O diretor canadense David Paul Cronenberg, famoso por seus filmes sombrios e bizarros, chega aos 71 anos (praticamente um idoso) impressionando e incomodando muita gente. Não é à toa, sua imagética é poderosa e foi capaz de se reinventar ao longo de algumas décadas.
Maps to the Stars (2014) é mais um de seus filmes bem recebido pela crítica (ganhou elogios em todas as partes do mundo, foi indicado a Palma de Ouro e na mesma competição, conquistou o prêmio de melhor atuação feminina).
A trama a princípio é bem simples, possuindo muitos personagens, sendo quase todos bem desenvolvidos. Ora pela qualidade de dirigir atores do experiente Cronenberg, ora pelo peso dos atores que os representam. Temos Jerome Fontana (Robert Pattinson, na interpretação mais fraca do filme), um motorista de limousine que pretende tornar-se ator; a vulgar e enlouquecida Havana Segrand (Julianne Moore); e a família Weiss, que tem Stafford (John Cusack) como patriarca; Cristina Weiss (Olivia Williams), mãe e administradora do astro mirim de TV Benjie (Evan Bird), um garoto que aos nove anos de idade já possuía problemas com drogas - uma das mais evidentes críticas do filme ao sucesso que os jovens astros são expostos tão cedo. Apesar de todos esses personagens, a vida de todos só mudara mesmo quando Agatha (Mia Wasikowska), chegar no distrito de Hollywood. É as atitudes dela que definem o que o destino reserva para cada um dos personagens.
Maps to the Stars pode ser dividido em duas partes, uma boa e uma ruim, na primeira (de 0 a 60 minutos), é quase uma obra-prima underground; a partir daí, o filme que possuía diálogos tão corrosivos e situações destruidoras a imagem das celebridades, parece não ter mais nada a dizer. Caindo numa espécie de própria armadilha, entrando em relações familiares repetitivas e desgastadas, não somando nada do que foi brilhantemente conseguido no que eu classifico como "primeira metade". Os fantasmas do passado, por exemplo, que perseguiam a personagem de Moore (ou melhor, que a perseguia) não fazem mais efeito depois da segunda ou terceira vez que aparecem em cena. Os efeitos especiais são horríveis, como o sangue e o fogo, por exemplo. Logo em um filme de Cronenberg, conhecido por efeitos especiais excêntricos e quase únicos. Seria uma crítica a superficialidade de Hollywood? Ou apenas um problema de orçamento? É bom citar, que todos esses problemas diminuem o impacto e a razão de ser do filme, mas não o tornam ordinário ou muito menos, um filme dispensável.
A fotografia acerta em cheio (é de Peter Suschitzky, que vem trabalhando bastante com Cronenberg já há algum tempo), é limpa e esbranquiçada, não há absolutamente nada que não possa ser visto na tela. As casas das celebridades por exemplo, passam um mal-estar. Uma grande sensação de vazio, são esteticamente diferentes, mas a fotografia e a direção de arte parecem torná-las todas iguais. Um reflexo de seus proprietários, ocos, sem razão de existir, perdidos..
Há cenas e diálogos de certa coragem por parte da direção - ou genialidade mesmo, como uma cena de nudez frontal por parte de um homem (algo ainda não muito explorado pelo cinema que conhecemos), ainda mais com o pênis em posição ereta. Ou da cena em que Benji, em alguma festa com amigos da sua idade (um rapaz e duas meninas), conversam sobre babaquices que só quem vivencia a atual juventude entende. Assuntos vazios que vão desde à escatologia ao julgamento inapropriado das outras pessoas.
E é nessas sutilezas que reside a força dos filmes do diretor, aos que esperam uma crítica avassaladora, vão precisar estar mais atentos aos detalhes. Neste que é, antes de qualquer crítica a qualquer grande empresa, um belíssimo estudo de personagens e o seu lugar na sociedade que os esmaga.
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