Karatê Kid foi um dos filmes mais divertidos lançados na década de 80, que trazia elementos aparentemente comuns, que nas mãos de um diretor tão versátil e eficiente como Jhon G. Avildsen pôde se transformar em um modelo clássico que é lembrado de forma saudosa até hoje. Tanta admiração rendeu recentemente um remake para que as novas gerações possam conhecer toda a magia que cercava os personagens de Daniel e Miyagi, aqui conhecidos como Dre e seu mestre Han. A estrutura do filme de 1984 é a mesma, quase idêntica quadro a quadro, o que torna um prazeroso exercício de apreciação para os fãs da obra original, deixando ainda mais aliviado quem esperava algo mais radical e que não tivesse ligação com a obra anterior. Essa nova versão é tão lírica quanto aquela, e mesmo com a inserção mais que natural de conceitos jovens e da cultura pop moderna, não perde sua força e muito menos se mostra um exemplar abaixo da média.
Acompanhar Han salvando Dre de ser massacrado por garotos rivais, passar pela bucólica passagem em que garoto conforta mestre após este tomar conhecimento do passado doloroso de seu sensei, o treinamento inusitado e eficiente, todos estes belíssimos momentos estão mais que presentes em uma trama dinâmica que nunca parece perder fôlego ou entusiasmo. Karatê Kid não se estagna apenas a recontar passo a passo os acontecimentos do filme original, mas apresenta um delicado e irresistível romance entre Dre e a garotinha da vez, tomando praticamente 60% do tempo de toda a projeção, tamanha a preocupação do diretor em enfatizar tal relação, que promete conquistar seu público pela sinceridade e claro, o carisma inabalável de Jaden, que assim como seu pai Will Smith, parece levar tais situações com bastante descontração, irreverência e muito romantismo.
O ritmo do filme é excelente, deixando que o interesse do telespectador nunca diminua, e mesmo que o romance de Dre tenha tomado grande parte da projeção, o treinamento e as lutas de kung fu (o que mesmo assim não alterou o título por questões óbvias como marketing), se faz presente de maneira marcante. Jackie Chan foi uma escolha primordial para que o sucesso e a fascinação fossem mantidos, tendo em vista o maravilhoso trabalho de Pat Morita nos anos 80. Quem poderia ser escolhido à altura de Pat, senão Chan com seu carisma exalando de todo seu espírito divertido e chamativo. Mesmo comedido e menos engraçado que Miyagi, o Sr. Han promove incríveis passagens, sempre ladeados pelo exuberante cenário chinês como fundo, que participa afetivamente da trama, principalmente nos arcos que correspondem os treinamentos.
Os combates foram deixados em segundo plano, relegados à poucos minutos finais, mas que são compensados por um treinamento filmado de forma inspirada e sempre criativo. Talvez uma das maiores falhas do filme esteja justamente no destino reservado ao romance de Dre com a garota chinesa, que toma conta de quase tudo na projeção, parta ao final no arco dos duelos, ser esquecida completamente, não restando ao menos um abraçinho, o que retira um pouco da força estabelecida outrora e de todos os esforços do diretor em legitimar tal relação. O golpe derradeiro não é marcante quanto o original e emblemático salto da águia, mas consegue ser decisivo também e elevar ainda mais os sentimentos de heroísmo e glória que permeiam os minutos finais. Ponto super positivo à Chan e sem dúvida ainda para Jaden, que mostra um grande amadurecimento frente às câmeras. Karatê Kid volta a ser emoção genuína, depois de se apagar em amargas continuações que não visavam a arte, e sim os valores monetários.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário