Após o lançamento bem sucedido da primeira parte de Kill Bill, chegava no ano seguinte a continuação que prometia solucionar todos os mistérios levantados, além de finalmente acontecer o tão aguardado acerto de contas entre a Beatrix e Bill. Porém Tarantino pisou na bola quando retirou de cena todo aquele fantástico clima de ação, tensão e muita, mas muita emoção, para dar lugar a passagens arrastadas e sem a mesma criatividade mostradas tão bem no primeiro volume.
Não que Kill Bill: Vol. II seja ruim, longe disto, mas não lembra a beleza e encantamento do original, muito menos conta com o brilhantismo de Tarantino, não parecendo que estes filmes foram filmados juntos, tamanha a mudança de clima. As cenas de luta que deixaram o público fascinado não estão aqui, e as poucas não chegam nem aos pés do ótimo trabalho de suas concepções. Dos acertos de conta do filme, o melhor é o embate de Beatrix com Elle. Pelo menos uma coisa e mantém e ainda aumenta sua dose, a diversão.
Este Vol. II é diversão garantida, com passagens maravilhosas, como o árduo treinamento de Beatrix com Pai Mei, em situações divertidas e tensas ao mesmo tempo, deixando a projeção pegando fogo de interessante. Realmente todo esse interesse e apreensão é proveniente do primeiro capítulo, que tratou muito bem de preparar o público para fortes emoções, em um confronto final que entraria para a história cinematográfica, um acerto de contas com bastante sangue e violência, elementos presentes no original. Pena que não é o que ocorreu.
Se a batalha mortal de Beatrix e O-Ren deixara o telespectador admirado e de boca aberta por tamanha beleza e eficiência, não poderia se esperar coisa diferente para o tão aguardado acerto de contas. Antes disso, Tarantino amarra as pontas soltas, resolve muitas questões que ficaram abertas no filme anterior, além claro, de promover a luta de Beatrix com os dois restantes da gangue que fizeram uma verdadeira chacina em um ensaio de casamento. A luta contra Budd (um Michael Madsen em grande estilo) serve como aperitivo para o maior confronto do longa, e engana-se quem pensa que é contra Bill.
O embate de Beatrix com Elle é um dos melhores e maiores de todos os volumes, se igualando ao histórico e fantástico combate contra O-Ren. A luta é bem mais corporal, visceral e suja, se passando dentro do trailer de Budd. A rixa das divãs é antiga, e toda essa raiva é colocada para fora em cenas de tirar o fôlego. Ponto positivo para Tarantino, mais uma vez conduzindo a luta de forma maravilhosa, deixando que seu ritmo nunca perca a força, aumentando a cada minuto da projeção, sua tensão e momentos de aflição. O desfecho é sensacional, e não poderia ter ficado melhor.
O humor negro presente neste Vol. II é digno de parabéns, mesclando muito bem com as cenas de tensão, embora não sejam muitas, onde Tarantino prefira explicar e amarrar as pontas soltas do que propriamente desenvolver a ação e botar fogo na trama, como fez magistralmente no primeiro filme. Mas as passagens e principalmente os diálogos são ricos e criativos em matéria de diversão, elevando o nível neste quesito. Mas é evidente que o original é mais completo.
Então finalmente, depois de resolver os assuntos pendentes, explicar fatos e ligar os pontos, o circo está armado para a grande luta e acerto de contas da história entre Beatrix e Bill....NOT. O que Tarantino quis fazer foi humanizar os personagens ao máximo, onde explora os diálogos como fonte principal para acertar todas as diferenças envolvendo os personagens, e não os confrontos sanguinários que marcaram presença anteriormente. O desfecho é super sem graça, não contendo um pingo da energia que fora criado para a mesma, durante 1 filme e meio.
Após massacrar com extrema violência os integrantes da gangue de Bill, a trama decepciona quando chega a hora decisiva de acabar de vez com todo o mal, e finalmente saciar a sede assustadora de vingança da personagem Beatrix. É frustrante acompanhar todo o desfecho, onde a principal sensação percebida é falta de criatividade, elemento este que não faltou em momentos de pura emoção e adrenalina anteriormente. A personagem ao invés de se manter fria, como fizera em todas as suas lutas para chegar a Bill, faz justamente o contrário, muda completamente sua personalidade, tornando-se facilmente vulnerável e chorona.
Kill Bill: Vol. II não consegue manter o mesmo brilhantismo de outrora, mesmo mantendo e ampliando sua dose de diversão, com algumas cenas realmente tensas, como aquela que envolve Beatrix em uma cova. Tarantino quis diminuir a intensidade dos confrontos para aumentar os diálogos e as explicações, tirando grande parte daquele clima gostoso e extremamente interessante de antes. Mesmo assim, Kill Bill: Vol. II ainda é garantia de diversão, com cenas muito bem idealizadas, mesmo que tenha derrapado em seu principal, no desfecho.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário