Considerado por muitos como o filme mais elegante e divertido da carreira de Hitchcock, ainda que não seja tão esplêndido quanto suas obras principais, "Ladrão de Casaca" vale e deve ser conferido.
Este é também um filme de certa forma triste para o diretor, que viu sua estrela Grace Kelly abandonar o cinema para sempre, após conhecer durante as filmagens nas locações da Riviera Francesa o príncipe Rainier de Mônaco, casando-se logo após o término das filmagens.
"Ladrão de Casaca" é um trabalho que se desliga do clima de suspense de outros filmes, abraçando um romance convencional, cheio de grandes momentos narrativos, já típicos no cinema do diretor. Sobre um roteiro galhardo de John Michael Hayes, baseado no romance de David Dodge, a história desenvolve-se a partir da busca de um ex-ladrão de joias, John Robie (Cary Grant), que passa a ser incriminado quando novos furtos passam a acontecer, uma vez que o ladrão vem utilizando das mesmas artimanhas que deixaram Robie famoso.
O protagonista, apelidado pelos jornais como "gato", por sua vez, aproveita-se, com galanteios, de Frances Stevens (Grace Kelly) usando as joias da mãe da moça como isca para a captura do verdadeiro ladrão. Não é segredo nenhum que no meio dessa trama rolará um romance entre os dois. Numa tentativa de mesclar um clima policial cheio de dúvidas sobre um relacionamento que se exalta à medida que sua narração se eleva, favorece um clima insinuante entre os protagonistas, trazendo também um show de imagens das estradas locais e a beleza da musa de Alfred.
Grant, que posa como o herói do diretor, apresenta-se com o charme tradicional, fazendo um personagem bastante curioso, graças as suas ações que mantiveram a ele a fama, até aceitável, de ladrão aposentado. Várias cenas promovem diversão: destaque para a qual a personagem de Grace Kelly está na direção de um veículo acelerando-o agressivamente, horrorizando o já não tão corajoso John Robie.
É uma brincadeira que esfria o romance, atiçando dúvidas sobre as intrigas recreativas do casal que não deixa espaços para suspeitas do que poderá lhes acontecer. Coincidentemente, foram naquelas estradas que, em 1982, Grace Kelly sofreu o acidende que lhe tirou a vida. Tecnicamente exuberante, marcado pela fotografia de Robert Burks, que lhe rendeu a premiação do Oscar, explora as cenas de perseguições sobre os telhados das casas onde os bandidos caminham como gatos (daí a origem do apelido) a fim de encontrarem oportunidades para adentrar nos quartos luxuosos de mulheres ricas levando embora suas joias.
A Riviera Francesa é famosa por receber milionários e de fato era costume das mulheres na década de 50 exibirem adornos valiosos nas mansões e bailes dali. Hitchcock nos apresenta uma obra tenaz, cheia de desenvolturas, com um roteiro bem amarrado as suas pretensões, porém, amaldiçoada por ter que ver o cinema ser abandonado por sua estrela. O diretor consegue fazer a diferença de padrões em seus filmes serem modestamente ignorados pois mesmo que o romance aqui predomine, há cenas eletrizantes e singulares o bastante para agradar aqueles adeptos ao seu climão de suspense tradicionalmente concebidos em suas mais importantes obras.
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