Há filmes estupendos que simplesmente não ganharam merecida divulgação nem tão pouco uma dimensão satisfatória entre o grande público e que são sentenciados quase ao ostracismo e legados ao pó.
A película Longe Dela de produção canadense aborda um tema complicado de maneira profundamente comovente que é a senilidade.
A obra fílmica na realidade é mais abrangente ao trazer á luz não só a fragilidade da fase humana envolvendo modificações fisiológicas e alterações emocionais decorrentes do envelhecimento, mas também da Doença de Alzheimer que produz outros efeitos indesejáveis permeados por inúmeras perdas como cognitiva e da própria condição de viver e conviver num ambiente social construído ao longo da vida e das relações.
O casal Fiona e Grant Anderson entram num processo doloroso seguindo uma trajetória dramática da perda da intimidade, da afetividade e do laço conjugal.
A personagem Fiona ganha contornos de fragilidade ao sofrer lapsos de memória envolvendo as atividades mais corriqueiras e cotidianas culminando numa inevitável internação e o marido Grant fatalmente se abala ao ter que concretizar uma intervenção clínica.
A internação vai imprimir uma carga ainda mais carregada como fonte de sofrimento nesse contexto em que o Alzheimer vai ocasionar a desintegração da identidade de Fiona e a destruição dos laços afetivos com o marido.
Outro fator que vai agravar esse quadro é o completo esquecimento de Fiona em relação ao seu marido e a constatação de Grant que sua esposa iniciou uma relação com um personagem que já pertenceu ao passado dela, a figura de Aubrey que também se encontra internado na clínica.
O roteiro é esmerado e não incorre em erros de sentimentalismos, Grant se desestrutura num tom certo entre desespero e sutileza, o drama que se instala é retratado de maneira honrosa e cuidadosa sem cometer deslizes, banalidades e sensacionalismos.
Sabe-se que patologicamente o Alzheimer promove inexoravelmente o esfacelamento da memória, compromete a linguagem e o raciocínio num processo degenerativo e progressivo.
A temática do filme propõe demonstrar as desventuras e desenganos provocados não só na pessoa que sofre de Alzheimer como também para aqueles que estão intimamente ligados e esse indivíduo.
As atuações de Julie Christie e Gordon Pinsent são poeticamente arrebatadoras e a direção de Sarah Polley é equilibrada e segura sem deixar de despertar um olhar reflexivo diante a desconstrução e as perdas mediante a velhice, as doenças e outros elementos imponderáveis e outros questionamentos existenciais que mudam substancialmente e tragicamente o curso de uma vida.
A obra cinematográfica delineada pela diretora canadense é uma a ode ao amor e um reconhecimento doído sobre sofrimento e perda.
O filme Longe Dela é altivo enquanto proposta, honroso em sua abordagem frente a delicadeza e complexidade do tema, construído de maneira intimista e lírica tecendo um belíssimo recital abrangendo perseverança, , renúncia, cuidado, respeito e acima de tudo em atitudes, situações e sentimentos envoltos em veludo e encantos e em espinhos e desencantos.
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