Em Maps to the Stars, Cronenberg entrega um trabalho estranho e assustador sobre Hollywood e o narcisismo oco da cultura das celebridades nos dias de hoje, tendo a família Weiss como foco da trama, já que carregam o brasão de "Hollywood Family" e abraça o "american way life" com orgulho, tornando ainda mais chocante os sorrisos na frente das pessoas enquanto os mais obscuros segredos são empurrados para debaixo do tapete, como fosse algo sem importância, pois nada pode apagar o brilho dessas estrelas.
A personagem mais interessante do longa é, sem sombra de dúvidas, Havana Segrand (Julianne Moore em um verdadeiro tour de force). Seu papel assemelha-se um pouco com a Norma Desmond, criada por Billy Wilder em Crepúsculo dos Deuses. Aqui reside uma mulher disposta a tudo para ser uma grande atriz, agarrando com unhas e dentes a oportunidade de aparecer no remake (ou continuação) de um filme que fez de sua mãe uma verdadeira estrela em Hollywood.
Aliás, durante sua exibição, podemos notar um mar de referências espalhados por sua obra, seja no tom satírico de O Dia do Gafanhoto (1975), na sensação de um sonho distorcido de Cidade dos Sonhos (2001) ou a doce ironia presente no desfecho de O Jogador (1992), mas que, apesar do elenco cheio de estrelas, mantém sua áurea de filme-B simplesmente intacta.
A ironia da obra fica mais visível na figura do pai, representada pelo Dr. Stafford Weiss (John Cusack finalmente voltando aos bons papéis), um psicólogo que fez fortuna com livros de autoajuda, mas que não consegue sequer resolver seus próprios problemas, seja com sua esposa (Olivia Williams, ótima) ou filhos, nada parece funcionar, porém, lá está ele dando conselhos de como melhorar nossas vidas e ganhando muita grana para isso.
É muito interessante notar como o diretor buscou referências da vida real para inserir uma maior ironia em seu trabalho. Por exemplo, Benjie Weiss (Evan Bird em performance inspirada), um astro-mirim de 13 anos que conheceu dinheiro e fama antes mesmo de alcançar uma certa maturidade e que passou constantemente por clínicas de reabilitação para conter seu vício em álcool. Impossível mesmo não fazer uma ligação com Shia LaBeouf e seu desregrado estilo de vida, que inclui fins de semana com muita bebida, drogas e confusões, sempre estampando as primeiras páginas de jornais e revistas, virando notícia no mundo todo enquanto agentes e advogados agem para amenizar as consequências de seus atos.
O filme vai muito além de uma simples sátira ao estilo de vida dos astros de Hollywood e o culto sobre eles, assemelhando-se mais a um comovente conto edipiano, abordando temas como incesto e assassinato, onde o cineasta consegue manter um senso de humor quase doentio, enquanto cria um show de horrores com criaturas aterrorizantes, mais conhecidos como seres humanos.
E isso nos leva a personagem mais complexa do filme: Agatha Weiss (Mia Wasikowska cada vez melhor em cena). Desde o início percebemos que aquela garota tem problemas, seja por seu estilo meio excêntrico, pela inexpressividade em seu olhar, por sua obsessão pelas celebridades, na relação incestuosa com seu irmão, mas que parece inocente perto de sua idolatrada musa (Havana), no inocente flerte com o charmoso Jerome Fontana (Robert Pattinson, fazendo parte das ironias de Cronenberg no filme) ou na cena final, mostrando que apesar de toda insanidade que a cerca, ela parece ser a pessoa mais inocente e sã presente nesse mundo amaldiçoado de lobos em pele de cordeiros.
A cena mais chocante, estranha, genial, irônica, bizarra e corajosa do ano é concebida por Cronenberg em Mapa para as Estrelas. Nunca uma premiação foi tão tão bem usada, subvertida e orgulhosamente destruída. É um objeto letal que pode demolir pessoas orgulhosas, egocêntricas e com caráter duvidoso, e que também podem dilacerar aqueles á sua volta - e retornarem na mesma moeda para as mesmas que esbanjam glamour - usando um falso brilho de ouro dos tolos para cobrirem seu verdadeiro eu, um mar de podridão que mais se assemelha a uma jornada sombria rumo ao inferno do que um caminho iluminado para o céu.
Obrigado pela estrelinha, pessoal. 😁