No final da década de 1980, ao mesmo tempo do boom da manipulação genética e das teorias sobre a clonagem, surgiu a Teoria do Caos, um conceito filosófico e matemático. Segundo esse pensamento, as equações não-lineares, ou seja, os sistemas complexos, são imprevisíveis, devido ao grande número de fatores que os influenciam, ignorando um pouco as probabilidades matemáticas. Por exemplo, se um dado simples de seis lados for jogado, cada um de seus lados possui a chance de uma em seis de aparecer por cima desse cubo. Entretanto, isso não significa que se um dado for jogado seis vezes, cada uma dessas vezes aparecerá uma face diferente, uma vez que são tantos os fatores, como o atrito com o ar e o ângulo em que o objeto que atirado, que se torna impossível manter o controle sobre esse complexo sistema. Geralmente, a Teoria do Caos é representada por ondas partindo de um mesmo centro indo para direções diversas Nessa mesma época, o escritor Michal Crichton escreveu um livro chamado “Jurassic Park”, no qual essas ideias são demonstradas. Em 1993, o célebre Steven Spielberg lança um filme baseado nesse romance, no qual o próprio Crichton participou como roteirista.
O argumento desse filme é interessantíssimo. O rico John Hammond investe seu dinheiro em pesquisas genéticas de material fossilizado, com a intenção de trazer os animais pré-históricos de volta à vida, obtendo êxito. Seu objetivo é de construir um parque temático com dinossauros vivos. Mas, antes de o parque ser inaugurado, ele chama um grupo de cientistas para avaliá-lo.
Uma coisa que realmente chama a atenção no roteiro do filme é que ele é muito mais voltado à ficção científica que ao gênero fantasia. Antes de “Jurassic Park” as obras que tratavam de dinossauros, como o livro “A Viagem Ao Centro da Terra” de Julio Verne e a versão de 1933 de “King Kong”, eram muito fantasiosas, con dinossauros aparecendo em ilhas perdidas ou em lugares remotos. Mas o que Crichton e Spielberg nos dão é algo diferente. Eles criam uma base crível para a volta desses animais a vida. A hipótese de haver sangue conservado dentro de mosquitos fossilizados em âmbar foi tão crível que os cientistas foram testá-la. Obviamente, se comprovou que isso não é possível. Mas aí é o que tornou essa obra tão importante, criar um conceito que meio que levou as pessoas a acreditarem que aquilo que era apresentado no filme tinha um fundo de verdade.
O tema da teoria da caos já aparece logo na primeira cena do filme. Um dinossauro carnívoro está sendo transferido de uma gaiola para uma jaula maior. Um grupo de homens armados está ao redor para manter a situação sob controle. Entretanto, um deslize pequeno do funcionário encarregado de abrir a jaula acabou soltando o bicho, que atacou um dos guardas. Aqui é apresentada a principal ideia da Teoria do Caos: o Efeito Borboleta, que propõe que, em sistemas complexos, pequenas alterações, por menores que pareçam, podem mudar o resultado previsto. Essa cena é importante para o filme, pois mostra que desde o inicio o parque não estava sob controle.
Spielberb quis repetir aqui o mesmo sucesso de “Tubarão”. Para isso, ele utilizou algumas técnicas parecidas. No filme de 1975, o vilão só aparece de relance nos seus primeiros ataques, assim como o velociraptor na cena inicial do longa de 1993. A primeira aparição do tubarão foi na memorável cena “Vamos precisar de um barco maior”. Uma aparição rápida e assustadora. Em “Jurassic Park”, o velho Steven pegou o caminho inverso. A cena do braquiossauro é lenta e suave, assim como o emocionante tema de John Williams tocando vagarosamente ao fundo. Nunca antes os efeitos especiais chegaram àquele ponto, a frase que o Dr. Alan Grant diz naquele momento deve ter passado pela cabeça de todos aqueles que estavam assistindo ao filme na época: “Isso é um dinossauro!”.
Durante o passeio inaugural, uma pequena pane no sistema de segurança causado por um funcionário mal intencionado do parque acaba desligando as cercas de segurança que isolam os dinossauros (o Efeito Borboleta aparecendo de novo no filme).Eis que o filme chega no seu clímax, quando os visitantes observam nos copos de água dos carros, ondas, símbolos do Caos, aparecendo, sugerindo que alguma coisa realmente grande está sé aproximando. Até que a cerca finalmente cai e o tiranossauro rex aparece, para o pânico dos visitante. Uma curiosidade: na cena em que o tiranossauro tenta quebrar o vidro, o roteiro original não previa que o mesmo se soltasse e tentasse esmagar as crianças. Mas como ele possivelmente não foi bem encaixado, acabou se soltando e caindo em cima dos jovens atores, produzindo gritos verdadeiros de horror. Spielberg gostou tanto desse incidente que acabou por incluí-lo na edição final do filme. Até quando não se tem a intenção a Teoria do Caos está em “Jurassic Park”!
Falar bem da parte técnica do filme é chover no molhado. Os efeitos especiais simplesmente até hoje não envelheceram. E a trilha sonora do John Williams é fantástica, não somente no temas principais, mas também nos mais ocasionais, utilizando instrumentos de sopro para dar um ambiente mais selvagem ao filme. Em termos de atuação o elenco todo cumpre bem o seu papel, em especial Jeff Goldblum, como Ian Malcom (melhor personagem do filme) e Sam Neil como o já citado paleontólogo Dr. Alan Grant. O filme ainda tem outros casos interessantes, como o fato de os dinossauros aparecem em apenas cerca de quinze minutos em um filme de duas horas. Mas, mesmo sem os seus verdadeiros protagonistas na tela, o longo continua interessante, já que as conversas entre os personagens são fabulosas, especialmente abordando as questões éticas do parque. John Hammond acha que possui tudo sob controle, quando tem todo um script na apresentação do laboratório do parque para os visitantes, mas dá as costas quando Grant e outro personagem falam sobre o potencial destrutivo dos velociraptores.
O Dr. Alan Grant é o personagem principal do filme, e é nele que está mais uma analogia, dessa vez não relacionada à Teoria do Caos. Quando ele está escavando um fóssil de dinossauro no deserto, ele assusta uma criança incrédula nas suas ideias sobre o parentesco entre aves e os dinossauros utilizando uma garra de velocirator fossilizada. Logo depois disso, ele diz que detesta crianças. Posteriormente, ao saber que estaria acompanhado pelos netos de John Hammond ele fica claramente desconfortável. Mas, à medida em que eles passam por experiências juntos, Grant acaba mudando, se tornando uma figura parental para as crianças. Em duas cenas isso fica claro. Na árvore, enquanto as crianças dormem em seus braços, ele joga a velha garra de assustar crianças fora. E a última cena do filme, em que, novamente as crianças estão dormindo em seus braços, ele olha para a janela do helicóptero e vê as aves, que nada mais são do que dinossauros evoluídos, voando. Ele também evoluiu.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário