Aqui está uma película magnífica. Aqui está uma crítica que tentará falar de suas (muitas) qualidades.
Alex DeLarge (Malcolm McDowell), um jovem líder de uma gangue de deliquentes que passam o dia estuprando, roubando, espancando ou realizando qualquer ato de violência. Descrição perfeita para os atuais agressores homófobicos ou criminosos do gênero? Pois é... Mas o filme é de 1972 mostrando exatamente uma visão futurista do nosso planeta que, em parte, aparentemente, está absolutamente correta.
Mas, se nossa sociedade não é realmente a bagunça retratada visualmente, não seria ela essa bagunça, mas, internamente? Uma sociedade alienada em que a violência, a corrupção, a intolerância e a desigualdade reinam escondida sob uma capa de desenvolvimento econômico e globalização não é uma bagunça?
E, é por essa discussão representada pela violência praticada por Alex, sua redenção e, finalmente, seu sofrimento após o período de reabilitação; que Laranja Mecânica é tão magnífico. O fato de ele sofrer após ser solto a mesma maldade que causou pelas mãos dos anteriormente agredidos, demonstra esse propósito maior da obra.
A crueldade e desimportância com a vida do próximo que Alex teve com suas vítimas retornam para ele, mesmo após já ter pago legalmente por isso. Ali vemos que maldade gera maldade, paga exatamente na mesma moeda. Ou seja, todos nós temos essa maldade dentro de nós pronta para florescer contra quem nos faz sofrer. E, para isso, temos um exemplo histórico: após o fim da Primeira Guerra, as humilhantes resoluções fizeram aparecer um exacerbado sentimento nacionalista que levou Hitler ao poder e, bem, deu no que deu... Se por maldade e interesses próprios, os vencedores não tivessem sido tão gananciosos, talvez o sofrimento causado pelo nazismo tivesse sido evitado.
Tudo nesse filme é extremo, a violência, o tratamento de recuperação (terrível, no bom sentido, por sinal), a politicagem do Ministro do Interior... Toda a podridão do sistema bem retradada em uma única história, bem roteirizada, bem interpretada, bem dirigida, com uma bela trilha sonora e uma mensagem fantástica, com a qual só Kubrick só poderia nos brindar.
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