Novo longa leva a franquia para caminhos nunca antes imaginados
As franquias muitas vezes são frutos do sucesso de um único filme. De certa forma, foi o que aconteceu com a franquia Jurassic, que apenas virou franquia devido ao inacreditável sucesso do clássico Jurassic Park (1993). As outras duas sequências que vieram depois, apenas serviram para expandir a franquia, mas ainda aproveitando todas as linguagens visuais estabelecidas no primeiro longa, que votaram a se repetir no quanto longa, mas de forma intencional e como forma de homenagem ao primeiro longa, o que faz do quarto filme a melhor sequência de Jurassic Park até agora.
Contudo, uma franquia não pode viver sempre das mesmas referências, e é ai que entra Jurassic World: Reino Ameaçado, novo filme da franquia que vem para provar que a saga dos dinossauros agora está completamente diferente.
A primeira coisa a ser notado neste novo longa é a história, que nos leva de volta a Ilha Nublar, agora ameaçada pela iminente erupção de um vulcão. Os governantes de diversos países, juntamente com alguns órgãos de proteção animal discutem o que deve ser feito com os dinossauros, deixar os animais desextintos perecer ou proporcionar a eles os mesmos direitos que são dados a outras espécies ameaçadas de extinção. É nesse momento que uma equipe decide viajar até a ilha para capturar exemplares de cada espécie e transportá-las para um local protegido.
Desde o primeiro livro de Michael Crichton, a ideia de Jurassic Park era mostrar os dinossauros como animais, e desassociá-los da imagem de monstros que havia sido construída sobre eles até então nas obras de ficção e no imaginário popular. E de certa forma, Reino Ameaçado é o filme que melhor fez isso, pois os dinossauros acabam servindo de metáfora e crítica questões ecológica e conservacionista, como o tráfico de animais e a preservação de espécie em cativeiro.
Entretanto, apesar dos humanos tratarem os dinos como animais, o próprio filme quase sabota a ideia ao ser o longa onde os dinossauros mais agem como monstros. Na cena da erupção vulcânica, várias espécies de dinossauros e alguns personagens humanos estão fugindo da destruição. A cena é muito empolgante e certamente um marco na franquia, porém algo não parece fazer sentido, pois em meio a perseguição, alguns carnívoros deixam de fugir e aproveitam a oportunidade para caçar, o que acaba com qualquer senso de lógica estabelecido até aquele momento.
Felizmente, este é um dos poucos defeitos do filme realmente relevantes, já que a direção afiada de Juan Antonio Bayona, nos leva para caminhos nunca antes visto em toda franquia. Além do discurso ambientalista presente na história, Bayona nos presenteia com o Jurassic mais assustador da franquia. Inclusive, é válido lembrar que nos 30 minutos finais de Reino Ameaçado, o longa se torna um filme de terror, com direito à uma cena assustadora envolvendo a nova personagem criança (Isabella Sermon) e a nova espécie modificada conhecida como indoraptor. O diretor brinca com com as sombras e os movimentos de câmera, e usa do cenário assustador como uma verdadeira casa assombrada. A cena em questão é certamente uma das mais estilizadas e memoráveis da saga.
Muito dessa atmosfera de horror se deve pela trilha sonora de Michael Giacchino, que consegue manter os temas clássicos da franquia compostos por John Williams e as lindas músicas oriundas de seu trabalho no filme anterior. Entre as novas músicas, os maiores destaques estão para o terror, que usam um coro estrondoso de vozes, algo nunca sentido antes em toda saga Jurassic. Destaque para primeira música a tocar no filme, “This Title Makes Me Jurassic”, arrepiante, e é claro, o tema do indoraptor “Thus Begins The Indo- Rapture”.
Diferente de seu antecessor, que tinha como objetivo referenciar ao clássico de 1993, a direção de Reino Ameaçado trabalha bem com a edição para entregar cenas únicas e totalmente diferentes de tudo o que foi visto em todas saga, algo que eleva nível deste longa e nos proporciona momentos memoráveis. Fora as já citadas cenas do indoraptor e da fuga do erupção, merecem destaque a cena de abertura (a melhor introdução de toda saga), o plano sequência aquático com a girosfera, a cirurgia, o leilão e, principalmente, a cena do adeus ao Jurassic Park, o momento mais comovente de todos os Jurassic.
