[Diretor de Shakespeare Apaixonado dirige suspense estrelado por Mickey Rourke]
Se Nostradamus estivesse aqui no século 21, sob o efeito de ópio e aporrinhando os outros com suas historinhas sugadas dos pergaminhos finais do Novo Testamento, ele diria o seguinte: “daqui uns seis anos, mais ou menos, Killshot – Tiro Certo será atração de sábado no Supercine.” O engraçado é que esses filmes que passam depois do Zorra Total são geralmente específicos para TV, feitos por um imbecil qualquer sem cacife pra se meter nas grandes produções e sem coragem pra entrar na pornografia. Mas nesse caso, o diretor em questão é John Madden que até que é um cara respeitável. Tudo bem que Shakespeare Apaixonado é um dos filmes mais toscos a ganhar o Oscar, mas está longe de ser descartável. O mesmo dá pra dizer de A Prova, um dos pontos altos da carreira do cineasta.
Killshot até tenta ser um thriller empolgante. Baseado na obra homônima de Elmore Leonard, o filme procura ostentar alguma personalidade, só que peca pelos seus excessos. Excesso de preguiça de certos personagens. Excesso de mostrar serviço de outros. Excesso até de subtramas que se prolongam demais e atrapalham outras mais importantes. Mas exageros não excluem qualidades e ao se verificar pesos e medidas, vemos que o diretor entregou o filme que rende pela metade. Não é nem fracasso, tampouco obra-prima.
Mickey Rourke que voltou à carne seca após a atuação de O Lutador, interpreta aqui um matador de aluguel, descendente de índios, conhecido como Blackbird. Magoado pela perda do irmão mais novo (também assassino) e perseguido pela máfia, ele está em fim de carreira. Isso até conhecer o destemperado Richie Nix (Joseph Gordon-Levitt), um golpista de meia-tigela, porém disposto a subir de ramo no mundo do crime. Embora se desentendam no começo, o temperamento do garoto lembra muito o do irmão. Por esse motivo, acaba ajudando-o a extorquir uma imobiliária.
Acontece que o plano dá errado e quem paga o pato é o casal Carmen (Diane Lane) e Wayne Colson (Thomas Jane) que presenciam o crime e passam a ser perseguidos pelos criminosos. Como se não bastasse enfrentarem uma crise conjugal, eles terão que entrar no programa de proteção a testemunhas e sair da cidade. O problema é que Blackbird é esperto e monta as peças para achá-los. Até porque ele não costuma perdoar qualquer um que possa reconhecer o seu rosto. O que ele não contava é que seu papel de mentor deixaria o parceiro fora de controle.
Como Killshot coloca o suspense e o drama conjugal na mesma medida, a impressão que dá é que uma das partes da trama foi estendida desnecessariamente. Por incrível que pareça, o processo de reaproximação do casal chama mais a atenção que a caçada promovida pelos criminosos. O que convenhamos, é péssimo para uma produção que se projetou para ser um thriller. A tentativa do diretor de encorpar o filme com essa carga dramática pode até ter sido nobre, mas também foi falha à medida que se sobrepôs ao suspense.
Outro problema foi a irregularidade do elenco. Rourke, pelo visto, resolveu mascar chiclete e seguir o script sem grandes compromissos. Tudo bem que a impassividade do assassino de aluguel é proposital, mas ele não faz o mínimo esforço para notabilizar seu personagem. Diferente do que acontece com Joseph Gordon-Levitt (10 Coisas que Odeio em Você) que quis executar a performance da sua vida e extrapolou na afetação. Diane Lane nem precisou se empenhar muito pra ofuscar o fraco Thomas Jane.
Encerrar uma resenha de forma imparcial e com originalidade é sempre difícil. Na falta de argumentos pra finalizar, sempre se busca uma frase engraçadinha, um argumento crítico sustentável ou uma analogia idiota. Poderia voltar a falar do Nostradamus e tentar soar espertinho, mas aí entraria muito a fundo na ficção. Poderia também deambular sobre as matizes da narrativa cinematográfica, o que também não adiantaria muito. Então, só me resta recorrer ao óbvio: Killshot – Tiro certo não é um tiro que saiu pela culatra e muito menos uma bala certeira no alvo. Ele é, no máximo, um tiro de raspão na guampa de um alce. Ok, no próximo texto a analogia não será tão cretina assim e filmes melhores virão…
http://blig.ig.com.br/planosequencia
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário