O filme de Kubrick, baseado no livro homônimo do inglês Anthony Burgess é considerado uma das obras-primas da sétima arte, assim como o livro é considerado um dos clássicos da literatura mundial.
O diretor segue a história do livro à risca ao longo do filme, posso dizer que, de todas as adaptações literárias que assisti até hoje, essa é uma das mais fiéis. É interessante citar isso, pois o próprio Kubrick, em sua primorosa obra de terror intitulada "O iluminado", este clássico de gelar o sangue (que atuação de Jack Nicholson, meu Deus!!!), faz uma adaptação que se distancia enormemente do romance de Stephen King. Divergência esta que de forma alguma vem em seu descrédito, pois em minha humilde opinião o filme supera o livro.
Mas voltando a "Laranja mecânica", umas das únicas liberdades que o diretor toma (que ao meu ver é crucial para aqueles que apenas assistiram ao filme e não leram o livro), é o fato de excluir o último capítulo do livro!!! Sim, Kubrick inclusive encerra sua imortal película com as próprias palavras que Burgess colocou na boca de Alex no penúltimo capítulo:
"Eu estava realmente curado."
Ora para os cinéfilos de plantão que também tiveram o prazer de ler o livro poderão observar que a decisão que Alex DeLarge toma neste último capítulo do livro é algo completamente fantástico e que destoa de todo o restante da história, uma reviravolta belíssima por assim dizer, que foi deixada de fora no filme.
Kubrick também faz menos uso da linguagem “Nadsat”, enquanto o livro é recheado destes “termos”, tais como “Horrorshow”, “Cancer”, “Devotchka”, “Glazi”, “Toltchok”, “Nagoi”, etc., o filme já não os apresenta em tão grande quantidade, fato certamente compreensível, pois sem dúvida o diretor não tinha a intenção de causar no espectador o profundo estranhamento com o qual Burgess certamente se deleitou em torturar os leitores de sua obra.
Outra curiosidade relaciona-se à cena em que Alex retorna à casa do escritor, após seu tratamento à base da técnica “Ludovico”, e volta a cantar a mesma canção que já havia entoado na ocasião em que despejava ali a velha ultraviolência, junto aos seus “druguis”, quando de sua primeira visita àquele “Lar”, a canção “Singing in the rain”. No livro tal não acontece, o escritor desconfia da identidade de Alex pelas palavras que deixa escapar, como quando comenta sobre o livro “Laranja mecânica” dizendo que é muito “Horrorshow” e também pronuncia a palavra “Tosco”, apelido de um dos seus antigos companheiros e que deixa o anfitrião com a pulga atrás da orelha, pois tem a sensação de que já ouviu aquela palavra em outra ocasião.
Afora estas pequenas diferenças, que sem dúvida são parte do que resulta do toque particular de Kubrick, Laranja mecânica pode ser considerada uma obra atemporal, sua história ainda nos impacta e se identifica com os dias de hoje. A trilha sonora do filme é belíssima e as atuações são dignas da exigência de um diretor do calibre de Kubrick.
Gosto de fazer uma interpretação bem particular do título do filme: A ”Laranja” seria o mundo, que nada mais é do que nós mesmos, e é “Mecânica” porque muitas vezes somos forçados ou induzidos a agir ou pensar de uma forma que não é própria de nossa identidade, assim como foi feito com Alex, pelo tratamento de choque (Técnica Ludovico) que lhe foi aplicado.
Enfim, considero esta mais uma obra imortal do Mestre Stanley Kubrick.
Malcolm Mcdowell incorpora o personagem Alex de maneira visceral é a maldade em pessoa na primeira parte do filme, e na segunda sua atuação também é eficiente mostrando seu arrependimento involuntário por causa do tratamento de choque na prisão.
Mais um ótimo filme do peculiar diretor Stanley Kubrick.
Obra-prima majestosa de Kubrick! 😉
E bela crítica,parabéns! 😁