loucura levar o bichinho para uma guerra civil - jamais é usada para tentar dar alguma profundidade extra ao personagem. John Wick é o que é e faz o que faz simplesmente porque pode e deve. Seu antagonista até levanta a bola em dado momento sobre o personagem de Reeves ser viciado em vingança, viciado naquela ação toda, mas Wick jamais parece obter nenhum tipo de prazer naquilo tudo (podemos ver ele até meio receoso aqui ao executar sua primeira missão). Admitamos: a apatia do personagem em sua solidão compartilhada com um novo cachorro deixa meio claro que ele poderia aceitar a morte e talvez até descobrir algum alívio nela, então se o "bicho papão" não tira prazer de suas cruzadas e nem de sua vida cotidiana, por que não a aceita? Aí a resposta vem no fim da primeira missão de Wick, quando alguém que também poderia aceitar a morte, decide resolver tudo do seu jeito. É assim também para o personagem de Wick: ele morrerá, mas só quando ele quiser e como ele quiser, não pelas mãos de assassinos menos capazes que ele.
Terceiro momento: já bem perto do fim, John Wick diz que matará todos que vierem atrás dele. Uma frase que parece soar menos como uma ameaça e mais como uma promessa de continuação. Uma continuação onde ele deixa claro, encontraremos exatamente o que vimos aqui. Uma continuação onde o final não importa, mas, sim, como chegaremos nele. Uma continuação que iremos correndo ver.
Porque, afinal, é John Wick. O cara. O mito. A lenda. Ou como diria o jogador Madson: O FODA!
Ótimo texto para um grande filme!
Obrigado, dê s2