“Oh que dia, que lindo dia!”
Mad Max: Estrada da Fúria é uma montanha-russa. Melhor ainda, é uma montanha-russa onde o freio está estragado e o carrinho apenas desce sem parar. Esqueça os filmes anteriores, até por que o filme não é bem uma continuação ou reboot da trilogia comandada por George Miller e estrelada por Mel Gibson entre o final da década de 70 e o meio da década de 80. É um bicho totalmente novo e que faz em contraste os três filmes anteriores parecem um cineasta se preparando no quintal de casa para 30 anos depois filmar sua grande obra de verdade. Não estranhe, portanto, se você nem achar os filmes estrelados por Gibson grande coisa e sair vibrando do cinema após essa nova aventura estrelada por Tom Hardy e (principalmente) Charlize Theron.
A trama pega elementos dos filmes anteriores, adiciona outros novos na mistura e o resultado é uma narrativa sobre como o Max do título (sai Gibson, entra Hardy) se une a Imperator Furiosa (Theron), guerreira que lidera um grupo de mulheres que fugiu do harém particular do tirano Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne, que a título de curiosidade, viveu um dos vilões do primeiro Mad Max), que controla toda uma cidade do futuro pós-apocalíptico habitado pelos protagonistas, onde água é um bem raro e as coisas parecem se resolver sempre em perseguições arrasadoras pelo deserto. Mas vai por mim, mesmo que a coisa toda fosse só ação pela ação, sem história alguma, já seria um deleite conferir Estrada da Fúria na telona.
Poucas vezes nos últimos anos o cinemão de ação foi tão empolgante. E o filme não empolga em função de efeitos especiais espetaculares (apesar de, sim, serem espetaculares), é pela mão de Miller mesmo. Um cara que sabe o que faz no comando da coisa é diferente. Quando Miller coloca os personagens numa perseguição que dura praticamente 90% do filme, com sentido de ida e volta, passando por lutas com os personagens acorrentados, uma batalha em meio a maior tempestade de areia que você já viu e mesmo no simples ato de dois carros se chocando enquanto alguns caras insanos e mulheres mais insanas ainda se digladiam de maneira brutal, com ou sem armas. E se tudo isso não empolgar (porra, sérião mesmo?!), conferir isso tudo enquanto as caixas de som estouram com rock n’ roll de primeira sendo tocado por um carro com caixas de som gigantes e um guitarrista louco deve dar conta do recado.
Mas esse quarto Mad Max não é só isso. É cinema de primeira. É som, imagem e fúria (muita fúria) da maneira mais bem acabada possível. A fotografia é um arraso, seja nas cores quentes das cenas diurnas, com laranja e marrom estourando ao máximo, ou nas congelantes tomadas noturnas, onde o azul domina a parada. E se você não aplaudir uma cena que mistura ambas, banhando os ocupantes de uma parte de um veículo no calor e os de outra parte no frio, bem, não sei mais o que vai te empolgar. E há o design de produção, que cria um mundo distópico apavorante, que faz os outros filmes da franquia parecem um parque de diversões. Cada veículo ou peça de roupa aqui é um arraso e funcional. Seja o braço mecânico de Furiosa, seja um carro em que a parte de baixo foi substituída por um tanque de guerra.
E como se tudo isso não bastasse, há a coragem de um filmaço desses relegar o herói do título ao papel de coadjuvante de luxo. E não apenas um coadjuvante de luxo, mas um coadjuvante de luxo para a personagem feminina mais fodona de Hollywood desde que David Fincher filmou sua versão de Lisbeth Salander com Rooney Mara. Se você se incomoda com mulheres chutando a bunda de homens, nem vá ao cinema, por que uma bunda masculina não era chutada assim desde que Tarantino encerrou seu fantástico À Prova de Morte. O Max de Tom Hardy pode ser um personagem bacana (o choro é livre, é mais bacana que o de Gibson, sim), mas à frente dele ainda podemos colocar o insano Nux de Nicholas Hoult, que sai do lado dos bandidos para brilhar como mocinho em sua obsessão pela vida, morte e renascimento no Valhala que tanto lhe prometeram. E tudo se eclipsa, claro, quando Theron ocupa a tela. Forte, independente e com drama suficiente para sustentar um filme inteiro sozinha, sua Furiosa é daquelas coisas que acontecem raramente no cinema. O filme é dela e a atuação de Theron, seja na ação, seja nos momentos mais intimistas, quando fala sobre a redenção que busca, pode ser classificada como a melhor de sua carreira (sim, melhor que em Monster).
Os outros blockbusters do ano que corram atrás e tenham noção que a briga vai ser dura. Por enquanto, Mad Max: Estrada da Fúria está na frente e com certa vantagem.
Melhor que em 'Caminho Sem Volta', do Gray?
A parada é dura, Chicão, mas lá o Phoenix é o astro e o Wahlberg o coadjuvante de luxo. Ela não brilha sozinha.
Aqui o show é todo dela. Os outros se colidem por fora e de longe.
Eu achei legal o personagem Max ficar como um coadjuvante de luxo. Todo mundo espera ele falar alguma coisa, fazer algo, pilotar o carro ou o caminhão... Ele é aquele personagem misterioso e toda vez que aparece ele brilha, já que as melhores cenas de ação, as falas e reações dele são sempre muito legais. Mas a furiosa como protagonista ficou fodona. Filmão!!
Nossos textos ficaram bem parecidos em Pedro? haha! Vimos o mesmo filme. Belo texto!