Não sou um grande conhecedor da carreira de David Cronenberg e tenho acompanhado apenas seus trabalhos mais recentes, em especial seus dois últimos trabalhos, ambos protagonizados por Viggo Mortensen. "Marcas da Violência", o primeiro desses dois e talvez próximos trabalhos da dupla, é um projeto de extrema importância para a carreira da dupla.
Cronenberg realiza um trabalho diferente dos que ele estava acostumado e consegue um excelente resultado. Em nenhum momento, entretanto, sua capacidade criativa demonstra estar abandonada, mas ele soube incorporar outros importantes elementos em "Marcas da Violência" e, posteriormente, em "Senhores do Crime".
O sangue, as cenas fortes e outras de suas características estão presentes de forma mais sutil e sem a sua excentricidade excessiva. O roteiro de "Marcas da Violência" exigia mais realismo e verossimilhança e, esse que é um dos poucos trabalhos de Cronenberg na direção de um filme sem um roteiro seu, foi um exemplo de filme que ajuda o diretor a buscar novos caminhos do que ele já estava acostumado a trilhar.
Viggo Mortensen, que já vinha em uma carreira de ator em ascendência, apresentou uma boa atuação, conseguindo mostrar bem o pacato Tom que por trás esconde o agressivo Joey. Além de Cronenberg e Mortensen, "Marcas da Violência" proporcionou grandes personagens a atores já consagrados e a outros que ainda não chegaram a esse patamar.
Atores como Ed Harris e William Hurt têm pouco tempo em tela, mas em nenhum momento desperdiçam personagens e situações inesquecíveis. É de Maria Bello, entretanto, a melhor atuação do filme. Ela que ainda não tinha tido grandes atuações, mostra que a culpa disso muitas vezes é a falta de um bom papel em um bom projeto. Aqui, ela constrói uma personagem verossímil ao criar uma mulher cujo nariz escorre quando chora e cuja pele apresenta hematomas após uma relação sexual cheia de ódio em uma escada.
Como já foi dito, Cronenberg não abandona completamente suas características e realiza seqüências de tirar o fôlego, em especial a cena da relação sexual citada acima, além de cenas de luta bem planejadas e filmadas. Há de se destacar também a trilha sonora de Howard Shore, em especial na seqüência inicial que "mostra" um crime de dois bandidos que posteriormente são mortos por Tom em legítima defesa e que causa profundas mudanças em sua vida, obrigando-o a ter que conviver com o passado que ele tanto se esforçou para deixar para trás.
O roteiro, entretanto, apresenta alguns clichês, como os conflitos que o filho de Tom sofre na escola e a sequência do pesadelo da filha de Tom mostrado logo após a sequência onde os bandidos se caminham para realizar assaltos em outra cidade. Felizmente, esses tropeços habituais não conseguem reduzir a importância de Marcas da Violência para a carreira dos envolvidos no projeto e para a interessante discussão sobre o que define quem somos de fato: reflexos do que fizemos no passado ou do que fazemos no presente. Não espere, no entanto, repostas fáceis ou mastigadas.
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