Aparentemente um casal estável - e isso não existe - Nigel (Hugh Grant) e Fiona (Kristin Scott Thomas) entram em um cruzeiro marítimo para à Índia, lá eles conhecem um casal perturbado e misterioso, são eles a sensual Mimi (Emmanuelle Seigner) e Oscar (Peter Coyote), um cadeirante e escritor fracassado, porém rico. Mas antes mesmo do longa completar cinco minutos já vemos o primeiro sinal da instabilidade acontecer, em um jantar, um indiano fala que algo está errado se um homem precisa levar sua linda mulher a um país como a Índia para satisfaze-la. Ele (Nigel) fica encabulado, talvez sinta a realidade, talvez não tenha pensando nisso. Mas é ali que tudo começa a se desfazer de verdade.
O filme é baseado em um livro homônimo de 1981, escrito pelo filósofo e ensaísta francês Pascal Bruckner. Escritor no qual eu tive o privilégio de acompanhar em uma palestra em 23 de Outubro de 2014 na PUCRS, sobre os limites do pensamento e a infelicidade na sociedade contemporânea. Bruckner adora temas apimentados e coloca sempre o dedo na ferida, sem medo de qualquer julgamento ou o que quer que seja. E é dele a carga psicológica e os personagens densos que vemos no filme, Polanski "apenas" tratou de colocá-los em cena. Coisa que sabe fazer muito bem.
E talvez o maior feito do cineasta é a dança de Mimi para o seu marido a luz de velas, sem calcinha, com um vestido quase totalmente transparente e com muito jogo de cintura, é uma das cenas mais eróticas e inesquecíveis que eu já assisti. É de deixar qualquer marmanjo por aí babando!
Nigel (Hugh Grant em seu mais do mesmo, aqui um pouco melhor) começa a deliciar-se com as histórias que Oscar conta de seu relacionamento tempestuoso com Mimi, ele finge não querer mais ouvir, mas está sempre disposto e atento as próximas palavras - algo típico do ser humano. Chama Oscar de doente, de exibicionista, mas ele se entrega a história de peito e alma. E a cada detalhe que vai sendo revelado, o espectador também vai se deliciando com a sensualidade de Emmanuelle Seigner, com o estudo do ser humano, seus relacionamentos e seu papel na sociedade.
Nigel começa a entregar-se ao charme de Mimi, esquece sua esposa, sentimos em seus olhos e em suas palavras incertas que ele a deseja. Nem que para isso precise esquecer os 7 anos que tem com sua mulher, uma noite parece valer mais do que quase uma década de convivência. Os relacionamentos no final das contas, não significam nada. Apenas um vazio. Apenas corações quebrados. É o pessimismo comum na filmografia do cineasta, e ele em momento algum faz questão de nos poupar disso.
É uma pena que no terceiro ato o diretor francês perca-se bastante e comece a alongar as cenas e a deixar tudo menos sofisticado, quase botando todo o belo trabalho (que parece lento, mas é muito bem desenvolvido e engana os menos atentos ao ritmo) do começo por água a baixo, literalmente.
No geral, é um filme bom, mas pequeno. É cruel, mostra personagens dominados pelo amor e domina quem assiste ao filme de uma maneira cativante. Polanski quebra muito bem a ideia do amor puritano, aqui ele é sujo, carnal (a cena em que Mimi barbeia Oscar) e vingativo. Poucas vezes o amor foi mostrado de forma tão quente e tão fria, e aqui ele é divido em camadas, da mais intensa paixão ao mais cruel pesadelo.
Um belo filme para assistir com a sua namorada.
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