Dos personagens do filme anterior, retornam Owen Grant (Chris Pratt), que está um pouco menos palhação e um pouco mais porradeiro, aliás, protagonizando aquela que é até então o único conflito corpo a corpo entre humanos da série, mais um diferencial deste Jurassic em comparação com os outros. A cena em questão é hilária e envolve a participação mais do que especial de um stygimoloch, um dos novos dinossauros da saga. Claire Dearing (Bryce Dallas Howard) é a personagem que mais mudou de um longa para o outro. A mocinha agora deixou de ser aquela mulher fria em relação aos animais, e se tornou ativista da principal ONG de defesa dos direitos dos dinossauro. A imagem da mudança de personalidade de Claire se reflete até mesmo na vestimenta, a personagem trocou o sapato de salto por botas de aventura.
Dr. Henry Wu retornou também, mas desta vez muito mais surtado, um verdadeiro cientista louco que não quer dinheiro, apenas reconhecimento pela criação de seus animais, dos quais ele considera belos, quase uma arte.
Entre os novos personagens estão Ken Wheatley (Ted Levine), o grande caçador branco que reflete o que há de pior em relação ao que o ser humano é capaz de fazer com os animais; Benjamin Lockwood (James Cromwell), que aparece pouco, mas se revela um personagem memorável e carismático, seja pelo seu passado misterioso ou pela seu carinho para com os dinossauros; Eli Mills (Rafe Spall), personagem que atiça a curiosidade em um primeiro momento, mas pouco tem a dizer; Franklin Webb (Justice Smith) e Zia Rodriguez (Daniella Pineda), que formam uma dupla curiosa, ela é uma mulher corajosa e determinada a fazer o que for preciso para proteção dos dinossauros, enquanto que ele é um bobão, covarde, escandaloso e desnecessário alívio cômico, que poderia muito bem ter sido substituído pelo personagem Lowery Cruthers (Jake Johnson), que roubou a cena no filme anterior.
O nosso querido Ian Malcolm (Jeff Goldblum) faz uma participação pequena, mas, como era de se esperar, é dono do melhor diálogo do filme, em uma cena que fecha o longa com chave de ouro.
O público mais casual não deve nem notar, mas para os fãs fica estranho a forma como o longa “desconsidera” o segundo e o terceiro longa da franquia ao mencionar que os dinossauros da Ilha Nublar são os único que existem, ignorando completamente a existência da Ilha Sonra, o Sítio B, local onde se passa dois filmes da saga, e que pela lógica canônica, ainda deveria estar habitada por dinossauros. O site oficial do filme conta que os animais da Ilha Sorna foram transferidos para Ilha Nublar na época da construção do parque, o restante deles morreram vítimas de uma doença. Essa é uma informação oficial, mas que não é mencionada no longa.
Mesmo com alguns probleminhas de lógica, Jurassic World: Reino Ameaçado é um sequência digna do nome que carrega e entrega uma aventura divertida, assustadora e diferente de tudo o que a franquia era até o momento, mas se isso é bom ou ruim, vai depender do ponto de vista.
sPOILERS
Dentre as críticas ambientais que o filme aborda a mais evidente é o tráfico de animais, muito comum aqui no Brasil. A viagem até a Ilha Nublar com a intenção de resgatar os dinossauros era uma farsa para capturá-los e vendê-los no mercado negro, o que parece uma premissa ridícula, mas quando pensamos que o filme apenas está usando os dinossauro para refletir um crime muito comum atualmente, a ideia se torna ainda mais plausível.
O longa também levanta a questão da criação de animais em cativeiro em um leve diálogo entre Claire e Mills, quando a moça julga o vilão por seu plano de vender os dinossauros, ele a retruca dizendo, “você passou anos explorando esses animais em jaulas. Não somos tão diferentes assim”, uma alfinetada que nos faz refletir na diferença entre se criar animais em cativeiro para exploração comercial e criar animais para fins conservacionistas.
A conclusão que o filme tem leva a um oceano de possibilidades. Quando os heróis conseguem derrotar o indoraptor e acabar com o leilão dos dinos, em uma tentativa de salvar os animais, Maisie Lockwood, se descobre que é um clone da filha de Benjamin Lockwood, abre os portões do compartimento onde os dinossauros estavam alojados, soltando todos os animais Califórnia a dentro. Isso sem considerar os dinos que foram transportados para diversos lugares do mundo depois do leilão e o gigantesco mosassauro, que escapou do lago na primeira cena.
Não é mencionado quantos dinos escaparam e nem quantas espécies, mas são dinossauros suficiente para fazer bastante estrago no próximo filme.
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