"Esta é a Cidade dos Anjos, e você não tem asas."
Los Angels - Cidade Proibida é um filme sobre aparências e o que elas escondem. O monólogo em off do personagem de Danny DeVito logo na abertura do filme, falando sobre a "cidade dos anjos", então, poderia também se referir aos personagens do filme de Curtis Hanson ou mesmo a trama adaptada de James Elroy pelo cineasta e por Brian Helgeland. O grande atrativo da produção é justamente descobrir as camadas escondidas que vão se revelando com o avançar das cenas, a transformação das figuras que habitam aquele universo onde qualquer um pode ser uma estrela ou uma prostituta, um policial ou criminoso, e que jamais parecem se prender a conceitos simplistas como "bom" e "mau", já que todos parecem ter ambos dentro de si, como um bom e velho tei-gi.
Como representante do cinema noir que é, Los Angeles - Cidade Proibida possui uma daquelas tramas das quais é difícil falar sem apelar para um resumo simplista e expositivamente desnecessário, mas basta dizer que traz três policiais bastante diferentes de si investigando o que parece ser uma intrincada rede de assassinatos e prostituição na cidade do letreiro de Hollywood. Ou seja, sabemos que haverão homens durões, mulheres fatais que podem ser tão ou mais perigosas que os homens justamente por serem mulheres, reviravoltas na trama que deixam claro que as aparências comentadas antes devem ser sempre investigadas mais a fundo e, claro, aquela atmosfera opressiva, que parece deixar claro que mesmo quando as coisas acabam "bem", elas ainda não serão ideais.
Aí que os três policiais principais parecem clichês sobre os quais o contraste será estabelecido e norteará a trama, mas logo todos se revelam seres humanos tão complexos, tão falhos querendo acertar e se orgulharem de si mesmos, que o filme poderia ser os três interagindo entre si. O Sargento Jack Vincennes de Kevin Spacey é um ególatra que não hesita em armar prisões com o editor de uma revista de celebridades (o personagem de DeVito) para subir seu nome em Hollywood, onde trabalha como consultor técnico em um seriado de tiras. O Oficial Wendell 'Bud' White interpretado por um ainda novato Russell Crowe, é um sujeito durão, que já inicia a narrativa deixando claro que não hesita em resolver as coisas com violência física, ainda mais se precisar dar um corretivo em homens que machucam mulheres. E há o certinho Tenente Edmund Jennings Exley defendido por Guy Pearce, que parece incapaz de fazer algo fora do exigido pela lei, mesmo que isso seja fundamental para solucionar um caso importante, assim como parece sempre disposto a usar a política a favor da sua carreira na corporação. Mas esses são os clichês sobre os quais são construidos inicialmente, não quem eles são. Isso descobriremos quando eles mesmos descobrirem que vão além disso, algo que começa quando cada um lembra - ou percebe que esqueceu - a razão que os fizeram virar tiras e percebem que ainda há tempo de serem o que queriam, muito mais que um figurão, um brutamontes e um carreirista.
Aí cada peça do quebra-cabeças da trama que é encaixada e cada nova faceta da personalidade de seus protagonistas que é explorada, se torna uma nova possibilidade para Hanson brincar com os nervos do espectador que não sabe qual o próximo passo do cineasta em sua narrativa. Assim, quando, por exemplo, o personagem de Kevin Spacey é morto - e que morte, Spacey é gigante demais, só a expressão dele nessa cena vale mais que seu papel oscarizado inteiro em Os Suspeitos - e descobrimos a verdade sobre o Capitão Dudley Smith interpretado por James Cromwell, ficamos aflitos por não conseguir chegar nem perto de antecipar o desfecho do filme, o que nos faz temer que os outros personagens tenham o mesmo destino de Vincennes. E ver que esse fato é um dos que desencadeia uma dolorosa derrocada moral e pessoal por parte do personagem de Crowe (ótimo, alguns anos antes de estourar em Hollywood) em sua relação com a Lynn Bracken de Kim Basinger (bem no papel e bonita demais, mas nada que justifique a atenção que recebeu em detrimento de seus colegas de elenco, bastante superiores ao longo do filme), torna essa cena, em retrospecto, ainda maior.
Amargo mesmo ao oferecer uma espécie de redenção aos seus personagens principais, Los Angeles - Cidade Proibida não nega sua raiz no noir e, assim, chega ao fim deixando claro que essa redenção pode não significar uma real mudança naquele cenário, afinal, como podemos perceber, LA é um tabuleiro de xadrez de política e o tabuleiro de xadrez precisa de um rei - e rei morto é rei posto, já diz o ditado. Ainda assim, o que prova o talento de Hanson, queremos uma nova visita a Los Angeles - Cidade Proibida tão logo a primeira se encerra.
"Rollo Tamasi..."
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