Itália, 1940, período de guerra. Os garotos da cidade de Casteculto estão entusiasmados com Malèna. Sua beleza atrai todos os homens e, consequentemente, desperta a ira das outras mulheres. Seu marido foi lutar na guerra e ela vive com seu pai, surdo e professor da escola. Dentre os meninos que passam a admirar a moça, destaca-se Renato, que se torna obcecado pela bela moça.
É chegada a informação de que o marido de Malèna faleceu na batalha, e logo ela passa a evitar (e, principalmente, ser evitada) todos, limitando ao máximo suas saídas e seus contatos. Logo surgem boatos terríveis sobre ela, envolvendo amantes e coisas do tipo. E Renato, nosso herói, ao longo do filme passa a desenvolver uma paixão platônica por ela, protegendo-a e defendendo-a de todos, ainda que ela não saiba disso.
Um dos acertos de Tornatore (mais conhecido pelo aclamado Cinema Paradiso) é colocar com a maior naturalidade o período de adolescência de um homem: os hormônios florescendo e tomando conta de seus corpos, o interesse por mulheres, seja em fotografias, ou seguindo-as cidade afora; discussões sobre tamanho do “órgão”, idealização de uma mulher (aqui representada pela personagem-título), obscenidades, etc. E se o filme começa mostrando-se cômico ao mesmo tempo que aparentemente sensual, durante o desenvolvimento da trama podemos enxergar outra visão: a de Renato, apaixonado por uma mulher mais velha, querendo seu bem acima do de todos, não suportando que os outros tratem de maneira ruim sua amada. O diretor muda o tom diante de nossos olhos, transformando Malèna em um filme tocante e singelo.
Ninguém sabe nada sobre ela, e restou rotulá-la como arrogante, ruim. O cenário criado durante o filme é completo, tornando-o um verdadeiro estudo de sociedade, memórias (afinal, Renato já é um adulto e tudo que nos é mostrado é fruto de suas lembranças), fantasias, além dos tão já citados sentimentos. Professores, alunos, médicos, padeiros, cabeleireiros, donas de casa, todas pessoas comuns, que não têm, ou pouco têm suas rotinas alteradas por causa da moça, mas é de nossa natureza meter a colher na vida alheia, não? Tudo regado por uma bela fotografia de época trilha sonora feita pelo bom e velho Morricone.
Não conhecemos a verdadeira natureza de Malèna. Somos imersos num ambiente voyeur, no ponto de vista do jovem protagonista, cabendo a nós julgar (ou não) suas atitudes, seus sentimentos. Ela é a mulher idealizada e ao mesmo tempo distante. A pessoa a qual queremos saber o que se passa com ela, quais suas companhias, suas angústias, seus medos, sua rotina. Passamos a nos preocupar menos conosco e mais com outro. Malèna é um drama sobre o amor, qualquer interpretação além dessa é estapafúrdia.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário