"Bem-vindos ao Jurassic Park."
Jurassic Park não é o filme que me fez ficar apaixonado por cinema (a culpa é de Clint Eastwood e seu Menina de Ouro), mas é talvez o primeiro filme que fez perceber o quão mágica a sétima arte consegue ser em seus melhores momentos. Para uma criança do alto de seus seis, sete anos, poucas coisas podiam maravilhar mais do que dinossauros caminhando lado a lado com humanos de maneira tão realista como visto no filmaço de Steven Spielberg.
Assistir Jurassic Park então, nas seguidas (e sempre tão poucas) reprises na televisão ou gastando o VHS da locadora de tanto rebobinar, era manter por duas horas a expressão de deslumbramento do Dr. Alan Grant (Sam Neil) e da Dra. Ellie Sattler (Laura Dern) ao avistarem o primeiro dinossauro caminhando tão vivo quanto ele no parque do título, criado pelo milionário John Hammond (Richard Attenborough) em uma ilha para abrigar os seus clones dos répteis gigantescos. Serão duas das horas mais incríveis que o cinema já nos proporcionou. E duas das mais tensas também.
Por que Spielberg vai nos fazer brilhar os olhos com a beleza de um majestoso braquiossauro que se ergue para alcançar as folhas do topo de uma árvore, mas também vai brincar sadicamente com nossos nervos quando mostrar as consequências de um humano querendo brincar de Deus. Por que, como o divertido Dr. Ian Malcolm (Jeff Goldblum) diz em dado momento, jamais poderia dar certo mexer com animais que por alguma razão foram extintos há milhões e milhões de anos antes da humanidade surgir - e essa discussão ser levantada alguns anos antes da revelação dos experimentos com a clonagem de uma ovelha, que resultou na famosa Dolly, é mais um indicio do brilhantismo do roteiro de David Koepp e, claro, do livro de Michael Crichton, que o originou.
Não que debates éticos sejam o maior interesse aqui. Jurassic Park é Spielberg, talvez o maior showman do cinema, em seu momento mais showman de todos. É um tchau pra ciência - os "furos" científicos são inúmeros - e um abraço apertado na fantasia. É a essência do cinema. É um T-Rex que passa o filme todo sendo o temido "vilão" chegando no último momento para ser o herói do dia, edificado pela trilha memorável de John Williams. É aquele filme que não te deixa jamais ficar desgostoso com o tio Spilba, por que qualquer um que faz algo como a preparação para a entrada do T-Rex em cena e sua entrada triunfal, merece crédito ilimitado na casa.
Da vaca dada de alimento logo no início ao bode que é deixado de lado por um predador cansado de receber alimento na boca, passando pelo momento em que uma parte ensanguentada desse mesmo bode cai em um carro, além é claro, da água balançando em um copo, que se tornou sinal universal da aproximação do perigo a partir daqui, tudo é a força do cinema elevada ao máximo até o momento de êxtase que valeria qualquer filme, mas que aqui é "apenas" mais um numa galeria que parece não ter fim: o T-Rex em toda sua majestade, rugindo um som tão assustador quanto inesquecível. História cinematográfica sendo feita na frente de nossos olhos muito menos em função do trabalho impressionante dos técnicos de efeitos especiais da Industrial Light & Magic (ainda não superados por Avatares e Transformers da vida, vamos combinar) combinados com os animatrônicos do mestre Stan Winston, muito mais em função do talento de Spielberg para criar aventuras icônicas.
Como a que traz dois irmãos (Jospeh Mazzello e Ariana Richards) em uma cozinha, lidando com a ameaça de dois velociraptors, onde Spielberg usa seu talento em um dos meus momentos favoritos do filme, quando engana um dinossauro e nós, espectadores, ao revelar que o que víamos era apenas o reflexo da personagem de Richards. Um "sadismo" que Spielberg parece ter perdido pelo caminho ao longo de sua carreira - ou você acha que ele hoje em dia filmaria em tom de humor negro um T-Rex devorando um homem sentado em um vaso sanitário? Ou outro homem batendo a cabeça e caindo enquanto tenta fugir de um predador?
Não que ele "precise" fazer isso. Por que mesmo se tivesse se aposentado depois de Jurassic Park, Spielberg teria o nome gravado para sempre na história do cinema. E sempre poderíamos nos aventurar maravilhados por essa obra-prima, bastando dar o play para escutar as palavras mágicas que abrem esse texto.
Mas que texto é esse, caro Pedro?! Meu Deus!!! Com certeza, um dos melhores que já li até hoje. Daqueles apaixonantes e que nos fazem recriar na nossa mente cada cena tão maravilhosamente bem descrita por você em cada linha.
O trabalho de Williams é tão fenomenal, que só de ler o nome do filme a música tema já vem na mente.
Spielberg é o maior gênio do entretenimento. Não tem pra Walt Disney da vida. Se querem saber o que é um espetáculo, procure Spielberg no Google.
Filme nota 9,0. Texto nota 10,0.
Pô, Cristian, acho que você exagerou nos elogios aí hahaha.
Nos direcionados a mim, no caso, por que o Spielberg é tudo isso mesmo. Quando o cara quer, ele é o que mais nos maravilha com o poder do cinema fantástico.
Pedro Lubschinski >>>> Spielberg
Se estiver falando do Spielberg de Cavalo de Guerra e Lincoln, até concordo, Chico hahaha