Breves comentários:
Ainda não assisti a versão de Kubrick e conheço apenas pontos elementares da obra de Nabokov. Vi uma entrevista onde o autor diz que escreveu "Lolita" simplesmente pelo prazer da escrita, pelo desafio, sem nenhum propósito social ou mensagem moral.
Talvez por isso (segundo todas as resenhas da obra que li) o narrador tente convencer o leitor justificando seu gosto por ninfetas, como ele chama, como um sentimento natural entre duas pessoas, totalmente diferente do que um pedófilo doente ou um estuprador sentiria. A julgar pelos comentários de vários defensores do protagonista na internet, o livro deve ser eficiente nessa "provocação", conseguindo despertar empatia em algumas pessoas.
Comentei isso porque com relação ao personagem interpretado por Jeremy Irons no filme, em momento algum consegui compreender suas decisões (lembrando que empatia não quer dizer concordar com algo, mas ao menos entender seus motivos), mesmo sabendo da perda trágica que teve na juventude ou no final do filme, onde acredito que o diretor tente demonstrar que o sentimento do protagonista por Lolita não se tratava apenas de uma obsessão, mas de amor verdadeiro. Para mim, ele é o vilão incontestável da história, até pela diferença de "poder" que desequilibrava ainda mais a relação entre os dois.
Competentemente reforçado pela trilha de Morricone, o tom do longa é melancólico e quase agonizante. Apesar da história ser contada do ponto de vista de Irons - um homem fadado à destruição, tal qual as mariposas voando em direção à lamparina ou moscas presas no pegador, como o filme bem expressa visualmente -, imagino o desespero da jovem por não ter para onde fugir de tal obsessão, a não ser também ir em direção a um trágico final, como a ninfa Dafne fugindo de Apolo na Mitologia Grega (ainda que as premissas das histórias sejam completamente diferentes). Me parece que há também uma tentativa de se criar um casal inusitado, foras-da-lei, como em Terra de Ninguém ou Bonnie e Clyde, mas não sei bem se consigo comprar essa ideia.
Lyne é um diretor subestimado e que sinto falta hoje em dia. Ele nunca se escondeu de tocar em temas provocantes e causar diferentes reações na platéia. Apesar de parecerem triviais ou puramente explorações eróticas, seus filmes conseguem nos fazer pensar posteriormente e reavaliar a maneira como encaramos nossas relações na vida cotidiana (9 1/2 Semanas, Atração Fatal, Proposta Indecente e Infidelidade são outros exemplos). E embora se passe nos anos 50, Lolita continuou controverso quando lançado nos 90 e permanece ao debatermos hoje, mais de 20 anos depois.
O filme funciona comigo muito por conta desta "simplicidade" na direção de Lyne. A complexidade está nos temas e não na maneira como dirige, proporcionando muita clareza ao se comunicar com o público. Embora cometa leves "excessos" em alguns momentos - deixando um ar melodramático às vezes -, via de regra ele sabe enquadrar muito bem, escolhendo planos que valorizam a ideia que pretende passar com determinada cena. E é um ótimo diretor de atores - Irons e Swain entregam excelentes performances. Assim como acontece comigo basicamente por toda a carreira de Lyne, não acho um filme espetacular, mas mesmo assim me questiono porque levei tanto tempo para assistí-lo.
Quem quiser, pode me seguir em: https://letterboxd.com/danilocalazans/
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