Filme noir? Talvez na aparência, mas falta-lhe de essência. Uma história de vingança? Talvez em certo momento. Mas não seria melhor vê-lo como uma história sobre a perda das ilusões?
Muriel (Ariane Ascaride), François (Jean-Pierre Darroussin) e René (Gérard Meylan) quando jovens se assemelhavam a Robin Hood. Roubavam dos ricos e distribuíam a pilhagem entre os pobres habitantes de Marseille. O tempo passa e os ideais se arrefecem. Encontramos eles todos mudados, física e moralmente.
Muriel possui uma pequena loja onde vive de vender sapatos e perfumes, François repara embarcações pequenas e René vive da exploração da prostituição e de máquinas de pôquer. Eles formaram na sua juventude um trio inseparável e movido pelos mesmos ideais. Não sabemos o que os afastou. Quando Muriel tem seu filho raptado apela aos antigos companheiros, já que além de não possuir a quantia solicitada, necessita também de apoio.
Ao enfrentarem esse inimigo que se esconde nas sombras, surge paulatinamente a superfície as limitações da idade que avança inexoravelmente, os rancores guardados e os erros cometidos.
O que mais me surpreendeu no filme foi a maneira mais próxima da realidade com que a violência é tratada. Os tiros surgem, mas não exagerados como nos filmes policiais americanos. Os momentos de violência não são gratuitos. Tem uma razão de ser.
François é um homem que possui uma esposa que o ama e duas filhas. Apesar de viver numa aparente tranqüilidade, está inconformado. Receia a velhice, deseja retomar os tempos de outrora. Crê-se ainda desejado por Muriel. É o personagem mais cativante do filme, e também aquele que mais desperta piedade – Um velho adolescente que mergulha novamente nos prazeres da violência, esperando encontrar assim a juventude que se foi. René é o seu oposto. Tudo o descreve como o ser mais frio e distante. É alguém que se acomodou a vida, perdendo aquele desejo de transformar a realidade em algo melhor. Arrumou um cantinho e nele permaneceu usufruindo de uma realidade que outrora possivelmente o enojava (entre outras coisas é um cafetão de uma jovem mulher). Quanto a Muriel, ela em si não é digna de pena. Começa a compreender que está colhendo os frutos que plantou. Seu personagem é o de alguém que morreu antes de parar de viver (quem a colocou nessa situação, sente prazer com isso e deseja que ela continue agonizando. Eis o motivo pelo qual o socorro médico é chamado).
Em suma: A França nos traz um filme que possui o arcabouço do “noir”, mas que passeia pelo existencialismo de um Bergman. Sem a substância do primeiro, nem a profundidade do segundo. Não é um filme decepcionante no seu todo. Só que não cumpre tudo o que prometera.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário