"Vamos ver se ainda há magia nesse Mike."
O primeiro Magic Mike não era grande coisa. Queria ser transgressor ao explorar o corpo semi nu de homens sarados, mas acaba sendo um filme bem moralista e, vejam só, bastante pudico, já que a nudez fica sempre sugerida. No entanto, ao menos existia ali um Matthew McConaughey inspirado demais, tão intenso ao fim do filme me fez pensar que se a narrativa de Steven Soderbergh fosse intitulada Magic Dallas (o personagem de McConaughey), teríamos uma obra bem mais interessante para assistir. Daí que sem o ator e com uma troca de diretor (sai Soderbergh, entra Gregory Jacobs, que foi assistente de direção no primeiro filme), a continuação Magic Mike XXL parecia desenhada para desandar. Não é preciso mais de meia hora de filme para constatar que não, esse segundo filme não só não desanda como é tudo que o primeiro deveria ter sido e um pouco mais.
Se o filme anterior se perdia ao tentar unir suas intenções "radicais" com uma trama previsível ao extremo, Magic Mike XXL praticamente abandona a ideia de trama e joga seus personagens na estrada em um road movie sem grandes obstáculos a serem transpostos ou mudanças fundamentais nas vidas dos envolvidos. A palavra de ordem aqui parece ser "curtição", o que não poderia ser muito diferente já que a viagem de Mike (Channing Tatum) e seu grupo de amigos strippers - opa, "animadores", como eles preferem ser chamados -, Ken (Matt Bomer), "Big Dick" Richie (Joe Manganiello), Tito (Adam Rodriguez) e Tarzan (Kevin Nash), para uma convenção onde se apresentarão, é também a última deles nesses papéis. Dallas, que os "agenciava" os abandonou e logo cada um tocará sua vida, tal qual Mike, que há anos não se apresenta, se dedicando a administrar seu negócio de móveis, com o qual sonhava no filme anterior. Somente uma despedida memorável os interessa aqui.
Logo de cara percebemos a diferença de Magic Mike XXL para o filme anterior e para o que poderia ter sido em mãos menos capazes: Mike está há anos distante dos companheiros e é enganado para uma aproximação ser forçada. Alguns minutos depois já está na estrada para acompanhar seus amigos - depois que percebe, ao ouvir uma de suas músicas no rádio, que dançando é quando se sente vivo de verdade -, sem nenhum conflito ou persuasão. Mais pra frente um acidente ocorre na estrada? Sem problemas, arruma-se logo outro carro e vida que segue. O protagonista sugere que, como é a última apresentação, todos utilizem novas coreografias na convenção? Uma rápida discussão com todos chapados e um desafio - que rende uma das melhores cenas do filme, cortesia de Manganiello, um cheetos e uma garrafa de água - depois e tudo já está acertado. E o filme jamais perde o ritmo, te prende e te diverte até o fim seguindo essa lógica e você não consegue não se empolgar quando vê o desfecho daquilo tudo.
O grande tema do filme parece ser algo como os personagens encontrarem a si mesmos, mas isso jamais se torna algo pesado ou forçado. Tudo é motivo para diversão em Magic Mike XXL e tudo pode ser encarado pela veia do bromance entre o grupo de Mike. Assim, se Big Dick revela em dado momento que não transa há meses e lamenta que talvez jamais encontre uma esposa, já que aos trinta e poucos anos ainda parece longe disso, logo isso se torna piada e todos brincam com o fato de que seu membro avantajado é um dom e uma maldição. Assim, quando os personagens decidem abraçar a ideia da nova coreografia para a última apresentação como forma de unirem a vida no palco com o que desejam fora dele - como se apresentar de bombeiro se você tem medo do fogo ou ao som de uma música que nem gosta? Questiona Mike - e executam isso no palco, num clímax muito bem filmado por Jacobs, a sensação que fica, ao ver todos os personagens sorrindo - e se arrancar sorrisos sempre foi o objetivo dos "animadores", finalmente vê-los arrancado-os de si mesmos é simbólico - é de dever cumprido. A despedida foi memorável.
E para isso, contribui muito o elenco que, se perdeu um nome de peso em McConaughey, encontra nos outros nomes (em especial Tatum, que parece ter se encontrado depois da ótima performance em Foxcatcher, e, claro, Manganiello), muito mais a vontade nessa produção do que no filme anterior, um de seus principais triunfos. Além disso, a fotografia que Soderbergh assina com o pseudônimo Peter Andrews é muito bem trabalhada, principalmente nas cenas que envolvem apresentações dos personagens e onde se destaca aquela que se passa numa boate comandada pela personagem de Jada Pinkett Smith. Por outro lado, não dá pra não lamentar a covardia do filme em explorar um outro lado da profissão dos seus personagens principais, já que é difícil imaginar que jamais exista o interesse de homossexuais nos serviços do grupo - ao menos aqui e ali o filme coloca seus personagens em companhia de mulheres que se distanciam dos padrões "exigidos" pela sociedade, o que já é alguma coisa.
Ainda bastante inofensivo em sua nudez - basta se perguntar se você acha que um filme com mulheres nos papéis de Tatum e companhia se contentaria em exibir apenas peitos -, Magic Mike XXL ao menos é muito mais bem resolvido que seu antecessor, permitindo assim que seus personagens se divirtam ao longo da narrativa e, claro, nos divirta bastante no caminho.
Mesmo discordando da sua avaliação tão positiva do filme, reconheço que é um texto bem escrito.
Queria ter visto tantas qualidades quanto você viu hahaha
Valeu pelo elogio :)
Sobre não ter visto tantas qualidades: talvez eu tenha sido pego de surpresa pq não esperava nada do filme, vai saber hahaha
Patrick deu uma sumida, hein..