É curiosa a maneira como Josey Wales se encaixa na carreira de Clint Eastwood, seu enredo, sua historia sendo desenrolada. Pode-se dizer que seu significado se assemelha ao de Gran Torino, realizado mais de quarenta anos depois, como se ambos fossem extremos para o ator/diretor. Se o filme de 2008 é uma espécie de auto-avaliação, até alcançar um fim redentor, onde Eastwood se desapega de seus personagens e termina crucificado, esta obra é sobre como viria a se tornar um símbolo de um gênero e do cinema em geral.
O enredo é propício, Eastwood é um pequeno fazendeiro, que vive no campo sobrevivendo de trabalhos manuais na terra, é casado e tem um filho. Ao perdê-los num massacre rende-se a investir contra a União na guerra em batalhas violentas, pouco a pouco vai ganhando habilidade no ato de matar e se mostra apto, mas ao fim da guerra, o pistoleiro sangue frio que se tornou não tem mais para onde ir, decide então manter-se na resistência solitária, e forma um exército de um homem só que mata dezenas com facilidade e passa a se dedicar a vingar sua família.
Ao longo de sua empreitada onde atravessam seu caminho diversas figuras curiosas, o fazendeiro do início passa por um processo de transmutação, onde aos poucos se personifica num matador implacável, num clássico justiceiro que pertence ao oeste, chamado Josey Wales. É fascinante ver a maneira como Clint constrói seu personagem, de um fazendeiro até um pistoleiro mítico. A cada novo encontro, a cada nova troca de tiros e caçadores de recompensas que encontra no caminho, um novo apelido, uma nova historia absurda sobre ele, até que ele já se tornou uma lenda tradicional do oeste, sobre quem são ditas ao vento historias extraordinárias de que o próprio nunca ouviu falar, um verdadeiro mito.
E nessa direção, o cavalheiro vai cruzando cidades numa fuga constante, eliminando qualquer ameaça, um cuspe e uma morte. Em sua jornada ele encontra o índio Lone Waite, interpretado por Chief Dan George, que é um achado, cômico de uma maneira sutil, roubando a atenção sempre que aparece. E é o responsável pelo estudo que o filme refaz em cima da figura indígena no oeste, analisando sua posição naquele ambiente cada vez mais opressor, onde via seus direitos serem retirados a força.
O maior dos trunfos de Eastwood aqui conecta seu trabalho como ator e diretor diretamente, mesmo trabalhando a mistificação de Josey Wales com toques de frieza, ele é capaz humanizar seu personagem, lhe encobre de melancolia que resiste em ser deixada para trás. É um personagem intimista, seu interior é o foco do olhar, a cicatriz que carrega simboliza toda sua dor ao mesmo tempo que lhe concede uma expressão ameaçadora, seu silêncio não é algo que lhe é natural, a vida lhe trouxe essa característica, o que contribui com seu mistério. Seus faroestes foram reconhecidos pelo caráter revisionista sobre o oeste, e perante esta idéia, Josey Wales, O Fora da Lei, é o mais significativo dos filmes de Clint Eastwood.
Passei pra dizer tudo que já disseram, mas vou dizer mesmo assim: O mais subestimado do Clintão e o texto está ótimo!
Mas se fosse pra escolher ficaria com O Estranho Sem Nome também.
Diria que \'O Estranho sem Nome\' é o mais controverso, ao mesmo tempo que muitos descem o cacete, muitos levantam-o acima do merecido.
Estranho sem Nome é sem palavras, se pegar The Shooting do Hellman, não existe outro faroeste parecido com esses dois, com aquela atmosfera